Por Rodrigo Pires
Sou um grande admirador do trabalho de Sebastião Salgado, tenho alguns livros, autógrafo e quadros originais. Mas é preciso discordar de um dos maiores fotógrafos do mundo. A fotografia é o reflexo do instante, e isso é mágico. Quando se posiciona indígenas em poses e vestes que chamam a atenção de olhares curiosos do exterior, isso é um ensaio, não é tão real.
Sou igualmente um grande admirador da cultura indígena, andei por diversas aldeias e, de alguns desenhos que recebi, resolvi tatuar um em lugar visível, pois tenho antepassados indígenas. Já vi aldeias com problemas de lixo, ajudei o professor Claudemir Mesquita em um projeto sobre essa questão e fizemos um livro para educar as crianças. Soube da questão do choque de religiões, igrejas evangélicas que, por meio de projetos de assistência social, estão evangelizando os indígenas. Tudo isso em área sem estradas, de acesso somente por barco.
Sebastião Salgado critica ferozmente a construção de uma estrada que ligaria o Acre ao Peru pela Serra do Divisor. Chico Mendes e Marina Silva também faziam essas críticas nos embates pela construção da BR-364, a mesma que hoje leva alimentos, medicamentos e combustíveis de Rio Branco para Cruzeiro do Sul. Parte das doses que vacinou a população indígena foi transportada por essas estradas no Acre.
O desenvolvimento muda a realidade de todos. Leva progresso. Sebastião Salgado nunca se interessou por um ensaio sobre as facções que vivem ao redor da floresta, oriundas do narcotráfico que se aproveita das fronteiras e do difícil acesso para a polícia. Muito dos parques ambientais e devido as nossas fronteiras, são usados como rota e exploração de madeira ilegal, pois as pessoas desses lugares tem necessidades e, infelizmente, são alvos desse mercado. O indígena não quer viver como um retrato na parede ou objeto para ser explorado, ele deseja plantar, fazer um roçado, vender artesanato, receber turistas, se desenvolver. E não me refiro aos isolados, me refiro à comunidade indígena na sua maioria, como também os ribeirinhos.
A estrada é um caminho para evolução, e não para a extinção. O capital financeiro pode entrar de dois modos em uma sociedade, lícito e ilícito, e hoje como é vivido o ambientalismo na Amazônia Ocidental, essa narrativa que acompanhamos há 20 anos só é um impulsionamento para o aumento da criminalidade e da pobreza. O que me incomoda muito é que os maiores defensores da Amazônia sequer têm a coragem de viver aqui. Aqui é lugar de exploração, montagem para a exibição ao público e patrocinadores que desejam o exótico. E para essa indústria continuar, quem vive disso não tem problema nenhum em fazer turismo social com a pobreza do Acre. Isso é de um egoísmo desumano.
Mesmo sendo admirador da pessoa do fotógrafo, é preciso começar a enfrentar com argumentos aqueles que usam a cortina de fumaça da Amazônia para preservar seus próprios interesses. Não vemos por aqui ajuda dos bancos, mineradoras e petrolíferas que patrocinam as expedições do grande fotógrafo. Existem milhares de jovens querendo emprego aqui, o Brasil precisa saber disso.
Mostre essa realidade, Sebastião Salgado. Seria uma obra única para seu legado.
Rodrigo Pires
Empresário e Fundador do Fórum Acre 2050
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