Prezadas leitoras, caros leitores
Ano difícil este, não? Desde aquele 17 de março, dia cinzento, quando Alysson Bestene, nosso secretário de Estado da Saúde, veio a público dizer que a Covid-19 aportara ao Acre. Depois, o governador Gladson Cameli foi à TV informar que as escolas fechariam. Muita coisa parou, o comércio estarreceu-se e as ruas de Rio Branco a Jordão foram tomadas pelo vazio tétrico da pandemia…
Repetindo outros, tivemos um presidente da República que instigou um golpe de Estado — mas não teve apoio dos generais. Porém, no mesmo naipe, tivemos um governador que não negou a pandemia – muito pelo contrário, se mostrou dedicado na busca por tratamento universalizado.
Em meio a isso, tragédias que nos entristeceram de verdade, como as mortes do ex-desembargador Jorge Arakén e do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, José Augusto de Faria, pessoas de tão boa lembrança que ao citá-los homenageamos os demais que não sobreviveram à Covid-19. São inesquecíveis e estarão em todas as lembranças dos amigos, da família, da história…
A vaga de José Augusto de Faria deveria, segundo o TCE, ser ocupada por um auditor de carreira do Tribunal, mas o Palácio Rio Branco decidiu empreender mais uma disputa que, como se viu depois, era mais um ato político sem debate nem acordo e fadado a somar-se ao rosário de derrotas de Gladson Cameli em 2020. José Ribamar, o indicado do governador à vaga de Augusto, foi por diferentes vezes ‘gongado’ dessa pretensão, exaurindo o Palácio e deixando o governador igual cego em tiroteio.
E agora, indicar quem? Um parente ou amigo próximo, claro.
As quase 800 vítimas da Covid-19 passaram ao largo da mediocridade política e não serão esquecidas. Há outros inesquecíveis: lançada de sua moto por uma BMW em altíssima velocidade pelo Centro de Rio Branco, Jonhliane seguia para o trabalho e morreu no acidente. O caso, que se somou à tragédia diária que vivem centenas de mulheres no Acre, ganhou importância e conseguiu manter o acusado atrás das grades até agora, mesmo sem julgamento.
De modo surpreendente, 2020 pode ser o começo da afirmação do Acre como Estado do agronegócio na Amazônia. O sucesso do fazendeiro Jorge Moura com a soja traz esperança dessa simples possibilidade tornar-se realidade. Só no 1º ano (2020/2021) são R$ 80 milhões de fluxo financeiro com a soja, e Moura tem participação efetiva no novo contexto.
Está aí o Acre que busca a estabilidade para desenvolver-se.
Do outro lado, apesar de todo o esforço do Palácio Rio Branco para esconder a imaturidade política do 1º escalão -e aí se inclui o governador – reformas e mais reformas mudaram a configuração da máquina estatal culminando com a dissolução de grupos importantes incrustados na administração, como os da deputada Mara Rocha e do senador Márcio Bittar. Este último controlava o Depasa e foi implodido pela polícia em uma grande operação anticorrupção.
Bom, ficou a lição… neste fim de ano, o governador diz que travará ferrenha batalha contra a roubalheira no serviço público. O tempo dirá se ele agiu mesmo ou permaneceu de braços cruzados ante as gargantas profundas que costumam passear a pé-de-pano em sombras palacianas.
Óbvio, afoitas por dinheiro, cargos, poder, vida mansa…
Pois 2020 se encerra mostrando que democracia, no Acre, é realmente capaz de sobreviver ao vírus da indiferença e da incompetência, dos que querem o poder pelo poder – traídos que foram pela própria traição que impuseram aos seus antigos aliados. Some-se a isso a briga surda do governador e seu vice, Major Rocha, que deixa os corredores do palácio e ganham as redes sociais.
Lições vieram de todo lado, de muitas partes do mundo. Trump quebrou a tradição e não se reelegeu nos EUA. O discurso obscurantista que encontra grande respaldo no Palácio do Planalto, não prospera. A democracia se mostrou de aço inoxidável e nesse contexto acabamos aqui elegendo um homem de discurso monocórdio para prefeito de Rio Branco.
O bordão “produzir para empregar” é um blefe ante a realidade que nos espera em 2021, onde 92% dos moradores do município vivem na cidade e apenas 8% na zona rural. Quem vai produzir? O quê e aonde? Quando?
Vão dizer que essas perguntas já foram respondidas na campanha. Na prática, a teoria é outra.
2020 é o ano que reafirma, também, o jornalismo. Na última sessão da Assembleia Legislativa um deputado discorria sobre a verba de mídia e disse que ninguém escreveria sobre o tema: pois bem, o ac24horas fez do assunto manchete de capa na noite de 22/12 – não porque o parlamentar cutucou ou para queimar-lhe a língua. O jornalismo livre é uma convicção editorial e ética do ac24horas, independente do tema ou a quem este esteja afeito.
Vivemos e sobrevivemos em 2020, prezadas leitoras, caros leitores, graças a vocês. Outros disseram e vamos replicar: para nós, do ac24horas, a democracia é, como as vacinas, a mensagem de esperança que 2020 nos deixa.
Boas festas! Que em 2021 possamos, juntos, acreanos, brasileiros que lutamos para sermos – e o mundo inteiro – ter tempos mais dóceis.
Beijos no coração de cada um.
Muito obrigado.
O Editor