Trinta meses após a posse de Jair Bolsonaro ainda continuo me perguntando o que o povo enxergou nele para escolhê-lo como a novidade na política brasileira. Ou como chamam os entendidos, o outsider –– a classificação política de um sujeito que é considerado fora dos esquemas, não é influenciado por grupos tradicionais e é despido de vícios condenáveis. Um puritano perdido no meio da multidão de pecadores.
Em palavras mais simples: é o “diferentão” do qual poucos conhecem seus defeitos e muitos espalham suas supostas qualidades.
Nessa levada, se distraem com a beleza da casca sem se importar com a podridão do miolo.
Bem antes da tentativa de assassinato do então candidato em Juiz de Fora, eu já alertava a amigos próximos que o desejo de vingança aos desmandos do PT teria um preço elevadíssimo.
De certa forma a tentativa de homicídio deu ao candidato Bolsonaro duas variáveis que ele não tinha: tempo de exposição na TV e a justificativa de não participar de debates. Seus 10 segundos de horário eleitoral se transformaram em 24 horas de exposição.
E mais: qual dos concorrentes ousaria questionar alguém que agonizava entre a vida e a morte num leito de UTI?
O ódio substituiu o debate e foi capaz de cegar parcela significativa do eleitorado. O povo não queria eleger um presidente. O desejo indisfarçável era apenas destruir o PT.
O tempo está se encarregando de provar que a vingança não é a melhor maneira para se definir um voto e que a esperança falsa é pior que o pesadelo.
O país vai de mal a pior. Experimentamos o maior processo de desindustrialização. A competitividade internacional dos nossos produtos definhou assustadoramente.
O único segmento da economia nacional que vai bem, ao ponto de carregar o Brasil nas costas, é o agronegócio. Como depende exclusivamente do clima, do câmbio e da demanda internacional, e esses fatores estão soprando a favor, o governo capitaliza méritos que não são seus.
No lugar de propor rumos para o desenvolvimento do país, Bolsonaro promove intrigas e balbúrdias para se retroalimentar dessa salada indigesta.
Qual é mesmo o projeto nacional do governo de Jair Bolsonaro?
Qual a obra estruturante e modernizante para a economia do país?
Desnecessário gastar mais linhas para expor o desastre do comportamento do presidente nesta pandemia.
Preste atenção que o fanático bolsonarista não olha para frente. Ele não discute outra coisa senão o pesadelo de uma possível volta de Lula. Sua discussão é com o passado.
Se o PT conseguiu transformar um deputado federal medíocre e do baixo clero na novidade da política nacional, as torpezas de Bolsonaro e sua estratégia suicida de polarizar e dividir a sociedade ressuscitou seus fantasmas favoritos, o Lula e o PT.
É muito cedo para dizer que o governo de Bolsonaro é o padrão de honestidade. O tempo é o principal aliado da corrupção. Não se descobre a roubalheira de hoje no dia seguinte. Se assim fosse, não haveria desmandos em nenhuma gestão pública. As maracutaias do PT demoraram quase uma década para vir à tona.
Essa polarização burra impede que a ignorância vislumbre algo além de Bolsonaro e Lula.
Nenhum partido quer Bolsonaro. Todos querem se aproveitar dele e das benesses do governo.
O bolsonarismo é um gueto político. Aqui no Acre, o ex-comunista Márcio Bittar insiste em levar o governador Gladson Cameli para esse cercadinho cheio de restrições, o que poderá resultar em prejuízos eleitorais na reeleição do governador.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com
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