Foto: Sérgio Vale/ac24horas.com
O ano era 2009 e o governador do Acre o professor Binho Marques.
Da sacada do plenário da Assembleia Legislativa, junto com outros parlamentares, assisti a uma passeata que comemorava a soltura do Major Rocha.
Ele havia sido preso sob a acusação de violar as regras da caserna ao liderar um movimento por melhores salários na Polícia Militar do Acre.
Estava a meu lado o deputado Edvaldo Magalhães, líder do governo, para o qual fiz o seguinte comentário: “Vocês acabaram de criar um cabo Júlio”.
Para quem não sabe, cabo Júlio era da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Ficou famoso por liderar motins militares, que resultaram em sua eleição e reeleição para deputado em 1998 e 2002. Envolvido no escândalo dos Sanguessugas, perdeu em 2006.
A prisão do Major Rocha abriu caminho para a carreira política dele. Em peso, os policiais militares o elegeram deputado estadual. Com um mandato no parlamento estadual marcado por oposição a um PT já fragilizado e baqueado pelo tempo e pelas denúncias, para a Câmara Federal foi um abraço.
Apoiado pela executiva nacional do PSDB, Rocha não teve quaisquer dificuldades para se eleger.
Como deputado federal e presidente dos tucanos, se habilitou ao posto de vice-governador de Gladson Cameli.
Eleitos, Cameli dispensou ao seu vice tratamento político jamais visto na história política do Acre.
Aliás, por esse excesso de generosidade na delegação de poderes, o governador foi duramente questionado por permitir tão desmedida invasão de atribuições.
Dono de nacos expressivos da administração, que iam do setor de produção à segurança pública, incluindo o Detran e a poderosa PM, o vice-governador atuava, de fato, como um governador paralelo.
Ao longo dos meses, sem que os apadrinhados de Rocha apresentassem resultados e indicadores satisfatórios que justificassem a permanência deles nas respectivas áreas, aos poucos, Gladson Cameli foi puxando o cabresto tomando para si as rédeas da gestão.
Ainda assim, o governador não usurpou nenhum direito dispensado ao gabinete do vice.
Com gabinete autônomo, o vice-governador major Rocha viaja pelo estado e pelo país a hora que bem entende, incluindo o pagamento de diárias para si e seus fiéis assessores.
Salvo melhor juízo, não há da parte dos irmãos Rocha representação formulada junto aos órgãos de controle e fiscalização questionando atos do Poder Executivo.
Desperdiçando as oportunidades políticas e administrativas, Rocha e Mara se tornaram um poço de ressentimentos a atacar o governo sem elementos fundamentados.
Em 2019, veio a pandemia que afetou a vida e a economia mundial, e, em que pese todas as dificuldades impostas pelo momento, o desempenho do governador agrada a maioria da população.
Sem os espaços administrativos anteriormente concedidos, Rocha e Mara se tornaram uma espécie de franco-atiradores, tentando, talvez, auferir dividendos eleitorais em cima da tragédia humana pela qual passamos.
Óbvio que há falhas no sistema de saúde. A demanda por atendimento é desproporcional à oferta de serviços, ainda mais quando existem grupos a negar o cumprimento das regras recomendadas pela comunidade científica.
No entanto, o que é possível fazer é feito.
E mais: não recaem sobre o governador Gladson Cameli denúncias de desvios de recursos destinados ao atendimento das demandas geradas pela maior crise sanitária mundial.
Se ambos, Rocha e Mara, optaram por se contrapor ao governo a decisão é deles, mas antes deveriam reconhecer que nenhum grupo político neste ou em outros governos foram tão agraciados quanto eles.
Fato é que com a postura adotada os irmãos jogam fora o menino junto com a água da bacia e podem comprometer seus futuros na política.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.com