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“Não recebi nem condolências”, diz mãe de treinador mineiro morto por Covid-19 no Acre

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Raimari Cardoso

O treinador de futebol Radson Junior, contratado pelo time do Plácido de Castro para comandar a equipe no Campeonato Acreano de 2021, morreu no dia em que completava 36 anos de idade, 27 de março passado, após contrair Covid-19 e ser internado no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into/Ac), em Rio Branco.


Três meses após a morte do profissional, a mãe dele, Maria Auxiliadora Junior, de 60 anos, que mora em Montes Claro (MG) lamenta não ter podido se deslocar ao Acre para o enterro do filho, que está sepultado no jazigo L18 da quadra 303 do cemitério Morada da Paz, e reclama não ter recebido nenhum tipo de apoio da direção do clube acreano.


Dona Dora relatou ao ac24horas que após a morte de Radson, os dirigentes do Plácido de Castro e o empresário e investidor Juan Cruz, que foi quem trouxe o treinador ao Acre, não falaram mais com ela, que ficou sem ter informações a respeito da relação que ele tinha com o clube e se ele morreu com direitos a receber.


“Não recebi nenhum tipo de apoio. Quando ele foi transferido para Rio Branco, o presidente do time, que é médico, disse que ele ia apenas fazer uma tomografia e que ia voltar, mas quando ele chegou lá já foi entubado. Depois que ele morreu, ninguém falou mais comigo. Enviei muitas mensagens, mas nenhuma teve resposta”, diz dona Dora.


Antes de vir para o Acre, trazido pelo empresário e investidor Juan Cruz, Radson morava em Londrina (PR) com a esposa e um enteado. De acordo com a mãe, ele saiu de casa aos 16 anos para lutar pela vida, sempre em atividades ligadas com o futebol. Ele era o mais velho de dois filhos homens que dona Dora teve.



“Eu não pude me despedir do meu filho porque não tinha condições financeiras de viajar. Considero que houve comigo muita falta de consideração, pois até hoje nem condolências eu recebi. Nem uma mensagem, nada. É como se tivessem enterrado um animal. É isso o que me faz sofrer mais”, ela diz.


A reportagem apurou que Juan Cruz, o empresário e investidor que iria assumir o futebol do clube na temporada, era amigo de Radson e que foi ele quem pagou as despesas do enterro do treinador em Rio Branco. O ac24horas tentou entrar em contato com ele, mas os dois números telefônicos que seriam dele estão respondendo como indisponíveis.


O presidente do Plácido de Castro, o médico Renato Garcia, atendeu à reportagem e disse que conversou com a mãe e com a esposa do treinador após a sua morte e que explicou a elas a situação que ele tinha com o clube. Segundo ele, não existia vínculo contratual entre Radson e o time, mas apenas entre o profissional e o empresário Juan Cruz.


“Não havia vínculo direto com o clube e isso foi explicado à mãe e à esposa. Sobre possíveis direitos trabalhistas, o assunto é de responsabilidade do empresário, que foi quem trouxe o Radson e alguns jogadores, e era quem iria assumir o futebol do clube no decorrer da temporada”, explicou.


Sobre as queixas de dona Dora, de que o clube não lhe prestou apoio, ele disse que tudo o que estava ao alcance foi feito pelo treinador, mas que ele morreu em razão de uma fatalidade e que nos contatos que manteve com a mãe, ela exigia “porquês” os quais o dirigente afirma não possuir respostas.


“Foi uma fatalidade, muita gente morreu, não existem ‘porquês’. É a realidade da pandemia a que todos nós ficamos expostos. Eu, inclusive, tive Covid-19, próximo ao período em que o Radson morreu e tive que ficar 14 dias isolado. Compreendo a dor da mãe e da esposa, mas o que estava ao nosso alcance fizemos”, garantiu.


O ac24horas também conversou com a esposa de Radson, Sabrina, com quem ele vivia a cerca de 6 anos. Ela diz que nunca teve acesso a nenhum tipo de documentação sobre a relação de trabalho do treinador com o clube, mas acredita que a responsabilidade sobre essa questão seja tanto do empresário quanto do clube.



Sabrina também diz que Juan Cruz “sumiu” após a morte do treinador e que ele nunca falou a ela da gravidade da situação do marido. Ela permaneceu em Londrina quando ele veio ao Acre para dirigir o Plácido de Castro e afirma que só teve noção do estado de saúde dele quando foi transferido para Rio Branco e entubado no Into.


“Sempre nos foi passado que ele estava bem, não tínhamos noção da gravidade até ele ir para a capital e ser entubado, mas já era tarde. Estamos sofrendo muito com tudo isso. Nem conseguimos trazer ele para cá. Ele podia ter tido uma chance. Ele estava fazendo o melhor pelo clube”, disse.


A esposa ressaltou à reportagem que o intuito maior da família não é relacionado à questão financeira, mas ao translado dos restos mortais para a terra natal do marido. Ela entende que tanto o empresário quanto o clube têm responsabilidades quanto a isso.


“Eles induziram o Radson a sair de perto da família para ir ao Acre em um momento em que a gente não sabia que a situação no estado estava tão grave. Então, ele ficou nessa situação, desamparado, sem que pudéssemos fazer nada para ajudá-lo”, desabafou.


Quando foi contaminado pelo novo coronavírus, havia dois meses que Radson Junior desembarcara no Acre para assumir o comando do Plácido de Castro, chamado no estado de “Tigre do Abunã”. Ele não chegou a dirigir a equipe em uma partida oficial, pois o futebol foi logo paralisado em decorrência da pandemia. Em 2020, ele havia trabalhado no time do Cascavel, no Paraná.


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Raimari Cardoso

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