Uma das palavras chave do gerenciamento é racionalização, desdobramento de racionalidade. A racionalização é o processo de ajuste com a intenção de otimizar recursos e resultados, de forma que se possa gerar os resultados mais promissores com o uso mínimo de recursos. É a racionalização que provoca a eficiência, por exemplo, que é o nome dado à razão entre as saídas e as entradas de todos os sistemas. Dessa forma, quando os gestores pensam, iniciam com os resultados pretendidos e os relacionam com as entradas necessárias para gerá-los. Como os resultados são produzidos pelo consumo de recursos, quase sempre são executados a partir de um sequenciamento de etapas, de maneira que um produto é sempre a consequência do consumo de recursos – é por isso que se diz que não há almoço grátis, metaforicamente falando, uma vez que todo recurso tem um custo monetário ou financeiro, duas coisas diferentes. A racionalidade, portanto, é um princípio gerencial que diz que a otimização dos recursos precisa ser a máxima possível para que os resultados estejam em consonância com os atributos dos produtos previstos.
A mentalidade que desconhece administração imagina a racionalidade e a racionalização como enxugamento de recursos, especialmente dinheiro. De certa forma, isso é verdade, se se considerar enxugamento como sinônimo de eliminação de desperdício e do que é desnecessário. Eliminam-se desperdícios quando há aproveitamento o mais integral possível de cada recurso, e não apenas de dinheiro; e elimina-se o desnecessário quando se deixa de consumir o que não é preciso. Tanto em um quanto em outro caso, as consequências são ou o aumento ou a eliminação de etapas do processo de inovação. A razão disso é que é na execução das etapas que os recursos são consumidos. A eliminação de etapas será vista mais adiante.
Um instituto de pesquisa desenvolveu um protótipo a partir de seis linhas de produção convergente. Cada linha de produção estava voltada para a entrega de um componente do produto. O produto, portanto, era um pai com seis filhos, como se diz no jargão técnico de engenharia. Duas dessas linhas, apesar de serem as que faziam as entregas mais lentas, eram as que continham os menores índices de falhas. A lentidão dessas linhas estava causando diversos tipos de problemas na conformação do produto final, uma vez que os cientistas estavam tendo dificuldades em fazer o alinhamento, para que as etapas fizessem as entregas no momento preciso em que os componentes precisavam estar disponíveis para que fossem incorporados ao produto semiacabado.
A análise desses dois sistemas de produção mostrou que a lentidão era decorrente do acúmulo de atividades em quatro das sete etapas do processo de produção de cada uma. Nessas etapas o manuseio de recursos era relativamente elevado, no sentido de serem manuseados diversos tipos diferentes, tais como máquinas, equipamentos, matérias-primas e operadores. Usando recursos de cronoanálise, os cientistas perceberam a necessidade de essas etapas serem desdobradas em outras sete, para uma linha, e cinco, para outra, ficando uma com 11 e outra com 12 etapas do processo. Com isso as duas linhas conseguiram ficar tão velozes quanto as demais, elevou-se ainda mais a eficiência de cada linha e conseguiu-se realizar o alinhamento com a produção dos demais componentes.
Uma equipe de pesquisadores autônomos dentro de uma instituição pública de ensino resolveu inventar um novo tipo de biodigestor. Dividiram-se em três subgrupos, cada qual responsável pela geração de uma parte da inovação. O protótipo desenvolvido não apresentava os atributos previstos, o que fazia com que os resíduos não fossem completamente aproveitados e causava danos tanto para o meio ambiente quanto para os operadores. Como não conseguiam equacionar o problema de forma otimizada, solicitaram ajuda de colegas de produção, que fizeram o estudo de conformação e propuseram a racionalização do processo, com a criação de mais dois subgrupos de pesquisa, para que gerassem mais dois componentes acessórios à tecnologia pretendida. Os cientistas de meio ambiente ficaram surpresos quando ouviram a palavra racionalização ser bastante citada na apresentação da solução, que foi aprovada por eles.
O acréscimo de atividades e até mesmo de uma ou mais linhas inteiras de produção é consequência natural do processo de racionalização, assim como a eliminação. O que importa, como a própria palavra precisa ser entendida, é que haja uma razão que explique a relação entre saídas e entradas do sistema como a mais eficiente possível. É, nas equações matemáticas, o ponto de máximo, onde uma variável (saídas) encontra seu ponto mais elevado no diagrama em relação à outra (entradas). Mas é necessária um atitude permanente de otimização dessa relação, como se fosse uma filosofia de vida, uma vez que não há recurso infinito e, portanto, todos precisam ser otimizados em seu uso. É a essa filosofia que engenheiros e administradores chamam de racionalidade.
A experiência tem mostrado que a racionalização nos desafios da inovação tecnológica é feita, quase sempre, de forma parceirizada, entre cientistas e profissionais de engenharia e gestão. Os cientistas conseguem imprimir alto grau de racionalização nos processos de invenção, enquanto os engenheiros e gestores o fazem tanto em relação às etapas do processo quanto em relação ao uso e manuseio dos recursos, além do acoplamento às atividades-meio das organizações e instituições e toda a cadeia de produção, informação e financeira, interna e externa. Pode acontecer que o sistema interno de produção da inovação esteja ajustado, mas causando problemas organizacionais e na cadeia de valor. Aí também é necessária a criação ou eliminação de etapas. A racionalização, portanto, não está circunscrita à cadeia de inovação.
Criar etapas é ajustar o alcance da inovação pretendido de forma harmônica entre suas etapas de produção. Isso requer tanto a sincronização das entregas dos componentes quanto a garantia de que os atributos de cada componente estejam nele embutidos. Esses são os dois focos da monitoração. Se vai aumentar ou diminuir etapas dos processos internos quase sempre é irrelevante, uma vez que as inovações têm comportamento financeiro inusitado.
Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.com