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O bumbo furou

Por
Luiz Calixto

Em economias desequilibradas, ou seja, naquelas onde o orçamento público se apresenta “no vermelho” há anos sem fim, a tempestade derivada de bonança econômica artificialmente fabricada sempre causa terríveis tragédias, sendo o efeito mais imediato a enxurrada de significativa parcela para a parte abaixo da linha de pobreza.


Os exemplos cíclicos no Brasil são vários, mas vou limitar este modesto texto a dois eventos mais recentes.


O primeiro foi a simpática e popular política de subsídios e incentivos fiscais concedidas aleatoriamente a centenas de setores econômicos durante as gestões dos petistas Lula e Dilma, cujos resultados não responderam aos objetivos desejados de geração de emprego e crescimento sustentado.


É bem verdade que as isenções de impostos incidentes sobre os bens da chamada linha branca (geladeiras, fogões, micro-ondas etc), veículos populares e outras centenas de itens contribuíram para que a febre consumista destes gerasse uma temporária sensação de crescimento econômico.


Quanto mais o país se afogava na crise fiscal, mais os lobistas dessas indústrias, fantasiados de salva-vidas da economia nacional, trabalhavam, com sucesso, para obter a prorrogação das mamatas fiscais.


No embalo dessas facilidades, sob o argumento de fortalecer as pequenas e médias empresas, inventaram uma monstruosidade de modelo tributário chamado Simples Nacional, que o tempo se incumbiu de provar servir muito mais de cortina de fumaça para acobertar toda espécie de traquinagem de sonegação de impostos.


O final foi o aprofundamento da crise fiscal, um adjetivo bonito para definir a falta de dinheiro, e a consequente falência dos Estados e Municípios pela drástica redução de suas receitas. E sem receita suficiente, os serviços públicos essenciais definharam ainda mais.


Manter a folha funcionários em dia passou ser a exceção.


O outro evento é a distribuição de renda forçada por meio do auxílio emergencial em decorrência da pandemia do coronavírus.


As filas quilométricas formadas nas agências da Caixa e casas lotéricas era o prenúncio de boas vendas, desde a distribuidora de bebidas do bairro até o comércio pela internet do Magazine Luiza.


Ao contrário daquilo que muitos previam, o volume gigantesco de recursos distribuído em milhões de bolsos manteve aquecido o comércio varejista ao ponto de provocar o fenômeno da inflação de demanda.


Ou seja: o aumento desordenado dos preços em razão da procura superior à oferta de produtos. Nunca se vendeu tanta comida, tanta bebida, tanto cimento, ferro, tijolo, como se vendeu neste período.


Durante a inauguração do Shopping Aquiry, se falou muito de pontos comerciais que não abriram na data porque faltou MDF no mercado local para a confecção do mobiliário. Sabe por que? Porque as marcenarias nunca trabalharam tanto quanto neste período.


Ocorre que o poço secou. A festa acabou. O próprio presidente jogou a toalha ao declarar que o Brasil quebrou.


Sem a prorrogação da ajuda oficial a economia brasileira, que se manteve ativa pela força do consumo, perderá força.


Os danos da tempestade que se forma, causada pelo fim a da bonança da caridade oficial, será incalculável. O senador Márcio Bittar, que andava faceiro com o Renda Brasil, foi mandado calar. E calado está.


Fato é que ou Bolsonaro, Paulo Guedes e Bittar trocam o couro furado do bumbo que anima a popularidade do governo ou as panelas voltarão a trilhar.



Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas. 


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Luiz Calixto

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