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Análise das falhas da inovação

Por
Daniel Silva

As falhas existem em decorrente de vários fatores, todos resultantes do fato de que os seres humanos são imperfeitos. Entenda-se a imperfeição como a incapacidade de compreensão completa dos fatos e fenômenos do mundo, internos e externos ao indivíduo e, consequentemente, daquilo que ele faz. Se o indivíduo conseguisse compreender todos os meandros de tudo o que provoca qualquer mínima alteração naquilo que deseja criar e conseguisse também manusear cada um desses aspectos em torno de um artefato físico, provavelmente as falhas não existiriam. E, se existissem, seriam tão pequenas que talvez ninguém as percebesse. Daí advém que todo esforço de detectação de falhas é, também, um esforço de compreensão dos mais tênues (ou óbvios) detalhes das coisas, assim como a lógica que as produz, para que possa planejar e executar seus processos de inovação. Neste sentido, este ensaio tem como objetivo mostrar que as falhas dos processos de inovação acontecem, de forma perceptível, nos produtos e seus componentes, como decorrência das falhas nos atributos, que são consequências das falhas dos processos.


Há uma entre o que o indivíduo percebe e a realidade em si. A ciência tem mostrado que a nossa percepção é apenas uma versão da realidade, de modo que tudo o que dissermos sobre as coisas que vemos é sempre uma interpretação. E toda interpretação é, como consequência, uma alteração da realidade. Quando interpretamos diversas vezes o mesmo fato, por exemplo, produzimos, para cada interpretação, um quadro diferente. É como se ninguém conseguisse ver a mesma coisa do mesmo jeito duas vezes. A partir da segunda vez, acrescentamos e/ou retiramos detalhes do cenário descrito anteriormente, como um esforço que a mente faz para reproduzir com mais fidelidade a realidade. Mas, infelizmente, cada esforço de cada tentativa é sempre uma reinterpretação, sempre diferente.


Essa impossibilidade alcança todos os meandros da vida humana individual ou associada. E, por essa razão, não poderia ser diferente no interior das organizações e muito menos nos esforços de inovação tecnológica. Quem disse que o cientista tem mais capacidade mental que o engenheiro que labuta nas linhas de produção de produtos padronizados? Ainda que as falhas sejam naturais, no sentido de que são decorrentes da normalidade do funcionamento metabólico e fisiológico humano, empreendemos estratégias para que elas sejam reduzidas ao mínimo aceitáveis. Isso não quer dizer, por extensão, que haja um produto ou inovação sem falha alguma. Todos os produtos apresentam falhas.


Quando se diz que um produto apresenta zero defeitos, está-se referindo àquelas falhas que não comprometem os seus atributos. E, por não comprometerem os seus atributos, os benefícios (medidos através de indicadores de desempenho) que o produto e a inovação entregam através daqueles atributos estão garantidos. Vejamos o atributo “produto econômico” de um determinado bem, que gera os benefícios a) redução do custo com energia, b) redução do tempo de barbear, c) maior tempo de vida útil e d) menor custo de manutenção. O produto precisa apresentar desempenho satisfatório em cada um deles. Se a cor do produto sofreu alteração, digamos, de azul escuro para um azul mais claro, isso é, de fato, uma falha, dependendo do olhar, principalmente o do cliente. Mas essa falha não compromete o atributo “produto econômico” do produto, uma vez que os benefícios vinculados a esse atributo continuam sendo entregues.


No caso das inovações tecnológicas, os atributos só são passíveis de serem de fato descritos, assim como os benefícios que vão gerar aos seus usuários, depois que a etapa foi validada. Essa constatação coloca os esforços de busca por falhas no mesmo plano dos processos de produção de produtos massificados. Na prática, isso significa que, depois de validada a etapa, esforços deverão recair sobre ela em busca de falhas. E esses esforços se fazem justamente pela análise dos atributos, primeiro dos componentes e depois dos produtos e culmina com a análise dos subprocessos e processo global de inovação. O que se pretende, com esse tipo de interpretação, é mostrar que as atividades de ações corretivas têm nas etapas de análise das falhas um instrumento fundamental para as melhorias continuadas dos atributos e benefícios que toda inovação traz.


Existem muitas ferramentas capazes de auxiliar nos empreendimentos de detectação de falhas. Contudo, quase todas elas confirmam o fato de que seis são as causas motrizes e geradoras das falhas nos processos produtivos, e de inovação: mão de obra, medida, método, matéria-prima, meio ambiente e máquinas/equipamentos. Mas, como também se pode perceber, para que se identifique o foco da falha, é necessário, evidentemente, identificar antes o atributo falho ou passível de falhar. Da mesma forma, a ciência provém uma série de ferramentas especiais para a identificação de falhas, como mostraremos aqui. A razão desse procedimento é que os esforços de ações corretivas se fazem em dois momentos: o primeiro é a detectação das falhas, que se faz por via de processos de análises, e o segundo é a padronização, que também é feito através de um processo específico.


Um conjunto de desempenho marca um atributo, que por sua vez é garantido pela eficiência e eficácia do processo de produção dos componentes (subprocesso) e da integração deles. Há inúmeras possibilidades dessa sincronia não acontecer, ainda que os componentes estejam “perfeitos”, por exemplo. As falhas de desempenho individuais e global, assim como a dissonância entre os desempenhos atuais e os desejos dos seus usuários ou clientes são os focos das análises das falhas do processo de inovação. Em consonância, portanto, com o que foi mostrado até aqui, também na análise das falhas há as microanálises, que focam os subprocessos e processos de inovação, e as macroanálises, que se estendem por toda a cadeia de valor, tanto a montante quanto a jusante da organização que inova tecnologicamente. É preciso que isso seja evidenciado, porque muitas vezes um problema na cadeia de valor interfere no processo de inovação. Ter um olhar microscópico para entender a grande sinfonia macroscópica é o desafio do cientista que inova e que se esforça em melhorar continuamente a sua inovação.



Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no  ac24horas.com


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