Mesmo com a nova política do YouTube de proibir vídeos que recomendem o uso de hidroxicloroquina ou ivermectina para o tratamento ou prevenção da Covid-19, publicações do presidente Jair Bolsonaro que indicam esses medicamentos continuam no ar.
Esses remédios não têm eficácia comprovada contra a doença.
Na última sexta-feira (16), a plataforma divulgou que “canais que publicarem conteúdos que desrespeitem a regra terão o material removido”. E que faria isso também de forma retroativa.
No mesmo dia, o G1 enviou ao YouTube trechos de uma das lives de Bolsonaro, de 14 de janeiro, em que ele cita esses medicamentos, questionando se ela contrariava as regras. Na noite de segunda (19), a empresa confirmou à reportagem que removeu o conteúdo por violação da sua política.
No entanto, ao menos outros três vídeos publicados no perfil do presidente em que ele fala sobre tratamentos sem eficácia para a Covid ainda estavam disponíveis na plataforma nesta terça (20).
São lives de 9 de julho de 2020, 10 de dezembro de 2020 e 15 de abril de 2021 – o presidente costuma fazer transmissões ao vivo às quintas-feiras.
Após a publicação da reportagem, o YouTube disse ao G1 que “diversos vídeos estão sendo revisados e podem ainda ser removidos”.
Em uma das lives, Bolsonaro fala que tomou cloroquina e “se safou”, apesar de o remédio não ter a eficácia comprovada contra a Covid.
O presidente também afirma, em outro vídeo, que os medicamentos “são eficazes no tratamento do coronavírus”.
As alegações são similares às do vídeo que foi removido, onde Bolsonaro diz que “mais de 200 pessoas contraíram Covid, e foram tratadas precocemente, nenhuma foi para o hospital” (veja em detalhes abaixo).
Remoção não depende de denúncia
O YouTube, que pertence ao Google, não depende apenas de denúncias para remover os conteúdos que estão em desacordo com a política de uso. Ele diz contar “com uma combinação de pessoas e tecnologia para sinalizar conteúdo impróprio e aplicar essas diretrizes”.
E que as sinalizações podem vir de sistemas automatizados, de membros do Programa de Revisor Confiável (ONGs, agências governamentais e indivíduos) ou de usuários da comunidade mais ampla do YouTube.
Segundo a empresa, a máquina ajuda a detectar conteúdo potencialmente violador e a enviá-lo para “análise humana”. A tecnologia ajuda a encontrar conteúdo semelhante a outro que já tenha sido removido, mesmo antes de ser visualizado. E esses sistemas são particularmente eficazes na sinalização de conteúdo com a mesma aparência – como spam ou conteúdo adulto.
Mas em fevereiro passado, quando o vídeo em que o deputado Daniel Silveira fazia apologia ao AI-5 foi derrubado do canal dele na plataforma, por violação da política, o mesmo conteúdo foi replicado diversas vezes e seguiu no ar em outros canais do YouTube, conforme o G1 apontou.
No levantamento mais recente sobre vídeos removidos, que se refere ao último trimestre de 2020, a empresa diz ter derrubado 9,3 milhões de postagens que violavam alguma de suas regras, sendo que 94% delas foram “deduradas” por máquinas.
Já o total de vídeos tirados do ar por desinformação sobre o coronavírus desde o início da pandemia não chega a 1 milhão, também segundo a companhia.