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Com salários em queda, inflação em Rio Branco é a maior do Brasil

Por
Orlando Sabino

O IBGE publicou na semana passada que a inflação oficial no País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,83% em maio de 2021, na comparação com abril, a maior taxa para o mês desde 1996, quando atingiu 1,22%. O índice acumula alta de 3,22% no ano e de 8,06% nos últimos 12 meses. Para o Acre, medido pelo indicador de Rio Branco, a taxa foi de 0,93%, 0,10 ponto percentual (p.p.) acima da taxa do Brasil. O acumulado no ano da capital acreana ficou em 4,42% (37,3% acima da taxa Brasil), e o dos últimos 12 meses, de 11,43% (41,8% acima da taxa Brasil). Com o resultado, Rio Branco é a localidade, dentre todas as regiões metropolitanas e municípios pesquisados pelo IBGE, com a maior inflação, tanto no acumulado no ano, como nos últimos 12 meses. Nosso objetivo de hoje é desvendar quais grupos ou produtos que estão influenciando a alta dos preços na capital do Acre.


A definição mais simples de inflação é um aumento no nível geral de preços em uma economia, sustentado ao longo do tempo. É importante ressaltar duas palavras dessa definição: geral e sustentado. O geral significa que não estamos falando de um aumento de preços de apenas um bem ou serviço, mas de produtos e serviços por toda a economia. Sustentado significa que a inflação não é um aumento ocasional, mas algo mais persistente.


É importante observar que para calcular o IPCA, o IBGE coleta os preços mensalmente por grupos de produtos e serviços que visa representar o consumo típico de uma família. Os grupos são os mesmos para todas as localidades pesquisadas, mas a importância de cada grupo, é diferente para cada localidade e também muda ao longo do tempo, refletindo a porção das despesas médias de uma família que se concentra nesse grupo de produto em particular. Na tabela ao lado destacamos o peso mensal de cada grupo pesquisado para Rio Branco e para o Brasil, para o mês de maio de 2021. Nela, podemos observar que, por exemplo, o grupo de alimentação e bebidas tem peso de 21% para o índice Brasil e para Rio Branco o peso do grupo é de 23,47%. Verifica-se também, que não existe igualdade em nenhum dos grupos entre Brasil e Rio Branco.


 



Como pode ser verificado no gráfico acima, assim como no Brasil, todos os nove grupos pesquisados acumulam alta no ano em Rio Branco. Como pode ser observado, os maiores aumentos vieram dos grupos de Transportes (8,58%), Artigos de residência (5,66%) e   Alimentação e bebidas (5,01%). Nossa tarefa agora é destacar quais produtos e/ou serviços apresentaram as maiores altas de janeiro a maio de 2021, em cada um desses três grupos.


O Grupo dos Transportes (peso de 22,71%)

A grupo já cresceu 8,58% no ano, a maior influência veio da gasolina que já subiu 22,91% em 2021. Conforme o IBGE, embora o preço da gasolina tenha recuado em abril, devido em março ter havido duas reduções no preço do produto nas refinarias, no entanto, houve outros reajustes posteriormente, que acabam chegando ao consumidor final.  O segundo maior aumento do grupo veio do óleo diesel (17,19%). Finalmente, destacamos o pneu que depois de já ter crescido 17,57% no ano passado, foi o terceiro produto do grupo que mais influenciou a alta do índice, com crescimento de 12,96% de janeiro a maio. Os demais produtos com maior crescimento, constam no gráfico abaixo. 



Grupo de Artigos de Residência (peso de 4,39%)

Apesar de pouco representativo, o grupo teve o refrigerador (13,05%), Máquina de lavar roupa (12,41%) e móveis para sala (10,3%) como os 3 produtos que contribuíram para o crescimento de 5,66% no acumulado do ano. São produtos consumidos pela classe média. Os demais produtos e/ou serviços que mais contribuíram para o aumento do grupo, constam no gráfico acima.


Grupo de Alimentação e bebidas (peso de 23,47%)

Alimentação e bebidas é o grupo que mais atinge a população mais pobre e mais marginalizada. O grupo que cresceu 19,88% no ano passado, já cumula crescimento de 5,01% em 2021. No ano, o aumento de preços do grupo foi liderado pelos pescados (comandados pelo tambaqui e curimatã) com aumento de 18,16%, depois de já ter crescido 8,55% em 2020. As carnes, cujos preços cresceram 37,99% em 2020, já acumulam crescimento de 15,34% de janeiro a maio de 2021 e os incríveis 59,27% nos últimos 12 meses. Os demais produtos que mais contribuíram para o crescimento dos preços, contam no gráfico acima.


Salários em queda

Conforme o IBGE, a renda média real dos trabalhadores do Brasil cresceu 9,2%, entre 2012 e 2021. Por outro lado, a renda média dos trabalhadores acreanos caiu 15,3%. 



O quadro que vivenciamos no Acre é típico de estagflação, a produção e o emprego em declínio, combinando com uma inflação acelerada. Existe um agravo, conforme o IPEA, a alta nos preços de bens e serviços fez a inflação dos brasileiros mais pobres encerrar o mês de maio quase duas vezes maior que a dos mais ricos, principalmente aquelas com renda domiciliar inferior a R$ 1.650,50. Precisamos reagir!



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.


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