O processo de inovação tecnológica requer, muitas vezes, o uso de conhecimentos e habilidades múltiplas. Essa multiplicidade de recursos, que originam o que muitos chamam de competência e outros os catalogam simplesmente como saberes, são concatenados e maximizados pelas técnicas e procedimentos de engenharia. Entenda-se engenharia como o esforço sistemático de criação de alguma coisa. Um engenho, portanto, seria uma obra de engenharia, obra, novamente, no sentido de resultado materializado dos esforços humanos – e também de máquinas, equipamentos e outros recursos. Isso significa, portanto, que o empreendimento de se materializar um produto tecnológico vai muito além de aspectos instrumentais. Na verdade, grande parte do sucesso ou fracasso dos empreendimentos inovadores são decorrentes do ambiente extrafísico formado e que orienta e dá sentido ao ambiente e instrumentos físicos.
A engenharia simultânea é um procedimento sistemático que visa a aliar a execução de atividades pari passu à antecipação de problemas. Quando aplicada aos esforços de inovação tecnológica, à medida que as atividades previstas são desenhadas, devem ser identificadas as possibilidades de fracassos; quando a primeira tarefa de cada atividade é executada, deve-se atentar para as probabilidades de desdobramentos falhos. E depois que os resultados forem alcançados, novas avaliações devem ser feitas para garantir a conformidade e a validade dos procedimentos. Só então passam a fazer parte do protocolo de produção da inovação. Se fracassarem, a tarefa precisa ser replanejada, executada sob o novo plano e reavaliados os seus resultados, procedimentos e recursos.
Na engenharia simultânea, essas recomendações têm como finalidade subjacente a integração do plano de marketing, projeto de engenharia e processo de produção. Transpostos para a inovação tecnológica, o composto integrativo é formado pelos atributos da demanda, o projeto executivo de engenharia e a criação do processo de produção. Os atributos da demanda são o conjunto de funcionalidades que a inovação precisa incorporar para garantir a eficácia requisitada; o projeto de engenharia são as representações diagramáticas dos componentes e subcomponentes da inovação que se pretende gerar; e o processo de produção são os sequenciamentos lógicos para a criação de cada subcomponente e componente que integrarão a inovação tecnológica.
Para que haja a integração, é fundamental que o ambiente de produção ampliado se revista de todos os fatores favoráveis, tanto físicos quanto extrafísicos. Os fatores físicos variam desde as instalações físicas, máquinas e equipamentos, até a presença de alguém na equipe que possa, de forma autônoma, tomar todas as decisões necessárias; os fatores extrafísicos são todos aqueles que contribuem para que o clima nos diversos locais de trabalho e produção seja o mais favorável possível e são compostos por qualidade de vida no trabalho, motivação, confiança mútua, satisfação, pensamento positivo, clima organizacional e assim por diante, compondo os valores da equipe.
As avaliações simultâneas, portanto, são correlatos da engenharia simultânea, com a diferença de que ampliam o foco avaliativo para os fatores extrafísicos. Para que as avaliações simultâneas possam funcionar adequadamente em ambientes de inovação, é necessário que haja padrões, esquemas de mensuração e replanejamento para os fatores físicos e extrafísicos. Padronizar é estabelecer limites inferiores e superiores de referência para determinado aspecto da realidade. Se um resultado deve apresentar um máximo de erro de 1%, toda vez que ultrapassar essa marca precisa ser avaliado para que sejam identificadas as causas das falhas e replanejado. Se isso vale para os fatores mensuráveis diretamente, também deve valer para aqueles que só podem sê-lo indiretamente, como é o caso da motivação dos indivíduos. Pode-se, por exemplo, estabelecer um limite mínimo de 90% de motivação do pessoal para uma jornada de trabalho, o que significa que não alcançar esse padrão implica em dia de trabalho perdido, uma vez que trabalhar representa mais risco do que não trabalhar. É o que acontece quando grandes tragédias e decepções acontecem.
Mas quem tomaria essas grandes decisões? Infelizmente, quase todos os dirigentes institucionais sem formação gerencial raciocinam de forma linear, em que uma atividade é sucedida por outra, formando uma linha. As atividades de inovação são difusas, aparentemente caóticas, com muitos saltos, quase sempre realizadas de formas simultâneas. No raciocínio linear, não tem um grande decisor. Cada caixinha no organograma decide a sua parte: o financeiro, pelo dinheiro; o diretor de pesquisa, pelo projeto; contas a pagar, cobrando notas fiscais; e assim por diante. Isso é assim simplesmente porque não conseguem raciocinar de outra forma.
Mas onde as equipes e unidades de inovação tecnológica realmente funcionam, há um grande decisor que se responsabiliza por todas as decisões internamente e externamente. Evidentemente que essas decisões estão dentro de um amplo escopo permitido institucionalmente. Mas, o que ele decide, ninguém desfaz. É o que a engenharia simultânea chama de time autônomo. As avaliações que são feitas pelo time são todas integradas e estruturadas a partir de um esquema comunicacional que envolve simultaneamente os clientes, os componentes das equipes de inovação e os membros da cadeia de inovação a montante.
Avaliar em inovação tecnológica tem sido um desafio crucial para os seus gestores. Isso explica, por exemplo, por que se colecionam mais fracassos do que sucessos nesses empreendimentos. Integrante do subprocesso de controle do processo gerencial, o processo de avaliação em inovação tecnológica precisa envolver fatores físicos e extrafísicos. A normalidade dos fatores físicos é que determina a normalidade dos fatores físicos e, portanto, o sucesso do empreendimento. Essas duas avaliações precisam ser feitas simultaneamente.
Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.com
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