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Pontos fortes

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Da mesma forma que nenhuma organização é tão fraca que nada possa ofertar, também nenhuma delas existe que não apresente pelo menos um ponto forte que a torne capaz de se alinhar com ele. O segredo da fase de percepção, dentre as cinco etapas do processo de gestão da inovação, reside na capacidade que algumas organizações têm de vincular aquilo que têm de melhor com a sua visão de futuro. Pontos fortes e fracos (assim como ameaças e oportunidades) só devem mirar uma única coisa: a capacidade de concretizar a visão de futuro, que é o destino desejado pela organização. Nada, portanto, de se comparar com outras organizações, como muito comumente é feito e aconselhado. Nenhuma organização é igual à outra. E como não são iguais, não podem ser comparadas, porque já são iguais, não há diferenças entre elas. Mas tem sentido, e isso é o que deve ser feito, que a organização se compare constantemente. Neste sentido, este ensaio tem como objetivo explicar a ideia de ponto forte e sua dinâmica.


Operacionalmente é difícil dizer o que é um ponto forte (ou fraco). Muitos costumam comparar indicadores, como o de vendas, para empresas comerciais, e número de patentes, para instituições de ciência e tecnologia. Mas isso tem sentido? Vender 5 automóveis por uma organização A por mês pode ser comparável a vender 500 por outra no mesmo período? Numericamente, sim. Mas em termos de pensamento estratégico, não. Se a visão de futuro da organização A for alcançar a média mensal de 30 automóveis vendidos por mês em 5 anos e este resultado for referente aos primeiros meses da caminhada, pode ser um desempenho formidável. Por outro lado, se a visão de futuro da organização B predisser a venda mensal média de 1.000 automóveis, as coisas mudam de figura.


E é nessa armadilha que quase todos os dirigentes de instituições de ciência e tecnologia caem. Muitos argumentam que é necessário que se conheça a participação da instituição no mercado de pesquisas tecnológicas. Pode até ser. Mas mesmo esse tipo de comparação se torna inócua que não seja para saber isso: apenas a participação. Gerenciamento, por outro lado, não é fotografia, mas um frame, um quadro, da longa fita de um filme. Com mais uma complicação: o filme ainda não terminou. Gerenciamento é processo. Comparações, então, só têm sentido se retratarem o estado atual em que a organização se encontra em relação ao futuro. Então não tem sentido que seja comparada com outras organizações, nem mesmo em esquemas irracionais de participação no mercado.

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Da mesma forma que com os pontos fracos, os pontos fortes precisam ser identificados dentre aqueles das atividades-fim que colaboram de forma decisiva na produção que será entregue ao ambiente externo. Embora seja louvável que haja pontos fortes nas atividades-meio, elas só poderão ser assim consideradas se mensuradas e qualificadas em relação ao suprimento feito para as atividades-fim. Se atividades-fim são excelentes desvinculadas das atividades-meio, não têm, de fato, essa qualificação. Da mesma forma que não tem sentido o atendente de balcão ser excelente em guardar os carros da frente da lanchonete e não atender com adequação a relação da produção de sanduíches com os clientes, não tem sentido a assessoria de comunicação da instituição estar voltada, digamos, para apenas o que o diretor mandar (diretor é atividade-meio). Há que comunicar atividades-fim (em suas diferentes modalidades), por mais esquisito que isso possa soar aos ouvidos de quem não tem formação em gestão e comunicação.


A terceira coisa que se deve saber (a primeira é não se comparar e a segunda, vincular pontos fortes às atividades-fim) é que os pontos fortes (e os fracos) não são eternos. Eles se alternam com naturalidade à medida que há alterações substanciais no comportamento do ambiente externo. É como uma dança. Uma hora o ambiente puxa a organização para um lado e exige a correspondência em determinado aspecto, em outro é a organização que se expande em relação ao ambiente externo, alterando o seu comportamento. E isso não se faz sem se fortalecer ainda mais os pontos fortes. É necessário, portanto, que eles se tornem mais robustos na medida do necessário e que outros apareçam, para que os passos da dança relacional estejam em sincronia.


Esse esquema permite a mentalização de que a organização é um borbulhar de pontos fortes (e fracos). Alguns estão em plena atividade, enquanto outros estão em latência, esperando sua hora de entrar na dança. Mas para que isso aconteça e os pontos fortes em latência não sejam equivocadamente tomados como pontos fracos, é necessário o monitoramento constante do ambiente de atuação da organização. Constante e adequado, uma vez que de nada adianta estar constantemente olhando e nada ver. E nesse monitoramento, da mesma forma que nas organizações pontos fortes se fortalecem e se enfraquecem, surgem e aparecem, ameaças e oportunidades também se alternam lá fora. É como um grande navio navegando em águas revoltas dos mares. Todo o horizonte precisa ser vasculhado, quase sempre na certeza de que algo pode aparecer, em algum lugar, de surpresa.


Pontos fortes podem se vincular a ameaças ou oportunidades, equilibrando o relacionamento organizacional. Se a qualidade da pesquisa que a instituição faz é um ponto forte, pode ser acionada para vencer a ameaça de falta de dinheiro para financiamento em pesquisa ou direcionada para abrir uma nova linha de pesquisa, para aproveitar a demanda não suprida por certas tecnologias. São como instrumentos que, ao mesmo tempo em que iluminam o ambiente, apresentam simultaneamente as trilhas por onde a organização pode caminhar em direção ao seu destino.


E, para finalizar, isso não é fácil de fazer. Exige cérebro, mente e coração. O cérebro vai dotar a organização com os esquemas lógicos estruturantes do comportamento dos ambientes (interno e externo) passíveis de se tornar caminhos efetivos a serem trilhados. A mente vai permitir que conhecimentos novos substituam os mais antigos constantemente, sem apego, sem ideologias fúteis, abrindo-se ao novo até que a organização consiga alçar voo. E o coração representa aquele amor incontido de fazer o bem para os integrantes da organização pelo bem impagável que entrega todos os dias àqueles que não fazem parte dela.



Daniel Silva escreve todas às sextas-feiras no ac24horas  


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