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Agregar mais valor aos produtos de extração vegetal

Foto: Tarso Sarraf/G1


Com o objetivo de fornecer informações estatísticas sobre quantidade e valor dos principais produtos obtidos através do processo de exploração dos recursos florestais nativos, denominado extrativismo vegetal, bem como, quantidade e valor dos principais produtos da silvicultura, ou seja, produtos provenientes da exploração de maciços florestais plantados, o IBGE lançou no último dia 15, o relatório da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura – PVES, relativo ao ano de 2019. As informações são da pesquisa da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) 2019, que investiga 37 produtos do extrativismo vegetal e sete da silvicultura em todos os municípios brasileiros. Nosso objetivo hoje é destacar os números do Acre no relatório. Como a última atualização do PIB foi em 2017, faremos uma análise evolutiva a partir dele, até o ano de 2019.


O Acre ainda não figura nas estatísticas do IBGE na parte de Silvicultura, ainda que, em consulta ao site do Governo do Acre (https://agencia.ac.gov.br/novos-seringais-acre-surgem-com-o-florestas-plantadas/), conste que, com o plantio iniciado entre 2010 e 2011, os primeiros seringais criados pelo programa do governo do Estado, Florestas Plantadas, começariam, já em 2017 a serem explorados. Mencionando inclusive que mais de 2.800 hectares tinham sido plantados, mas infelizmente, ainda não entraram nas estatísticas do IBGE. Portanto, os dados disponíveis para o Acre são somente na atividade de extração vegetal. 


No Brasil, em 2019, a silvicultura contribuiu com 77,7% (R$ 15,5 bilhões) do valor da produção florestal (R$ 20,0 bilhões). Já a participação da extração vegetal (coleta de produtos em matas e florestas nativas) foi de 22,3% (R$ 4,5 bilhões). O grupo dos produtos madeireiros, que teve a maior participação no valor de produção do extrativismo (64,5%), registrou alta de 8,8% em relação a 2018. Ao longo dos últimos anos, a produção extrativa de madeira vinha perdendo espaço, sendo gradativamente substituída pela madeira de florestas cultivadas. Em 2019, entretanto, não houve acréscimo significativo da área de florestas plantadas, e foi detectada, ainda, retração no setor de silvicultura. 


Enquanto a extração vegetal no Brasil cresceu 1,8%, de 2017 para 2019, no Acre ela cresceu 22,4%, alcançado, em 2019, um valor da produção perto de R$ 70 milhões, ou US$ 17,4 milhões (cotação de 31/12/2019). Os produtos alimentícios representaram 60,2% desse total (R$ 42.2 milhões). O Acre representou somente 1,6% do valor da produção florestal do país, em 2019.


ACRE: PRINCIPAIS PRODUTOS FLORESTAIS – PRODUÇÃO e VALOR EM 2019 – VARIAÇÃO EM RELAÇÃO a 2017


Produtos Produção em 2019 Valor da Produção (Mil reais) 2019 Participação do Valor no Total 2019 (%) VARIAÇÃO (2017-2019) (%)
TOTAL 69.997 100,0 22,4
Açaí (fruto) (Toneladas) 4.738 5.524 9,7 3,6
Castanha-do-pará (Toneladas) 7.297 36.373 52,0 36,6
Borracha (Toneladas) 211 1.450 2,1 37,8
Lenha (Metros cúbicos) 376.689 6.446 9,2 4,3
Madeira em tora (Metros cúbicos) 234.547 17.952 25,6 13,9

Fonte: IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura


O destaque da produção florestal acreana foi a castanha-do-brasil. A produção acreana respondeu por 26,8% de toda produção brasileira, é o segundo produto estadual com a maior representatividade na produção brasileira, perdendo apenas para a borracha.  O seu valor de produção de mais de 36,3 milhões de reais em 2019, correspondeu a 17,4 milhões de dólares (cotação de dezembro de 2019). Além de gerar vários empregos em toda a sua cadeia produtiva, desde o extrator localizado nas pequenas propriedades rurais, até o exportador, hoje na sua maioria realizada por cooperativas. A castanha representou no ano de 2019, 12,8% do valor de tudo que foi exportado pelo Acre. Ou seja, 46,5% de tudo que foi produzido de castanha no Acre, foi exportado para o mercado externo. Exportada, quase em sua totalidade em casca, portanto sem receber quase nenhum beneficiamento, a castanha poderia agregar muito mais valor internamente, caso recebesse algum outro processo de beneficiamento, mais intensivo em tecnologia. 


O segundo produto em importância da produção florestal foi a extração da madeira em tora, representando 25,7% de todo o valor da produção extrativa do Acre, em 2019. No ano, foram extraídos 234.547 metros cúbicos de madeira das florestas acreanas que geraram um valor de 18 milhões de reais, cerca de 4,5 milhões de dólares (cotação de dezembro de 2019). As exportações dos derivados da madeira do Acre em 2019, totalizaram 14,5 milhões de dólares, cerca de 44% de tudo o que foi exportado pelo Acre. É um bom exemplo para deduzir os efeitos que um pequeno beneficiamento de uma matéria-prima, pode significar na geração de valor em uma cadeia produtiva. Ou seja, uma matéria-prima valorada em 4,5 milhões de dólares, foi capaz de gerar, somente de exportações para o mercado externo, 14,5 milhões. Esse é um exemplo fundamental do poder de geração de renda interna que é possibilitado pela industrialização, das nossas matérias-primas. 


No Acre, em 2019, a lenha e o carvão participaram com 9,2% e 2,8%, respectivamente, no valor da produção de 2019. Juntas, somaram 8,4 milhões de reais no ano, um crescimento médio de 3,1%, em relação a 2017. 


A borracha natural, nossa velha e conhecida, responsável por toda a nossa ocupação e base da nossa economia, em 2019, representou somente 2,1% do valor da nossa produção extrativa. No entanto, o Acre é o segundo maior produtor de borracha extrativa do Brasil, perdendo somente para o Amazonas. O seu valor da produção de 1,45 milhão de reais representou 35,2% da produção nacional. Em relação a 2017, o valor da produção do extrativismo da borracha cresceu 37,8%.


Vamos destacar agora o Açaí que tem 92,1% de sua extração concentrada nos estados da Região Norte. Em 2019, a produção brasileira somou 222,7 mil toneladas, 0,5% acima da obtida no ano anterior. Em termos de valor, entretanto, houve retração de 0,6%, totalizando R$ 588,6 milhões. No Acre, no entanto, o seu valor da produção cresceu 3,8% no período 2017-2019 e, em 2019, representou 7.9% de todo o nosso valor da produção dos produtos extrativistas vegetais, com 1,37 milhões de reais. No Brasil, o Açaí segue com o maior valor de produção (R$ 588,6 mi) entre os produtos extrativos do grupo dos alimentícios.


Historicamente, a produção extrativista sempre exerceu uma grande relevância para os povos e comunidades tradicionais do Acre. A atividade contribui para a ocupação da mão-de-obra e a distribuição de renda no campo e na floresta. É grande a importância do Acre em relação à extração da castanha, da borracha, da madeira e do Açaí. Todos possuem uma grande importância na participação da balança comercial do estado, principalmente a castanha e a madeira. Precisamos agregar mais valor a estes produtos internamente. O Exemplo da madeira é emblemático, em 2019, a extração equivaleu a 4,5 milhões de dólares e, com uma pequena agregação de valor, só as exportações para o mercado externo, chegou a 14,5 milhões de dólares. Por que não aplicar a mesma receita para a castanha e para o Açaí?



Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.