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“Filha” da Cidade Nova, Marfisa enfrentou a fome e preconceito até aceitar a vida política

Por
Thais Farias

De família humilde composta por 9 irmãos e muita dificuldade de ter comida na mesa, Marfisa Galvão aproveita hoje uma vida estável e completamente diferente da que viveu na infância. Entretanto, segundo ela, sempre com muito ‘pé no chão’. Quem vê hoje a vice-prefeita eleita não imagina que com apenas 8 anos de idade ela teve de ser adotada por outro núcleo de sua família para que  pudesse se alimentar e estudar com mais dignidade. Ela foi “dada” para uma irmã de seu pai, que tinha melhor condição de vida.


Acostumada a lidar com dificuldades. Nasceu em 1979, durante uma das maiores alagações sofridas pelo Rio Acre. “Minha mãe, depois que se separou, não tinha condições de criar uma família de 10 filhos, a gente não tinha o que comer. Por isso ela teve de dar alguns filhos”, conta Marfisa. Nesse processo, ela foi enviada para Brasileia, na fronteira do Acre com a Bolívia. “E lá eles me ensinara tudo que tenho e sei hoje. Na minha mãe a gente não tinha condição de comprar farda escolar ou ter café antes de ir pra escola. Eu sempre ia suja pra escola e por vezes a professora me mandava de volta pra casa porque eu não estava adequadamente pra estudar”, relembra.


Foi no interior do estado que Marfisa, de fato, começou a estudar. O último ano do ensino médio foi terminado na capital, quando ela retornara a Rio Branco. Na capital acreana, se formou em Educação Física e trabalhou durante 12 anos como professora nessa área de atuação. “Sempre fui uma pessoa muito tímida, não gostava de me expor, de aparecer ou de falar em público. Mas sempre gostei muito de ajudar. Quando me formei, vim aprendendo a perder a timidez”.


Galvão começou a lecionar aos poucos e quando se deu conta já estava falando para cerca de 100 pessoas facilmente. “Fui me envolvendo, criando essa boa relação com as pessoas ministrando aulas, ensinando crianças, jovens, idosos e fui me envolvendo sem saber que dessa maneira eu já estava fazendo política”, conta. Antes de conhecer o atual senador Sérgio Petecão, com quem já está casada há mais de 15 anos, Marfisa ministrou aula em escolas do Estado, sendo uma das primeiras pessoas a ingressar por concurso provisório para professor.


“Nunca imaginei, nunca trabalhei para chegar onde eu estou hoje na política. A gente não se programou para isso, mas as coisas foram acontecendo naturalmente”. Uma parte de sua família, a Galvão, sempre foi muito envolvida com a política na região nordeste do Brasil. No Rio Grande do Norte, há rua e até Unidade Básica de Saúde (UBS) com o sobrenome Galvão. “A gente tem isso no sangue, mas eu fui me descobrindo aos poucos”, salienta.


Foi ministrando aulas de cunho social a cerca de 1.300 pessoas por mês que Marfisa viu sua vida tomar outro rumo. “Tinha o maior prazer em fazer isso e fui me identificando. Depois comecei a organizar a parte social de atividade física do Sesc, buscando apoio da prefeitura e governo para trabalhar com parceria”. Ela então conheceu Sérgio Petecão num evento.


“Passei a leva-lo em minhas aulas temáticas realizadas externamente e lá ele também conhecia mais pessoas, os meus alunos. Ele participava, interagia ali com a gente e quando fui ver, já estava balançando bandeira nas campanhas do Petecão e aí a política entrou de vez no sangue”, explica.


Nova fase


A vice-prefeita eleita na chapa do candidato Tião Bocalom nestas eleições municipais de Rio Branco parou de dar aula no primeiro mandato do Petecão como senador. Ela diz que não foi uma decisão fácil, mas não conseguia mais conciliar o trabalho como profissional, esposa, mãe e dona de casa. “Vi que não estava conseguindo lidar e que a prioridade era cuidar da parte política [da família]”.


A decisão teve como ponto de partida o fato de a ‘Casa Amarela’, lugar em que reside com a família, sempre recebeu muita gente para atender. “Pedi desligamento do meu trabalho e no fundo isso, pra mim, não foi bom. Porque a gente, que é mulher, deixar de trabalhar para ajudar o marido na atividade dele não é fácil. Mas tive que fazer para que a vida política dele aqui em Rio Branco pudesse andar”.


E assim foi. Quando Petecão estava em Brasília, Marfisa estava na capital atendendo os apoiadores do esposo. “Eu ficava encaminhando, cuidando das coisas. Assim ele fez o mandato dele e seguimos esse ritmo”. Marfisa confessa que a ficha ainda não caiu após sua vitória com Bocalom.


“Estou começando a perceber esse mundo político com relação a vice-prefeitura agora. Porque até a então, a gente tinha outro projeto político, que elegeu o grupo do governador. Mas estaremos sempre voltados para o lado social, olhando também o lado técnico da gestão. Sonho em cuidar bem das pessoas e dar a elas o direito que elas realmente têm”.


A mulher na política

A professora está confiante no projeto que tem ao lado de Bocalom. Também acredita na participação das mulheres nesta eleição. “Números indicam que o maior número de eleitores é de mulheres. A mulher tem uma força que ela não imagina que tem”, explica, alertando que vem há um bom tempo estudando a participação das mulheres na política e seu papel na sociedade.


“Não é fácil. Você enfrenta um mundo de homens na política, mas por uma culpa de cultura familiar. Uma cultura de que os homens é que detêm o poder na mão. Venho tentando entender por que a mulher sofre tanto para poder ser respeitada na política”.


Para ela, as mulheres ainda terão um trabalho extenso, mas precisam se manter aguerridas. “Vamos buscar conhecimento e apoio feminino para mudar essa realidade. Sou a favor da igualdade entre homens e mulheres na política, ambos precisam ter os mesmos direitos. Precisamos criar alguma forma de empoderar essas mulheres”.


Nestas eleições, somente duas mulheres alcançaram uma cadeira na Câmara de Vereadores em Rio Branco. “São dados preocupantes. As mulheres não têm chance de ter espaço na política. Tem algo acontecendo e a gente precisa criar novas ferramentas para fazer essa mulher alavancar”, destaca.



Vitória na Capital

Galvão acredita que Bocalom se consagrou prefeito porque os rio-branquenses se identificaram com sua história de vida. “Sempre fui pé no chão. E com minha história de vida, nunca deixei o poder subir a minha cabeça. Sou até criticada por isso. Mas a população se identificou comigo e com Bocalom”, sugere.


Costumada a sempre andar de maneira simples, Marfisa revela sofrer preconceito dentro do núcleo político. “Já ouvi de pessoas que uma vice da Cidade Nova foi eleita. Há, sim, um preconceito, mas essas pessoas não influenciam na maioria dos votos e a maioria delas não tem mandado, só tentam influenciar e só influenciam aqueles que são iguais a ela”. Ela garante que nunca deixará sua forma de ser por causa de dinheiro.


Marfisa acredita que as pessoas se identificam com Bocalom pelo fato de ele ser “trabalhador, honesto e aberto ao diálogo”. “O povo abraçou essa forma do Bocalom fazer política, de ser pé no chão. Queremos que a política chegue às pessoas que mais precisam. As pessoas cansaram de ser enganadas”.


A vice ressalta que projetos e propostas lindas não põem comida na mesa. “As pessoas precisam trabalhar e manter seu sustento, ter acesso à saúde, água tratada, educação, do básico. Quase 80 mil pessoas não votaram por não acreditarem mais em ninguém”.


Ela conta que ouviu de muitos que “Bocalom era seu último cartucho. “Muitos me disseram, pessoas que estavam apostando nessa gestão e acreditando que Bocalom seria o último cartucho para a prefeitura. Por isso vamos nos dedicar todos os dias para fazer uma gestão honesta, transparente e eficiente. Acredito que eu e Bocalom vamos conquistar muitas coisas”.



 


 


 


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Thais Farias

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