Mesmo diante de tantas evidências, ainda me recuso a acreditar que o senador Márcio Bittar tenha tido a coragem de carrear R$ 50 milhões para um município de Goiás e para o estado do Ceará.
Caso o senador não desminta com provas documentais o escândalo revelado pela revista Crusoé e pelo jornal O Estadão de S. Paulo, seu gesto equivalerá ao destemor de mamar em onça ou a um bufete na cara do povo acreano.
Até agora os esclarecimentos dele foram contraditórios e patéticos.
Em política é assim: cada um trata de cuidar dos seus redutos eleitorais.
Nunca se viu ou se verá um político paulista, carioca ou gaúcho mover uma palha para liberar verba pública para o Acre ou qualquer local diferente daquele onde são votados.
Apesar do deslumbramento com a função de relator do Orçamento da União, a ponto de falar em todas as entrevistas que a liberação de recursos depende do chamegão dele; e, também, com o acesso livre à cozinha do presidente, Bittar não deve esquecer que esse suposto prestígio deveria ser usado em benefício do Estado que o elegeu, o Acre, em que pese ter caráter nacional a representatividade de qualquer senador.
Vale ressaltar que, segundo a revista reveladora do fato, a liberação de R$ 20 milhões para a prefeitura de Gameleira de Goiás tem vários indícios de coisas erradas: o prefeito se contradisse quanto ao relacionamento com o senador do Acre e as obras não foram executadas.
É como se, num estalar de dedos, um parlamentar de Rondônia acordasse de bom humor e, do nada, decidisse: “vou já destinar R$ 20 milhões para Santa Rosa do Purus, no Acre”.
Apesar de ter feito carreira política no Acre, Bittar não conseguiu nesse tempo todo desenvolver uma relação interpessoal no Estado.
Ele é um cidadão que não vai a um mercado ou feira, salvo nas épocas de eleição. Esse carinho por município alheio ao Acre só reforça essa percepção muito marcante em nossa sociedade de que o Acre para ele é apenas um trampolim.
Imagine a cabeça de um eleitor ao saber que o senador está mais preocupado com Gameleira de Goiás e com o Ceará, em detrimento do bairro da Jia, em Cruzeiro do Sul; do bairro da Praia, em Tarauacá, ou do José Hassem, em Epitaciolândia.
Esse raciocínio se estende para as dificuldades dos 22 municípios acreanos. E não basta dizer que vai processar a revista tampouco acusar a “ esquerda” . Bittar tem de provar que agiu direito.
Como um dos políticos mais influentes em Brasília, Bittar não terá nenhum obstáculo para conseguir e mostrar os relatórios elaborados pelo Ministério da Integração Regional negando ser o amigo oculto que fez surpresa a outra Gameleira e para os cearenses.
Ao site Contilnet, o senador declarou que na condição de relator ele é o responsável pela destinação de emendas para todos os estados e municípios brasileiros. Isso é uma meia verdade. Ele destina recursos que são indicados pelos parlamentares desses locais.
Portanto, essa suposta liberação de R$ 50 milhões é um balde de água fria na candidatura de Márcia Espíndola, a ex-mulher do senador. Caso se confirme a denúncia da revista não faltará acreano a dizer: vá pedir voto em Gameleira ou em Quixeramobim, no Ceará.
Depois dessa lambança ficará mais difícil dizer “Eu sou muito acreano”, salvo se completar a frase com “pero no mucho”.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com
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