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Morte de professor por Covid-19 em Brasiléia expõe fragilidade do SUS no Alto Acre

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Da redação ac24horas

Cleilton Castelo precisava de UTI, mas Hospital Regional do Alto Acre ainda não dispõe de leitos


A morte do professor da rede municipal de ensino de Xapuri, Cleilton da Silva Castelo, 44 anos, vítima da Covid-19, ocorrida na noite da última sexta-feira, 30, no Hospital Regional do Alto Acre, em Brasiléia, é mais uma entre tantas demonstrações de que a saúde segue sendo uma das maiores deficiências do estado, sobretudo quando se trata dos municípios interioranos.


Construído pelo ex-governador Tião Viana (PT), idealizado como unidade de referência para uma regional do estado que possui quatro municípios e cerca de 75 mil habitantes, o hospital Raimundo Chaar, que primeiramente foi batizado de Wildy Viana, possui espaços físicos que o credenciam para tal função, mas ainda falta, até o momento, o que de fato importa: equipamentos.


Orçado em mais de 50 milhões de reais, com previsão inicial de ser concluído em 2014, o hospital foi inaugurado somente em 2018, mas com apenas três alas, com problemas na rede de drenagem de chuva e ausência de funcionamento de setores importantes para a prestação de serviços, como centro cirúrgico, maternidade, e UTI, segundo informou à época a Associação Médica do Acre (Amac).


Passados três anos da inauguração, o hospital segue sem oferecer uma estrutura mínima para ser referência em atendimento para os municípios da regional, onde sequer se pode afirmar que existam outros hospitais. O Chaar é o único hospital na região de Brasiléia e Epitaciolândia. Xapuri conta com o precaríssimo Epaminondas Jácome e Assis Brasil com uma Unidade Mista de Saúde.


No caso da morte de Cleilton Castelo, um fato diretamente ligado à falta de estrutura do Hospital Regional de Brasiléia para o atendimento de casos graves de Covid-19 deixou a família do professor com a sensação de que ele não teve a mesma chance de lutar pela vida que outros pacientes tiveram, exatamente pela falta de leitos de UTI na unidade hospitalar.


Como o paciente teve o agravamento de seu estado de saúde após ser transferido de Xapuri para Brasiléia, ele não conseguiu ser estabilizado para ter condições de ser encaminhado para Rio Branco quando passou a ter necessidade de tratamento intensivo. Uma máquina de hemodiálise chegou a ser enviada para Brasiléia para conter a insuficiência renal do professor, mas já era tarde.


Ao ac24horas, um dos irmãos de Cleilton, o também servidor do município de Xapuri, Carlinhos Castelo, disse que lamenta o fato de o seu familiar não ter tido a oportunidade de acessar uma UTI, o que poderia ter significado uma maior chance de sobrevivência para ele. Mesmo assim, agradeceu ao empenho dos profissionais de saúde, que fizeram tudo o que estava ao alcance deles.


“Nossa tristeza é muito grande com mais essa perda para a nossa família. Queríamos que ele tivesse conseguido chegar a uma UTI, mas isso não foi possível. Mas também queremos agradecer a todos que se empenharam pela vida dele. Profissionais de saúde e amigos, que fizeram tudo o que era possível ser feito. Somos muito gratos a todos que estiveram do nosso lado nesse momento difícil”, afirmou.


Cleilton Castelo foi sepultado em Xapuri, na tarde deste sábado, 1º de maio, em clima de comoção. Ele é uma das mais de 30 vítimas fatais do novo coronavírus no município, que tem quase 3 mil casos confirmados de Covid-19 desde o começo da pandemia no Acre. Uma semana antes de ser intubado, em Brasiléia, o professor havia perdido um tio para a doença.


O Hospital Regional



De acordo com informações levantadas junto a membros da direção e funcionários do Hospital Regional de Brasiléia, a unidade está passando por várias obras de readequação para receber uma nova estrutura de atendimento que inclui 10 leitos de UTI, conclusão do centro cirúrgico, estrutura para realização de hemodiálise e instalação de um tomógrafo que já se encontra no hospital.


Os 10 leitos de UTI foram anunciados pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) em fevereiro passado. De acordo com a diretora técnica assistencial do Hospital Regional, Joelma Pontes, o prazo previsto para a entrega dos leitos era até o dia 30 de abril, mas por conta da grande quantidade de itens a serem adequados, a nova previsão é para o próximo dia 15 de maio.


Um dos pontos de adequação citado pela diretora é o aumento da capacidade de distribuição da usina de oxigênio hospitalar para atender os leitos de UTI. Os serviços relacionados à essa demanda estão em andamento, segundo Joelma Pontes. Ela disse ainda que outro fator crucial para a entrega das UTI’s é a garantia dos profissionais da área de medicina intensiva.


Por falta do suporte avançado no hospital de Brasiléia, pacientes graves da Covid-19 que chegam dos municípios de Assis Brasil, Epitaciolândia e Xapuri, além dos residentes locais, são rotineiramente transferidos para as unidades de referência de Rio Branco. No entanto, dependendo da gravidade do quadro do paciente, a transferência pode não ocorrer.


Com 13 leitos de enfermaria destinados a pacientes de Covid-19, o hospital de referência do Alto Acre tinha, neste sábado, 1º, taxa de ocupação de 84,62%, de acordo com boletim da Sesacre – eram 11 leitos de enfermaria ocupados de um total de 13. Um dado que chama a atenção é que dos 11 internados, 8 têm de 31 a 50 anos de idade, enquanto 3 são da faixa de 61 a 80 anos.


Regional já passou das 100 mortes por covid-19


Com 8.053 casos do novo coronavírus registrados desde a chegada da crise sanitária ao estado, os municípios do Alto Acre acumulam mais de 10% dos diagnósticos confirmados em todo o Acre. Nesta semana, de acordo com os dados da Secretaria de Estado de Saúde (Boletim Sesacre), a regional chegou a 107 mortes por Covid-19, mas esse dado está desatualizado.


Xapuri segue como o município com o maior número de casos confirmados de Covid-19 (2.821), seguido de Brasiléia (2.464), Assis Brasil (1.517) e Epitaciolândia (1.251). Brasiléia lidera o número de óbitos por complicações da doença (35), seguido por Xapuri (26), Epitaciolândia (25), e Assis Brasil (21), dados que também apresentam divergência com os números divulgados pelas secretarias municipais.


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