Todo empreendimento humano, paradoxalmente, está fadado ao fracasso e à melhoria contínua. O fracasso está alinhado à segunda lei da termordinâmica, resultado dos processos entrópicos, enquanto a melhoria contínua representa a aplicação da inteligência à vontade de superação aos resultados dos esforços humanos. O fracasso, portanto, é apenas referencial, no sentido de que um resultado superior sempre é possível, ainda que no tempo certo e nas condições específicas. No caso das inovações, cada sucesso representa adequação entre os resultados alcançados e os benefícios obtidos por eles, tanto no teste dos produtos e componentes quanto na entrega de valor aos clientes e usuários finais. É dentro desse contexto que as ações corretivas precisam ser compreendidas e interpretadas. Elas são necessárias para que os benefícios gerados pelos resultados possam acompanhar a evolução e a mudança nas necessidades humanas. E isso é feito a partir das correções praticadas em dois âmbitos: análise e padronização.
Quando falamos em análise em ações corretivas estamos nos referindo à avaliação de três variáveis em dois objetos. As variáveis são o desempenho, os atributos e os processos. Os objetos são a inovação final e os componentes. Disso resultam seis análises para que possam ser identificadas falhas e serem feitas as correções necessárias: análise do desempenho da inovação e do desempenho dos seus componentes, análise dos atributos da inovação e dos atributos dos seus componentes e análise do processo global da inovação e do processo dos seus componentes.
A análise da primeira variável se concentra sobre os resultados que a inovação e seus componentes devem apresentar. Os resultados de cada etapa do processo de produção de cada componente precisam ser garantidos, em formato de teste-reteste, para que a etapa seguinte possa ser replanejada e executada. Os valores de cada componente é que farão a convergência para a configuração dos valores que a inovação proporcionará aos seus usuários e clientes. Assim, todo componente precisa garantir os resultados esperados para que os benefícios pretendidos possam se materializar.
A segunda variável é os atributos que cada componente precisa apresentar, em conformidade com o seu plano de produção. Na verdade, o plano de produção do componente é um desafio de incorporação de conhecimentos em algum artefato físico para que produza os resultados pretendidos a partir de determinadas características específicas, que são os chamados atributos. Se o componente precisa ser leve e de grande resistência a impactos, leveza e resistência serão dois de seus atributos avaliados que precisam ser garantidos ao final e ao longo de seu processo de produção.
A terceira variável é a quantidade de etapas do processo de inovação. Quanto mais etapas, a probabilidade é que a inovação demore mais para ser produzida e seus custos também sejam mais elevados do que um processo mais curto. Por outro lado, processos mais curtos podem representar mais riscos de falhas e acidentes, por exemplo. É preciso, portanto, estabelecer empiricamente, através de esforços de testes-retestes, o número adequado de etapas do processo de produção de cada componente e, por extensão, da inovação.
Nota-se que o primeiro objeto de preocupação das análises são os componentes da inovação. De fato, ela representa a convergência dos diferentes esforços de produzir cada componente para que se possa materializar. Mas seria muito temeroso e arriscado fazer o teste da inovação apenas quando todos os componentes estivessem prontos e unificados em torno do artefato previsto. Por essa razão, recomenda-se que seja feito teste não apenas para aferir os resultados e atributos de cada componente, mas também em cada etapa finalizada do processo de produção de cada um desses componentes. Tem-se, então, avaliação de cada etapa da produção do componente, avaliação do componente e avaliação da inovação.
Não há avaliação sem sua contrapartida, a padronização. Padronizar significa apontar o alvo do resultado desejado, assim como os seus limites superiores e inferiores. O desafio de toda equipe de inovação é sempre acertar o alvo. Isso se faz através da “fuga” dos extremos limitadores. Por exemplo, se o diâmetro de uma rosca é de 0,5 mm, o limite superior for 0,7 mm e o inferior, 0,4 mm, significa que, se a rosca for maior que o limite superior, ficará frouxa no artefato no qual deverá se encaixar e se for menor que o limite inferior, o artefato não poderá nela se encaixar.
Evidentemente que não apenas resultados, atributos e quantidade de etapas de processos poderão ser avaliados e padronizados. Inúmeros outros aspectos do processo de inovação carecem e deverão ser foco desse esforço de ações corretivas. Dentre os outros aspectos podem ser relevantes a qualidade da tecnologia e de determinados materiais, riscos e acidentes, custos de produção e operação, consumo de energia e outros insumos e assim por diante. Um critério que precisa ser utilizado para a escolha do foco da ação corretiva é sempre a agregação de valor para a inovação e seus componentes. Quanto mais agregar valor, maior a sua importância para ser um foco de ação corretiva e melhoria contínua.
Nesta parte mostraremos que o esforço de detectação de necessidades de inovação, na realidade, não termina. Com as ações corretivas novos esforços de planejamento são realizados para que sua execução ocorra sem grandes atropelos, especialmente se comparando com as incertezas que acontecem quando da execução do primeiro plano de produção da inovação. Com as ações corretivas, contudo, tanto a execução quanto o monitoramento ficam facilitados porque serão feitos a partir de um protocolo de produção já validado e que agora faz parte da determinação de aperfeiçoá-lo constantemente. E, para isso, é preciso que haja a capacidade de detectação de falhas, principalmente antes que elas aconteçam.
Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve no ac24horas todas às sextas-feiras
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