Em depoimento para a PF (Polícia Federal), Adélio Bispo de Oliveira, autor do atentado à faca contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na campanha presidencial em 2018, chamou o ex-deputado federal de “impostor”, e disse que tinha um “desejo pessoal” de matar o ex-presidente Michel Temer (MDB).
No depoimento, revelado hoje em vídeo pela revista Veja, Adélio afirmou que tinha motivações tanto políticas como religiosas para atentar contra.
“Quando ele (Deus) disse [para matar Bolsonaro], eu fiquei até surpreso. Na política, o que eu tinha interesse mesmo era o Michel Temer. Esse eu tinha interesse”. (Adélio Bispo de Oliveira, autor da facada contra Bolsonaro em 2018).
Perguntado por quem Adélio chama de “Doutor Rodrigo” sobre se “a motivação [para atentar contra a vida de Bolsonaro] é aquela que o senhor alegou anteriormente”, o autor da facada reafirmou: “As duas, as duas, as duas. A política e a religiosa… Bolsonaro é um impostor”, disse.
“Ele [Bolsonaro] se tentou passar como um homem, digamos assim, na linguagem popular, um homem de Deus”, afirmou Adélio em seguida, explicando porque considera o presidente um “impostor”.
“Aí veio uma revista com um deles que fala que o Bolsonaro é católico, embora foi batizado no Rio Jordão pelo Everaldo, pastor Everaldo”, prosseguiu.
“Muitos evangélicos acreditavam que ele fosse evangélico. Ele tentou plantar essa imagem que fosse evangélica, mas não era. Ele é um impostor. Meramente um impostor. Para tentar se apropriar do voto do meio protestante”, finaliza.
Presidente do Brasil entre 2016 e 2019, Temer chegou a entrar na mira de Adélio. “Era um desejo pessoal. A respeito do Michel Temer, era um desejo meu”, afirmou.
Como não era um ‘desejo de Deus’, e sim pessoal, Adélio não chegou a planejar atentar contra a vida do ex-vice de Dilma Rousseff (PT).
No fim do vídeo divulgado pela revista Veja, Adélio é questionado sobre se ainda tem desejo de tentar, novamente, matar Bolsonaro.
“Em relação ao presidente, se o senhor saísse daqui hoje, o senhor não teria…”, pergunta “Doutor Rodrigo”.
“Não, hoje, hoje… Isso não mais”, responde Adélio.
No dia do atentado em Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais, Adélio relatou ter tido apenas um medo: de morrer.
Adélio disse que avistou Bolsonaro pela primeira vez no dia do atentado em cima de um carro. Ao redor do então candidato, apoiadores gritavam “Mito, Mito!”. Mais distantes, mulheres protestavam gritando “Lixo, Lixo!”.
Ao olhar para trás, Adélio afirmou ter avistado um policial fardado. “Eu falei ‘Pô, vou tomar uma rajada na nuca'”, relatou.
Adélio narrou ter, na hora, pensado que se tivesse uma arma de fogo ao invés de uma faca, “seria inevitável”.
“A distância era curta […] Era ruim para chegar com a faca. Mas curta demais se eu tivesse com uma arma de fogo. Só que é aquela coisa… Tinha um policial atrás de mim”, afirmou.
“Se eu tivesse uma arma e sacasse, se não fosse muito rápido, ele me derrubaria antes. Porque a distância dele para mim tinha uma linha de fogo aberta, digamos assim”, afirmou.
No depoimento, Adélio relatou ter pensado em desistir do atentado por várias vezes.
“Pessoal empurrando, empurrando. Parece que ele se assustou com a atitude da multidão, jogaram ele para dentro da Câmara Municipal [de Juiz de Fora] e aí já era. Não vai ter jeito. Ali eu pensei em desistir”, disse.
Ao tentar o ataque pela primeira vez, Adélio disse que uma senhora começou a passar mal ao seu lado e foi ajudá-la, tirando-a da multidão.
“Tentei entrar de novo na multidão. Foi, foi, foi. Até que chegou um ponto que falei: dá para tentar. Acabei atingindo o alvo, de uma forma meio distante relativamente, mas atingi o alvo”, narrou.
No depoimento, Adélio relatou ter recebido a visita de um agente do FBI, o principal órgão policial de investigação dos Estados Unidos, em Camboriú, no litoral de Santa Catarina, em 2016.
“Eles estiveram lá onde eu trabalhava. Um americano. Disseram que queriam ver um apartamento. Mas não era. Ele não queria ver apartamento. Ele era o FBI. Ele me olhou assim de cima para baixo umas duas ou três vezes”, afirmou.
“Por que ele estava atrás de você?”, perguntou “Doutor Rodrigo”.
“Pelas coisas que posto na internet. Eu até queria saber se eu ver o cara… Porque eu vi pela mídia que o filho do Bolsonaro (Eduardo) estava com um policial americano naquele clube de tiro”, disse.
“Eu queria saber se era o mesmo policial, se era a mesma pessoa que esteve lá em Camboriú em 2016 [com o Eduardo]”, afirmou.
O clube de tiro que Adélio se refere é o Clube e Escola de Tiro 38. Eduardo Bolsonaro visitou o local em agosto de 2016. De acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o filho do presidente usou recursos da cota parlamentar para viajar até Santa Catarina.
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