O IBGE divulgou ontem o crescimento de 1,2% do PIB nacional no primeiro trimestre do ano. O aumento do PIB comprova o que o economista Delfim Neto, em recente artigo na Folha de São Paulo, comentando que os números recentes da economia brasileira destacam uma resiliência da economia à segunda onda da Covid-19 no Brasil e prevendo que devemos encerrar 2021 com um crescimento mais próximo a 4% do que 3%. Percentual que não recupera a queda de 4,5% do ano passado, mas revela que os programas de emprego e renda funcionaram e que o setor produtivo resistiu a um crescimento menor.
Nosso objetivo hoje é analisar o cenário da retomada no Acre, através de alguns indicadores divulgados recentemente pelo IBGE e demais fontes ligadas ao Governo Federal. Como pode ser visto abaixo, alguns números estão bem menos negativos do que se esperava em março e abril, que pode ser explicado por uma maior adaptação das empresas e dos consumidores aos efeitos da crise.
✔ Os números indicam que o comércio varejista já se recuperou da crise de 2020. A variação acumulada do volume de vendas no ano no primeiro trimestre de 2021 apresentou um crescimento de 2% e o saldo dos empregos gerados com carteira assinada no primeiro quadrimestre do ano foi positivo em 145 vagas.
✔ O setor dos Serviços ainda é o problema. A variação acumulada do volume de serviços, no primeiro trimestre do ano, ainda é negativa (-0,1%), apesar do setor ser o campeão dentre os demais, no saldo dos empregos com carteira assinada, com 1.392 vagas no quadrimestre.
✔ Os setores da indústria e da construção civil estão em recuperação. O saldo de empregos com carteira assinada gerados na indústria foi de 358 e na construção foi de 211 empregos no primeiro quadrimestre. O ICMS arrecadado pelo estado no setor secundário, cresceu 39,7% no primeiro quadrimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020.
✔ A Agropecuária foi o setor que praticamente não sentiu a crise sanitária. A expectativa é que o Valor Bruto da Produção (VBP) cresça 10,6% em 2021, com um valor estimado em mais de 2,6 bilhões de reais. Também o saldo empregos com carteira assinada foi de 20 no primeiro quadrimestre. Outra notícia a comemorar é o Acre livre de aftosa sem vacinação, notícia que se traduz em boas perspectivas para a pecuária bovina.
✔ A arrecadação de ICMS pelo estado, muito ancorada nos setores produtivos, apresentou um crescimento nominal de 25,8% no primeiro quadrimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020. Foram R$ 110 milhões a mais arrecadados.
✔ Outro indicador positivo é em relação ao comércio interestadual. Em janeiro de 2021 vendemos aos outros estados, 28 milhões a mais que em janeiro de 2020 (crescimento de 16%). Por outro lado, compramos dos outros estados, R$ 85 milhões a mais que em janeiro de 2020 (crescimento de 13%). Significando que o total do comércio interestadual (entradas mais saídas) em janeiro de 2021 foi R$ 113 milhões a mais que em janeiro de 2020 (crescimento de 13,5%), em valores nominais.
✔ Estamos em alta no comércio internacional. O Acre fechou o primeiro quadrimestre com um saldo recorde de US$ 19,302 milhões na balança comercial. No período, o saldo já supera em mais de 82% o do mesmo período de 2020.
Porém, nem todas as notícias são boas. O padrão da retomada apresenta alguns problemas no emprego (principalmente nos informais) e na inflação (principalmente no grupo dos alimentos). Portanto, as melhoras em diversos setores não estão levando a uma queda do desemprego e não estão contribuindo para reverter a tendência de aumento da desigualdade e da pobreza, representados pelo aumento dos desalentados.
No gráfico abaixo mostra o comportamento das taxas trimestrais de desemprego no Acre desde 2012 (ano que o IBGE iniciou a divulgação do indicador). Verifica-se que no primeiro trimestre de 2021, o Acre apresentou uma taxa de 16,8% (61 mil desempregados), a terceira maior de toda a série, superando em 1,4% a taxa do trimestre anterior, ficando em 2,1 pontos percentuais acima da taxa brasileira (14,7%).
Os desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar trabalho devido às condições estruturais do mercado, somaram 54 mil pessoas, sendo 8 mil pessoas que ficaram nessa condição em relação ao último trimestre de 2020. Enquanto a taxa de informalidade no Brasil foi de 39,6% no primeiro trimestre deste ano, no Acre a taxa foi de 46,5% o que equivale a 140 mil pessoas que, embora estável em relação ao trimestre anterior, estabilizou num patamar muito elevado.
A inflação é outro grande problema que está contribuindo para o aumento das desigualdades e da pobreza no Acre. A inflação de Rio Branco, medida pelo IPCA, no acumulado no ano de 2021 (janeiro a abril) é de 3,46%, variação 1,09 ponto percentual acima da variação do Brasil (2,37%). Nos gráficos abaixo evidenciamos que as variações de preços em Rio Branco, são bem superiores às variações do Brasil tanto no acumulado no ano de 2021, como no acumulado dos últimos 12 meses. Destacamos também que a inflação do grupo de alimentação e bebidas, aquela que atinge diretamente o bolso da população mais vulnerável, é muito mais elevada em Rio Branco, demonstrado a grande discrepância de preços desse grupo no Acre em relação ao restante do país.
Quais as perspectivas para o futuro e o que fazer? Em primeiro lugar avançar na vacinação para o controle da pandemia e assim, levar mais tranquilidade para os agentes econômicos (empresas, trabalhadores e governo). Será a vacinação em massa que deverá agilizar e fortalecer a recuperação emprego e suas deficiências estruturais.
Com inflação em alta, políticas públicas para enfrentar o desemprego, a fome e a miséria são fundamentais. Porém, o governo continua com dificuldades para executar os investimentos previstos e garantidos na peça orçamentária de 2021. No dia 28/5, o governo publicou no Diário Oficial seus relatórios da Lei de Responsabilidade fiscal. Nos quatro primeiros meses do ano, dos R$ 766 milhões disponíveis para investimentos conseguiu executar somente R$ 26 milhões, pouco mais de 3,4% do disponível, o que convenhamos, é muito pouco para enfrentar uma crise no emprego.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.
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