Tenho acompanhado com interesse os debates e sabatinas a que se expõem os nossos candidatos a prefeito de Rio Branco e a minha impressão é que beberam na mesma fonte, sabem todos os problemas e sabem as soluções – quase sempre as mesmas. Neste sentido, tem razão o colega colunista do ac24horas Luiz Calixto, “com um cotoco de lápis, qualquer morador relaciona os problemas da cidade”. Poderiam os debates serem diferentes? Penso que sim.
Sempre estranhei, desde quando participava ativamente de campanhas eleitorais, que elas tenham que ser assépticas, limpinhas, atendendo a algo que no Brasil se convencionou como uma característica inarredável da população brasileira – o eleitor NÃO vota em quem agride. Isto, obviamente leva a uma tendência entre todos os participantes de vitimização perante qualquer acusação. Ou seja, os candidatos são todos inatacáveis e, se por acaso, algo fugir do script “educadinho” o atacado leva vantagem pois o povo fica com peninha dele e com ódio de quem o atacou. Não interessa que a acusação seja verdadeira. Sei que sou minoria, mas considero isso uma anti-campanha, pois não informa, não diferencia, pelo contrário, pasteuriza as candidaturas.
Ora, de que modo eu, eleitor, desinformado, chego no dia da votação e escolho um entre tantos candidatos se todos dizem na TV e nos debates e entrevistas e sabatinas praticamente a mesma coisa que, aliás, já sei – os serviços não funcionam bem como eu gostaria, as ruas não são como eu gostaria, falta gestão, etc., etc., etc.
É preciso desvendar o passado de cada um. Onde estavam e o que faziam enquanto o Brasil era levado a este buraco sem fim? Que ideias frequentam seu itinerário político, sua ação como cidadão, sua filiação partidária? Que compromissos estabeleceram com o estamento superior da política? Que pautas lhes são prioritárias no debate nacional. Sim, porque o que todos pensam do posto de saúde eu já sei – pensam o mesmo. É, portanto, no seu passado e na ideologia que se diferenciam, logo é aí que reside um elemento importante para minha escolha.
A imprensa, os entrevistadores, os debatedores etc., ao invés de suscitar as diferenças, preferem alimentar a assepsia geral com indagações que parecem bolas levantadas em jogo de vôlei. É cada cortada, que só vendo. Nada de espremer os participantes, nada de enfiá-los na contradição, nada de confrontá-los com o passado. Em casa, o eleitor agarra no sono, diria um mineirinho conhecido.
Veja-se, por exemplo, os debates para presidente dos Estados Unidos da América. Lá os caras quase voam no pescoço um do outro, seus armários são escancarados, seus esqueletos e de suas famílias são mostrados normalmente como forma de desnudar o bom mocismo que, no Brasil, aceita-se candidamente como se diante de nós estivessem candidatos à santidade.
Daí que, a despeito da forma no mínimo capciosa como foi modelado o debate do DCE, que excluiu um dos candidatos, o melhor momento da campanha até agora foi o enfrentamento entre a Prefeita Socorro Neri e o candidato Jarbas Soster naquela noite. Não trato do mérito da discussão, mas da sua oportunidade. Assim é que deve ser um verdadeiro confronto entre candidatos. Perante uma grave acusação, a prefeita demonstrou com total segurança do que se tratava e, num golpe de astúcia fez reverter a denúncia contra aquele que a questionara. Tudo isso, de modo educado, firme, sem mesuras mas civilizadamente.
Enquanto os debates e entrevistas ocorrerem com os corredores em raia livre, o candidato vai se sentir tão à vontade que é capaz de esquecer, como, aliás, fazem muitas vezes, que o orçamento tem limites, que o saco tem fundo, que o céu fica pra quando morremos. É cada promessa que já me vejo em Dubai, colhendo damascos no quintal.
Não proponho, obviamente, que se transforme esses encontros em praças de guerra, mas, convenhamos, é muito pouco sal nessa feijoada pública. O que, aliás, não se repete nos bastidores, onde as caneladas são de fazer inveja ao Moisés, velho zagueiro vascaíno, o que demonstra na prática uma certa hipocrisia.
Diferentemente de quando estão diante dos holofotes e microfones, ou seja, quando o povo nãos os vê, a disputa deixa de ser um convescote e, misturados nas sopas de letrinhas em que se transformaram as coligações, partidos e candidatos, cada um ao seu jeito levam a campanha ao chão ideológico e se digladiam ferozmente – feio mesmo é perder.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no ac24horas.
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