Foto: Sérgio Vale/ac24horas.com
Não há dúvidas. Os resultados do primeiro e segundo turnos das eleições em Rio Branco comprovam que Tião Bocalom foi, de longe, o preferido da população para comandar a capital acreana pelos próximos 4 anos.
O velho Boca, como ficou conhecido nesta campanha, mostrou o quanto sabe fazer política. Foi eleito em um cenário onde não aparecia como favorito no início. Era a terceira força em uma conjuntura em que aparecia o tucano Mironu Kinpara como o queridinho do eleitor. O representante do PSDB se tornou o que se costuma chamar de cavalo paraguaio. Muito fôlego no começo e cansaço na reta final. Kinpara foi a grande surpresa do primeiro turno, quando sua candidatura não alcançou nem 15% da preferência do eleitorado.
Bocalom conviveu ainda com a desconfiança dentro de sua própria casa. É o mínimo que pode se chamar do desconforto político provocado pelo governador Gladson Cameli, de seu mesmo partido, quando bateu o pé e decidiu que iria apoiar Socorro Neri em uma tentativa de eleição.
Mesmo assim, Bocalom “sobrou” e fez uma campanha muito mais alegre e empolgante e contra todas as previsões, quase vence já no primeiro turno.
No segundo turno do pleito eleitoral, Boca teve pela frente a atual prefeita Socorro Neri. Aliás, Socorro é um caso a ser estudado pela ciência política. Disputando pela primeira vez uma eleição como cabeça de chapa, já que foi eleita em 2016 vice-prefeita ao lado do petista Marcus Alexandre que contava com grande aprovação popular, Neri conseguiu passar ao eleitor a sua fama de mulher competente, que a acompanha desde a UFAC, onde é professora, a fama de gestora séria nos últimos dois anos como prefeita de Rio Branco e de forma surpreendente, conseguiu uma aliança com Gladson Cameli, construída durante o elogiado combate à pandemia da Covid-19, e mesmo assim não conseguiu empolgar o eleitor.
A falta de carisma de Neri, tão importante em uma eleição no Acre, foi determinante. Seus adversários também conseguiram convencer o eleitor de que o rompimento das alianças com o PT e aos 45 minutos do segundo tempo antes da convenção com o PCdoB eram de uma política igual aos outros, capaz de quebrar acordos e parcerias em busca de um mandato.
Já Bocalom mostrou que carisma é uma de suas principais características. A lembrança do velho Boca dançando funk virou uma das principais imagens desta campanha eleitoral.
Aos 67 anos, conseguiu colocar na cabeça do eleitor que a prefeitura de Rio Branco seria um presente ao candidato que mais derrotas já tinha alcançado em eleições majoritárias no Acre. Em 2006, derrotado para o governo. Dois anos depois, foi o terceiro colocado na disputa para prefeito de Rio Branco, ficando atrás de Angelim, que acabou eleito pelo PT, e o atual Senador Sérgio Petecão. Em 2010, nova derrota para o governo. Desta vez para Sebastião Viana que ganhou a eleição no primeiro turno. Insistente, em 2012 volta a disputar a prefeitura de Rio Branco e acaba derrotado por uma margem pequena de votos para Marcus Alexandre. Em 2014, nova derrota para o governo, onde não chegou nem a ir ao segundo turno, disputado por Sebastião Viana e Márcio Bittar. Foram cinco fracassos seguidos.
Em 2018, apostou em uma candidatura à Deputado Federal. Bocalom foi um “estouro” nas urnas. Com 21.872 votos foi o quinto mais votado. Mesmo assim, por falta de legenda, não vou eleito.
Este ano, mesmo contra as previsões, Bocalom nadou de braçada e venceu uma eleição que se configurava como uma das mais acirradas da história de Rio Branco.
Acontece, que apesar de sua vitória esmagadora, seus adversários, principalmente, Socorro Neri durante o segundo turno conseguiu colocar uma pulga atrás da orelha do eleitor, mesmo daqueles que optaram por Bocalom.
Afinal, o velho Boca está preparado para administrar Rio Branco e seus diversos problemas? A crítica vem baseada no eterno discurso de Bocalom sobre sua gestão como prefeito de Acrelândia, interior do estado. Afinal, já são mais de 20 anos em que administrou a cidade. Apesar do razoável sucesso, Acrelândia continua como qualquer outro município do Acre, que depende dos repasses do governo federal e com vários problemas de infraestrutura.
A passagem de 9 meses pela Emater sem nenhum resultado prático também foi lembrada pelos adversários.
A capacidade técnica de Bocalom foi ainda mais questionada após uma infeliz declaração sobre a volta às aulas das crianças em meio a pandemia da Covid-19. O infectologista
Thor Dantas, um dos mais respeitados do estado, por exemplo, classificou a declaração “loucura e ideia perigosa”.
O mal-estar foi tão grande com a declaração que Bocalom foi orientado pela coordenação de sua campanha a não participar do último debate, promovido pela TV Acre, que aconteceria dois dias antes da eleição.
A última pulga atrás da orelha é como Bocalom vai conciliar a “fome” por cargos de tantos apoiadores. Seu grande “padrinho” na eleição, não se pode negar, o Senador Sérgio Petecão. Além de colocar a esposa, Marfisa, como vice, Petecão não esconde que será candidato ao governo nas próximas eleições.
Após a vitória no primeiro turno, Bocalom recebeu o apoio dos outros principais candidatos, principalmente, PSDB e MDB que foram os mais votados e que não chegaram ao segundo turno. O velho Boca já disse que não negociou cargo, mas na política o apoio em uma eleição não costuma sair de graça.
Na verdade é muito cedo para se fazer qualquer cobrança à Bocalom, afinal o homem só assume a prefeitura no dia 1º de janeiro do ano que vem. Mas, é bom que quem tanto insistiu em ser prefeito saiba que tem um grande desafio em provar que seu mantra “Produzir para Empregar”, repetido à exaustão há mais de de 20 anos, é algo maior que apenas um slogan de campanha.
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