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A economia acreana sem o auxílio emergencial

Por
Orlando Sabino

No artigo de hoje, a tentativa é desenhar o cenário de como ficará a economia acreana depois de nove meses e nove parcelas — cinco de R$ 600 e quatro de R$ 300 – do sucesso da experiência do auxílio emergencial para o ambiente econômico. É consenso que ele levou alento a mais de 500 mil acreanos, pois, de acordo com o IBGE, em cerca de 56,7% dos domicílios do Acre, ao menos um morador recebeu o auxílio, somente no mês de novembro, percentual que chegou a ser de 60,5% em agosto. Portanto, esse auxílio em meio à pandemia de coronavírus, diminuiu o impacto econômico das medidas de isolamento social. Com o seu fim, a maioria desses trabalhadores, sobretudo trabalhadores informais, ficará sem ajuda financeira do governo federal a partir de janeiro, apesar do aumento de casos de Covid-19 e das restrições impostas a alguns setores para evitar aglomerações.


Estima-se que, em 2020, a renda dos mais pobres no Brasil subiu 20,9%, impulsionada pela injeção mensal de R$ 55 bilhões do auxílio emergencial. Com a sua extinção, a perspectiva é de queda acentuada no rendimento das famílias das classes D/E, que ganham até R$ 2,6 mil por mês. Segundo a Tendências Consultorias, a redução será de 15,4% nos rendimentos, aumentando a distância social num país que já é o nono mais desigual do mundo, como mostrou o IBGE no mês passado. A projeção da consultoria indica ainda que, em 2021, mais 930 mil famílias brasileiras passarão a fazer parte das classes D/E. Ainda mais, segundo levantamento do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), em junho, o auxílio fez com que o país registrasse a menor taxa de pobreza extrema em 44 anos. O pagamento evitou, ainda, que 5,6 milhões de crianças caíssem para baixo da linha da pobreza extrema, também de acordo com estudo do Ibre/FGV.


Nesse ano de 2021, vamos ver o reverso da medalha. O desemprego no Acre atingiu a taxa de 14,4% em novembro, são mais de 43 mil desempregados, somam-se ao quadro das preocupações, os 115 mil que estão no setor informal. Ou seja, temos 44,7% da força de trabalho ocupada (257 mil) no setor informal. Portanto, a pessoas mais vulneráveis, aquelas que recebiam o auxílio emergencial, vão sofrer com o efeito adverso do mercado de trabalho, sem aquela transferência de renda para sustentar. Em outras palavras, num cenário de retomada gradual, a saída do auxílio emergencial não é compensada por um maior dinamismo do mercado de trabalho.


Estimativas também indicam que vai levar tempo até que essas famílias consigam voltar a registrar alta significativa nos rendimentos. A previsão é que, após a queda em 2021, as classes D/E devem ter ganhos entre 0,8% e 1% ao ano, nos próximos 5 anos, em um cenário próximo da estabilidade. Lembrando que, neste intervalo, não há previsão de reajuste real do salário mínimo, somente a correção da inflação, o que não aumenta o poder de compra das famílias.


É bom não esquecer que termina este ano o complemento do governo federal, previsto na medida provisória 947, para os trabalhadores que fizeram acordos de redução e suspensão de jornada e salário. Conforme o Jornal O Globo, há diversos pedidos do setor produtivo para a prorrogação da medida, mas isso também esbarra no fim da situação de calamidade e na falta de um Orçamento para 2021, que só deve ser aprovado pelo Congresso em fevereiro.


Estamos fechando o ano com a economia acreana em uma recuperação gradual. No Setor do Comércio, o volume de vendas subiu 0,7% em outubro frente a setembro, depois de ter apresentado queda de 4,3% no mês anterior. No ano já cumula um crescimento de 3,4% e no acumulado em 12 meses cresceu 3,7%. Porém, o Setor de Serviços, continua patinando, em outubro caiu 1,7% frente a setembro, tendo o Acre apresentado o sétimo pior desempenho dentre os estados da federação. No acumulado do ano, o setor registra uma queda de -9,7% e nos últimos 12 meses a queda é de -8,8%. Sem dúvida, o setor de serviços foi o mais atingido pela pandemia.


A estabilidade predomina nas nossas relações comerciais com o exterior. Em novembro, as exportações do Acre somaram US$ 2,58 milhões e as importações, US$ 0,50 milhão, apresentando um saldo positivo de US$ 2,08 milhões. No ano, as exportações totalizam US$ 31,47 milhões e as importações, US$ 2,51 milhões, com saldo positivo de US$ 28,96 milhões. Comparando com o mesmo período de 2019, as exportações cresceram 5% (US$ 29,98 milhões), as importações cresceram 50% (US$ 1,73 milhão) e o saldo comercial cresceu 2,5% (US$ 28,25 milhões).


Nas relações comerciais interestaduais, conforme o CONFAZ, as vendas das mercadorias acreanas para os demais estados brasileiros, até o mês de outubro atingiu R$ 2,03 bilhões, já superando em mais de 12% as vendas de todo o ano de 2019 (R$ 1,80 bilhão). Em relação às compras, em 2020 elas já chegaram a R$ 7,23 bilhões (até outubro), contra R$ 7,71 bilhões para todo o ano de 2019. Os dados demostram que teremos em 2020 um aumento significativo das nossas relações comerciais interestaduais, superando a marca do ano anterior.


Na contramão do aumento do desemprego e do aumento do setor informal, a geração de emprego com carteira assinada tem apresentando bons resultados no ano. Com a admissão de 25.784 e o desligamento de 21.232 trabalhadores, o estado apresenta um saldo de 4.552 empregos formais gerados no ano, até o mês de novembro. No mês de novembro o saldo positivo foi de 787 empregos celetistas.


Preocupa a situação da inflação, principalmente porque ela atinge diretamente a população mais vulnerável. O IPCA de novembro, em Rio Branco, subiu 1,10%. Foi o terceiro maior resultado em 2020. No ano, o indicador acumula alta de 4,68%. Comparando, no Brasil o indicador acumula alta de 3,13%. O mais preocupante é que, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados na capital, sete tiveram alta em outubro e mais uma vez, a maior variação veio do grupo de alimentação e bebidas (3,43%), este é o grupo que atinge diretamente o poder de compra do consumidor de renda mais baixa. No ano, o grupo já acumula um crescimento de 18,2% enquanto no Brasil o indicador alcançou somente 12,14%.


As finanças estaduais estão equilibradas em função da ajuda emergencial do governo federal. Em artigo do dia 10/12, destaquei que o governo possui recursos entesourados para a realização de um amplo programa de investimentos no estado. Mesmo a arrecadação própria, que sofreu um revés em função das medidas de isolamento, está em recuperação. Conforme o Boletim de Arrecadação do CONFAZ, acessado no último dia 22 de dezembro, até o mês de novembro de 2020, as perdas com a arrecadação foi de somente 4,18% a menos de ICMS que o mesmo período de 2019, uma diferença de R$ 53,71 milhões. Como a arrecadação deste tributo está em ampla recuperação desde o mês de agosto, a expectativa é que, no mês de dezembro, ela possa aumentar e compensar as perdas provocadas pela pandemia.


Em conclusão, teremos um ano difícil. A redução da massa salarial, estimada em R$ 98 milhões/mês (dados de novembro), pela queda do auxílio emergencial deverá afetar o desempenho de alguns setores chave da nossa economia, principalmente o comércio varejista. A queda da renda da população menos qualificada, causada pela retirada do auxílio aumentará a vulnerabilidade com reflexos a serem projetados para diversos segmentos na esfera social (saúde, educação, segurança etc.). A esperança é uma reação do mercado de trabalho. Temos mudanças nas governanças municipais o que deverá atrasar em alguns meses a retomada dos investimentos locais. As esperanças recaem sobre os investimentos já anunciado pelo governo estadual. Serão muito bem-vindos. Feliz Ano Novo!


Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.


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