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Indicadores de recuperação econômica não se refletem na geração de empregos no Acre

Por
Orlando Sabino

Em artigos recentes tenho destacado sinais de recuperação em alguns indicadores da economia acreana, tais como: aumento do volume de crédito, aumentos nas relações comerciais interestaduais e internacionais, melhorias no desempenho das vendas do comércio varejista dentre outros indicadores que, apesar da inflação em alta, tem repercutido favoravelmente nas finanças estaduais indicando um cenário de folga fiscal. Porém, a despeito de todo esse ambiente favorável, tudo indica que os ganhos não estão sendo distribuídos para a população. Essa constatação pode ser mensurada pelos indicadores vindos do mercado de trabalho, que apresentam sinais preocupantes. Nosso objetivo de hoje é analisar os dados do mercado de trabalho medidos pelo IBGE através das publicações da PNAD Contínua Trimestral dos primeiros trimestres de 2020 e 2021. A ideia da escolha dos períodos é justamente medir os impactos de um ano de pandemia sobre a força de trabalho acreana.



Como pode ser observado no gráfico acima, o contingente na força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas), em 2020 foi estimado em 339 mil pessoas. Observou-se que está população aumentou 7,1%, em 2021 (acréscimo de 24 mil pessoas). A taxa de participação da força de trabalho (indicador que mede o percentual de pessoas da força de trabalho na população em idade de trabalhar) foi estimada em 52,6% em 2021; um aumento de 1,3 ponto percentual frente a 2020 (51,3%). No período, a quantidade de pessoas que entraram na força de trabalho (24 mil) foi inferior àquelas que atingiram a idade de trabalhar (28 mil). A taxa de desocupação foi estimada em 16,8% em 2021, registrando variação de 3,3% ponto percentual em relação a 2020 (13,5%). Influenciado pelo número de pessoas que aumentaram a força de trabalho, o desemprego saltou de 46 mil pessoas em 2020 para 61 mil em 2021, ou seja, um aumento de 37%. Mais de 15 mil pessoas ficaram desempregadas em um ano.


De 2020 para 2021, das 24 mil que entraram no mercado de trabalho, somente 8 mil conseguiram colocação e os 16 mil estão à procura de vagas. Essa situação fica clara quando analisamos o nível da ocupação (indicador que mede o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar), ele foi estimado em 44,4% em 2020 e caiu para 43,8% em 2021.



Aumento no número de empregados no setor público

No gráfico acima, destacamos a posição na ocupação e categoria do emprego para o período analisado. O contingente de empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada (inclusive trabalhadores domésticos), apresentou um crescimento de 8,4%, crescimento de 8 mil pessoas no período. Na categoria dos trabalhadores por conta própria, formada por 94 mil pessoas, foi registrado uma pequena queda na comparação com o 2020 (96 mil). A categoria dos empregadores (9 mil pessoas) apresentou estabilidade em relação ao ano anterior. A categoria dos trabalhadores domésticos, estimada em 16 mil pessoas, apresentou uma queda de mais de 15% e no confronto com 2020 (19 mil). Finalmente, merece destaque o grupo dos empregados no setor público (inclusive servidores estatutários e militares), estimado em 73 mil pessoas, que apresentou um aumento de 21,7% frente ao primeiro trimestre de 2020 (60 mil), foram mais 13 mil novos postos ocupados, muito provavelmente para reforço na área da saúde no combate à pandemia.


No gráfico abaixo, constam os números do contingente de ocupados, segundo os grupamentos por setores, do primeiro trimestre de 2020 em relação ao primeiro trimestre de 2021, foi observado um aumento nos grupamentos: Agropecuária (7,3%, ou mais 3 mil pessoas), Construção civil (5,6%, ou mais mil pessoas) e Serviços (7,4%, ou mais 11 mil pessoas). É importante destacar que dentro do setor de serviços, o subsetor da Administração pública, (defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais) foi o grande destaque nas ocupações no período, com crescimento de 18,2% ou mais de 12 mil pessoas).  Os grupamentos que apresentaram quedas foram: a Indústria (-26,9% perda de mais de 7 mil pessoas) e o comércio (-3,3% perda de mais de 2 mil pessoas).



É importante ressaltar que, na crise, a força de trabalho em potencial aumentou mais que a população desempregada, passando de 71 para 87 mil, aí incluídos os 54 mil desalentados. A força de trabalho potencial é aquela composta pelas pessoas que gostariam de trabalhar, mas que ficaram impedidas de procurar ou de assumir postos de trabalho, seja porque não existir emprego, porque o retorno ainda não é seguro, ou porque as escolas ainda não estão totalmente abertas. Assim, somando os desempregados à força de trabalho em potencial, temos 148 mil trabalhadores subutilizados, um crescimento de 26% em um ano.


Portanto, os dados indicam que a recuperação econômica verificada em alguns setores da economia acreana não está repercutindo no mercado de trabalho. Observa-se a falta de casamento entre quem busca e quem oferece trabalho. Certamente a inflação e as medidas de combate à pandemia estão gerando mudanças no padrão de consumo e reestruturações organizacionais que mudam as oportunidades de emprego. O certo é que, até agora, a retomada econômica sozinha não está sendo capaz de trazer os empregos de volta. Vamos esperar que o avanço da vacinação traga alguma esperança para a recuperação do mercado de trabalho.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.com


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