No ramo de funerária há 20 anos em Cruzeiro do Sul, região do Vale do Juruá, no Acre, o empresário João Ferreira, que está acometido pela Covid-19, conta que antes da pandemia do novo coronavírus vendia uma média de 18 caixões por mês. Atualmente, esse número dobrou. O estoque de urnas funerária, que era em média de 300, ele teve de aumentar para 500.
Os preços dos caixões variam entre R$ 1 a R$ 5 mil. O lucro, segundo ele, aumentou, mas revela que é um ganho que não o faz feliz. “É meu ramo de negócio, mas ninguém fica feliz numa situação dessa. É um lucro triste. Aqui em casa estamos eu, minha mulher e meu filho com Covid-19 e outro vai fazer exame, mas em nome de Jesus ninguém vai precisar de caixão, não”, torce.
Como em qualquer outro negócio, antes do aumento do lucro, teve incremento do investimento. O empresário relata que investiu mais de R$ 20 mil no início da pandemia para se adequar às normas sanitárias e exigência dos órgãos de fiscalização, como o Ministério Público do Acre. Ele pediu de São Paulo vestimentas e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) específicas para uso dos funcionários atuarem nos enterros das vítimas de coronavírus.
A funerária também teve que aumentar a equipe porque os enterros das vítimas do vírus em Cruzeiro do Sul são feitos logo depois das mortes, seja de dia, noite ou na madrugada. João tem que manter funcionários 24 horas na funerária e prontos para pegar os corpos no Hospital de Campanha e realizar os sepultamentos.
O empresário vende caixões para famílias que podem pagar e também entrega urnas por meio da prefeitura de Cruzeiro do Sul, para famílias mais humildes enterrarem os parentes. Ainda assim a maior parte dos produtos é vendida. “Meu ramo de negócios é caixão, que está aquecido nesse momento de pandemia com tantas mortes. Já é um momento difícil, então fazemos nosso melhor e o investimento é para prestar um serviço cada vez melhor para quem pode e para quem não pode pagar”, explica.
Outras duas funerárias atuam em Cruzeiro do Sul. Na ala Covid-19 do Cemitério Morada da Paz, já tem mais de 190 vítimas de coronavírus enterradas, entre pessoas do município e cidades próximas, já que no início da pandemia doentes de outras localidades que morriam no Hospital de Campanha eram obrigatoriamente enterrados em Cruzeiro do Sul.
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