Em palestra no evento Cidadão Global, em São Paulo, Yuval Noah Harari, autor dos livros Sapiens, Homo Deus e 21 lições para o século 21, disse uma frase que me inspirou em escrever este artigo: “Não desistam da democracia. No longo prazo, é o sistema mais eficiente e que permite que os países corrijam suas rotas sempre que seus governantes errarem”.
Agora é hora de refletir sobre tudo que estamos vivenciando nestes tempos difíceis. Não podemos nos deixar contaminar pelo ódio e pelo negativismo. Muito menos incorrer no pecado da omissão. As dores do mundo devem servir de lição de vida e estímulo para lutar por mudanças.
A história do pensamento humano é pontuada por conceitos filosóficos elevados, que nos despertam importantes reflexões. Não é compreensível porque deixamos tudo isso de lado quando mais precisamos tratar de sentimentos coletivos, solidariedade humana e grandeza política.
Vivemos anos que marcarão a história e serão lembrados pelos brasileiros de acordo com suas verdades e valores, mas já não é possível desconhecer o ódio plantado no país pela intolerância política e o negacionismo que desafia a ciência, os direitos humanos, o respeito às minorias e o próprio Estado Democrático de Direito.
René Descartes dizia, no Século 17: “o espetáculo do mundo nos oferece frequentemente cenas de violência e intolerância, nascidas de preconceitos que querem se impor pela força, na ausência de questionamentos e, sobretudo, do exercício da razão.”
As contradições se reafirmam na ideia geral de que a política é a ciência da liberdade, como definem alguns filósofos. Por isso, é permitida da mais simples as mais absurdas contradições.
Esta ideia pode explicar muito do que vivemos, mas não justificar muitas das atitudes que vimos ou que queremos. Como consequência, fragilizaram-se todos: os políticos, a política e, no nosso caso, principalmente o Brasil. E os mais prejudicados são os trabalhadores, as classes menos favorecidas, as parcelas historicamente mais sofridas do povo.
Nossas esperanças devem ser renovadas e nossas ações repensadas, pelo bem do País, do Estado e de nossas cidades.
O presidente Barack Obama, ainda como chefe do governo dos Estados Unidos, disse que a democracia necessita dos princípios básicos da solidariedade, mas afirmou, no mesmo discurso, que para tanto “as leis não são suficientes”. É uma afirmação muito forte, porque a experiência nos ensina que nenhuma regra gera resultados se o coração não desejar mudanças e inspirar uma nova consciência.
É importante entender que a democracia está constantemente ameaçada, por isso também precisamos defendê-la constantemente. Apesar das dificuldades e descrenças na política por parte de muitos, é possível fazer diferente, somando forças pelo bem de todos.
O papa Francisco tem deixado excelentes reflexões a cerca do momento que vivemos: “o grande risco do mundo atual é a tristeza individualista”. Portanto, optemos por decisões e rumos coletivos, onde todos se sintam parte.
Ele ainda nos diz: “tenham coragem. Não tenham medo de sonhar coisas grandes”.
Precisamos vencer os males gerados pelas crises dos últimos anos, mas sem o desejo cego de vingança contra quem os praticou. Para corrigir a rota do Brasil e do Acre na direção da paz e da justiça social, acredito na força da ideia tão bem resumida por Yuval Harari: “Não desistam da democracia”.
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