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Inflação para famílias com menor renda fecha 2020 com alta de 6,12%

Vitória (ES) - Supermercados lotados e com filas nos caixas e na entrada funcionam em horário reduzido. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Pressionada pelo preço dos Alimentos e bebidas que subiram 19,88%

A inflação de Rio Branco, em 2020, foi a segunda maior dentre todas as regiões metropolitanas e municípios pesquisados pelo IBGE, ficando atrás somente de Campo Grande (6,85%). Nosso objetivo de hoje é analisar o comportamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA para a capital do Acre, em 2020. O IPCA tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias. Esta faixa de renda inclui as famílias com menor renda e foi criada com o objetivo de garantir uma cobertura de 90% das famílias pertencentes às áreas urbanas do país. 


A população-objetivo do IPCA abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, residentes nas áreas urbanas das regiões pesquisadas pelo IBGE, as quais são: regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju. Esse índice de preços tem como unidade de coleta, estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e internet e sua coleta estende-se, em geral, do dia 01 a 30 de cada mês do ano.


Conforme demonstrado no gráfico, em Rio Branco, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, sete tiveram alta em 2020. A maior variação veio da Alimentação e bebidas (19,88%). A segunda veio da habitação, que registrou alta de 6,05%. Depois vieram os grupos de transportes (3,17%) e educação (2,52%). Já os grupos de artigos de residência (-0,33%) e vestuário (-1,19%)   apresentaram deflação no ano.


Passaremos agora a destacar os produtos e serviços que mais sofreram variações de preços dentro dos quatro grupos que mais contribuíram para que o IPCA da capital alcançasse a segunda maior variação dentre as unidades pesquisadas. 


No ano passado, a alta de 19,88% nos preços de alimentos e bebidas pesou no bolso dos rio-branquenses. Esse crescimento, o maior desde que Rio Branco foi inserido na pesquisa, em junho de 2018. Conforme o IBGE, a alta foi provocada, entre outros fatores, pela demanda por esses produtos, a alta do dólar e dos preços das commodities no mercado internacional. Foi um movimento global de alta nos preços dos alimentos, num ano marcado pela pandemia de Covid-19. Foram destaques os preços dos seguintes produtos: o óleo de soja (100,1%) e o arroz (67,96%) que dispararam no acumulado do ano passado. Outros itens importantes na cesta das famílias também tiveram altas expressivas, como as carnes (38%), com destaque para os seguintes cortes: músculo (64,32%), costela (55,19%), pá (46,72%), lagarto (43,84%), patinho (43,02%) e também pela carne de porco (42,06%). 


A inflação também foi puxada pela habitação (6,05%), cuja alta foi influenciada pelo aumento do tijolo (28,42%), do cimento (18,34%), do revestimento de piso e parede (14,69%), do sabão em barra (12,70%), do gás de botijão (11,20%) e de tinta (8,17%). A energia elétrica teve aumento de 5,91%, muito em função depois que passou a vigorar, em dezembro, a bandeira vermelha com um acréscimo de R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora consumidos. Além disso, conforme o IBGE, na capital acreana, o reajuste de 2,11%, entrou em vigor em 13 de dezembro.


A terceira maior variação dentre os grupos, veio dos transportes (3,17%).  Os maiores aumentos de preços do grupo vieram do pneu (17,57%), acessórios e peças (9,26%), óleo lubrificante (9,22%), motocicleta (8,16%), automóvel usado (6,84%) e gasolina (4,64%). Destaque também para o aumento na passagem de ônibus interestadual (4,24%) e no emplacamento e licença de veículos (3,35%).


A quarta maior variação veio do grupo da educação (2,52%). A maior variação (10,36%) veio do preço das autoescolas. Em seguida os cursos regulares de ensino médio (6,05%) e ensino fundamental (5,54%). Os custos com creches (4,01%) e livros didáticos (2,45%) também contribuíram positivamente na variação do grupo. Verificou-se também uma queda nos preços nos serviços de atividades físicas (-1,51%) e nos artigos de papelaria (-1,62%).


Portanto, conclui-se que a inflação de alimentos seguiu pesando mais sobre os mais pobres em 2020. Conforme cálculos do IPEA para o Brasil, a taxa para os mais pobres apontou alta de 6,22%, ante avanço de somente 2,74% na taxa dos mais ricos. Ou seja, itens importantes do orçamento familiar das famílias mais pobres, como os gastos com alimentos, energia e gás comprometem 37% dos seus orçamentos. Já os itens que ocupam mais espaço na cesta de consumo dos mais ricos, tiveram alta mais modesta.


São os pobres do Acre convivendo com mais desemprego, mais informalidade e agora com a alta no preço dos alimentos.



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.