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Cesta básica sobe 21,5% em um ano em Rio Branco; Auxílio Emergencial cai 58%

Cesta com 11 itens custa R$ 510,36 na capital acreana; valor-base do benefício do governo é de R$ 250

A proposta de hoje é discutir alguns números da nossa realidade econômica. O cenário é de um forte movimento de aumento da inflação e de regressão da renda, ocasionado pelo aumento do desemprego e pela queda do valor do auxílio emergencial. Como resultado temos um aumento nos níveis de pobreza. Já comentamos aqui que o auxílio emergencial de 2020 e outros benefícios públicos como os programas de ajuda a empresas foram os responsáveis pela sustentação do emprego. A eliminação ou redução dos auxílios e dos programas de suporte a empregos e empresas, estão fazendo com que os números da pobreza assumam patamares alarmantes na realidade sócio econômica do Acre.


Cesta básica em Rio Branco foi de R$ 400,63 para R$ 510,36 em um ano 

De início, é importante destacar que tive que estimar o valor atual da Cesta Básica para o município de Rio Branco. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) que desde 2016 tinha incluído Rio Branco e todas as demais capitais na abrangência da Pesquisa do conjunto de bens alimentícios, nos últimos anos deixou de pesquisar 10 capitais, uma delas foi Rio Branco. Na Região Norte a única capital que continuou a ser pesquisada foi Belém-PA. 


Alguns detalhes da metodologia do DIEESE:

– Os produtos da Cesta Básica e suas respectivas quantidades mensais foram estabelecidas em lei. O Acre figura na Região 2, composta por: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.


– A Cesta Básica de Alimentos na lei, seria suficiente para o sustento e bem-estar de uma família, contendo quantidades balanceadas de proteínas, calorias, ferro cálcio e fósforo.


– Os produtos e as respectivas quantidades dos produtos pesquisados na cesta básica para a Região 2 (que inclui o Acre) são: carne 4,5 kg, leite 6,0 l, feijão 4,5 kg, arroz 3,6 kg, farinha 3,0 kg, tomate 12,0 kg; pão francês 6,0 kg; café em pó 300 gr, Banana 90 unid, Açúcar 3,0 kg, óleo 750 gr e manteiga 750 gr.


Dado os produtos e as respectivas quantidades procedi uma rápida pesquisa no comércio local e cheguei a um valor para a cesta básica de Rio Branco em março, estimado em R$ 510,36. A variação percentual de preços nos últimos 12 meses, para os produtos da cesta básica constam no gráfico abaixo:



Conforme os dados do IPCA do IBGE, em um ano, os maiores aumentos de preços dos produtos da cesta básica ficaram com o óleo de soja (80,84%), Arroz (56,67) e as carne (50,29%). Somente em três produtos foram observados redução de preços: pão francês, tomate e farinha de mandioca.


Como vimos, o valor da cesta básica em Rio Branco ficou, em média, 21,5% mais caro entre março do ano passado e março deste ano. De acordo com minhas estimativas, o preço médio da cesta, saiu de R$ 400,63 em março de 2020 para R$ 510,36 em março de 2021. 


Comparando a cesta de Rio Branco com as demais capitais do Grupo 2 pesquisadas em março pelo DIEESE, a capital do Acre apresentou o terceiro maior valor dentre as demais, conforme gráfico abaixo:



Cesta básica em alta, auxílio emergencial em baixa e desemprego em alta

Portanto, se o valor do auxílio emergencial do governo Federal teve queda de 58% entre 2020 e 2021, foi de R$ 600 para R$ 250; com esse valor pago para uma família, só é possível pagar 49% do total de uma cesta básica de 12 produtos alimentícios básicos. Dos R$ 98 milhões/mês que circularam mensalmente do auxílio emergencial em 2020, com o novo auxílio deverão circular somente R$ 41 milhões no novo auxílio. 


Por outro lado, o Acre fechou 2020 com a sétima maior taxa de desemprego (15,5%), dentre todos os demais estados da federação e do DF. Fechamos o ano com 55 mil desempregados, sendo que destes, mais de 7 mil perderam seus empregos entre 2019 e 2020. O número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego) aumentou de 42 para 46 mil pessoas e a taxa de informalidade foi de 46,5%, representando 141 mil dos trabalhadores ocupados.


O Governo Federal lançou o novo auxílio emergencial que deverá ser pago para os trabalhadores informais, mas somente para aqueles inscritos no CadÚnico e beneficiários do Bolsa Família e que já recebiam o auxílio emergencial de R$ 600 ou a extensão do auxílio emergencial de R$ 300 em dezembro de 2020. Além do mais, os atuais beneficiários do programa do Bolsa Família só têm direito ao auxílio emergencial, se o valor do benefício for menor que a parcela do auxílio. O valor do auxílio emergencial 2021 será de R$ 150 para a pessoa que mora sozinha, R$ 375 se for mãe solteira que sustenta a família e as demais famílias receberão R$ 250.


Veio em boa hora o programa do governo estadual financiado através de operação de crédito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Com meta de atingir mais de 18,8 mil famílias carentes, com um valor fixo de R$150 por família e um valor variável de R$ 115 às pessoas abrigadas em dez instituições do CNEAS. Serão mais R$ 9,5 milhões que deverão circular e atenuar a fome de várias famílias acreanas.


No entanto, precisamos de medidas para reaquecer o mercado de trabalho. Do ponto de vista do cenário mais geral da economia, o que se constata é que a atividade econômica murchou e o mercado de trabalho encolheu, o que nem assim ajudou a conter o preço dos alimentos. Neste cenário, a renda caiu e a pobreza avançou. Com isso, as desigualdades voltaram a crescer e, com elas, a fome e a insegurança alimentar.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.