A proposta hoje é situar o leitor sobre os impactos da pandemia no nosso estado, abordando aspectos de saúde e trabalho. Números que possibilitem uma leitura da nova realidade, para que possamos planejar saídas, em busca do “novo normal”. Para tanto, utilizaremos os dados para o Acre, constantes no relatório de agosto (publicados em 23/9) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD COVID19 do IBGE. Esse estudo, foi instituído para avaliar os efeitos da pandemia no país. Teve início em 4 de maio de 2020, com entrevistas realizadas por telefone em, aproximadamente, 48 mil domicílios por semana, totalizando cerca de 193 mil domicílios por mês, em todo o Território Nacional. O objetivo da pesquisa é estimar o número de pessoas com sintomas referidos associados à síndrome gripal e monitorar os impactos da pandemia da COVID-19 no mercado de trabalho brasileiro. Vamos inicialmente expor os dados sobre saúde e depois sobre o mercado de trabalho.
O número de pessoas que fizeram o teste de diagnóstico da Covid-19 aumentou 17,4% em agosto frente ao mês anterior, chegando a 98 mil pessoas, o equivalente a 11,1% da população do estado. Entre todas as pessoas que fizeram o teste em agosto, 41% foram diagnosticadas com Covid-19, o equivalente a cerca de 41 mil pessoas.
A pesquisa aborda três tipos de testes: o SWAB, exame em que o material é coletado com cotonete na boca e/ou nariz; o teste rápido com coleta de sangue por um furo no dedo; e o exame com sangue retirado na veia do braço. Das 98 mil pessoas que fizeram o teste, 32 mil fizeram SWAB e, desses, 50% testaram positivo.
O Acre (6%), Pernambuco (5,8%) e Minas Gerais (6,1%) registraram os menores percentuais de realização de testes. O Distrito Federal (19,4%) foi a Unidade da Federação com maior percentual de testes realizados, seguido por Piauí (14,4%) e Roraima (12%).
Um dado importante foi que, apesar do aumento no número de pessoas que fizeram os testes, o contingente daqueles que relataram ter algum sintoma de síndromes gripais diminuiu. Em maio, 113 mil pessoas afirmavam ter algum dos sintomas abordados pela pesquisa, como tosse, febre e dificuldade para respirar. Em agosto, esse número caiu para 59 mil, o que representava 6,7% da população.
Em agosto, havia 124 mil pessoas com alguma das doenças crônicas que foram pesquisadas, o que correspondia a 14,2% da população, sendo a hipertensão a mais frequente, 9,7%. As demais prevalências foram: asma ou bronquite ou enfisema (3,0%); diabetes (2,6%); doenças do coração (1,1%); depressão (0,6%); e câncer (0,3%). O percentual de pessoas com alguma das doenças crônicas que testou positivo foi de 4,3%.
Em agosto, 59 mil pessoas (6,7% da população) apresentaram algum dos sintomas pesquisados de síndromes gripais, em maio eram 12,8% da população com algum sintoma, em junho, 8,9% e, em julho, 6,5%. Em agosto, cerca de 17,4% (11 mil) das pessoas que apresentaram algum dos sintomas pesquisados procuraram atendimento em estabelecimento de saúde. Esse foi o maior percentual e o menor contingente absoluto de pessoas que procuraram atendimento, desde o início da pesquisa.
A força de trabalho subiu de 295 mil em maio para 300 mil em junho e caiu para 294 mil em agosto (queda de 0,3% em relação a maio). O contingente de pessoas fora da força de trabalho passou de 358 mil em julho para 355 mil pessoas em agosto, o que corresponde a uma redução de 0,8% em relação ao mês anterior. Já a população ocupada do estado foi estimada em 255 milhões de pessoas, com aumento de 2,8% em relação a julho, mas ainda acumulando redução de 1,2% em relação a maio.
A população desocupada, que era de 38 mil no começo da pesquisa, passou para 43 mil em julho e, agora, voltou para 38 mil pessoas em agosto. A taxa de desocupação de agosto (13,1%) foi maior 0,3% pontos percentuais que a de maio (12,8%). A taxa caiu em 1,4 pontos percentuais de julho para agosto (passou de 14,5% para 13,1%). O nível de ocupação subiu de 38,3% em julho para 39,4% em agosto, isto significa que menos da metade das pessoas em idade de trabalhar estavam ocupadas.
O contingente de trabalhadores ocupados em atividades consideradas informais somou 110 mil em agosto. Assim, a taxa de informalidade foi de 43%, superior, ante os 41,5% do mês anterior.
Em agosto, o percentual de domicílios onde pelo menos um dos moradores recebeu algum auxílio para combater os efeitos da pandemia foi de 43,9% no país e no Acre foi de 60,5%. No Norte (61%) e no Nordeste (59,1%). O valor médio do benefício recebido pelos beneficiários acreanos foi de R$ 696 por domicílio.
Já o índice daqueles que receberam auxílio emergencial, seguro desemprego, BPC ou Programa Bolsa Família ficou estável em praticamente todos os estados. No Acre, o total de domicílios que receberam auxílio teve um aumento de maio (54,4%) para junho (58,7%) e, de junho para julho (62,6%), subindo pouco em agosto (63,9%). O Amapá (71,4%) foi o estado com maior proporção de domicílios onde um dos moradores é beneficiário de programa de auxílio emergencial, seguido de Maranhão (65,5%) e Pará (64,5%). No Acre essa proporção foi de 63.9%.
A maioria das Unidades da Federação registraram quedas no percentual de pessoas ocupadas afastadas do trabalho devido ao distanciamento social em agosto, frente a julho. No Acre essa proporção caiu de 15,4% para 12,4%. Entre os 38 mil de ocupados que estavam afastados do trabalho que tinham na semana de referência no Acre, aproximadamente 8 mil pessoas (21%) estavam sem a remuneração do trabalho.
Um reflexo do avanço no processo de retomada gradual das atividades foi o segundo aumento consecutivo, tanto no âmbito nacional quanto em todas as Grandes Regiões, do número de horas efetivamente trabalhadas. No Acre, o número médio de horas habituais foi de 38 horas por semana e as que de fato foram trabalhadas que eram de 24 horas em maio, subiu para, em média, 29 horas em agosto.
Tendo em vista a natureza da crise econômica ocasionada pela pandemia do coronavírus, era esperado observar efeitos significativos na força de trabalho acreana. As medidas necessárias de isolamento social para o controle do contágio restringiram prontamente a circulação de trabalhadores e consumidores, o que comprometeu tanto a demanda por produtos, quanto a oferta de trabalho.
É evidente, que toda a economia brasileira foi e ainda será negativamente impactada pela pandemia provocada pela Covid-19 e o Acre não está imune aos efeitos da crise sanitária. Dentre as atividades econômicas que mais empregam em todo o estado, o comércio e os serviços são potencialmente os mais vulneráveis. Precisamos, portanto, estar atentos a essas atividades e priorizá-las na luta pela recuperação.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.
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