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Bolsonaro entre dois mundos econômicos

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Ontem à noite, logo após uma reunião no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro se apresentou à imprensa acompanhado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. “Nós respeitamos o teto dos gastos. Queremos a responsabilidade fiscal. E o Brasil tem como realmente ser um daqueles países que melhor reagirá à questão da crise. Assuntos variados foram tratados, como privatizações, outras reformas como a administrativa”, afirmou. Tentava ali responder a seu ministro da Economia Paulo Guedes, cujo nome não foi citado mas que estava a uns metros de distância. Na terça, Guedes falara de debandada no ministério após dois secretários pedirem o chapéu. Falou ainda na possibilidade de impeachment, caso o teto de gastos seja cruzado. Mas reformas liberais não avançam e os questionamentos sobre como o presidente vê sua política econômica ressurgem. (Poder 360)


Alberto Bombig: “Paulo Guedes antecipou e colocou na ordem do dia uma angústia que Jair Bolsonaro planejava enfrentar somente adiante: o caminho mais seguro rumo à reeleição ainda passa prioritariamente pela Avenida Faria Lima (SP) ou mudou de rota e seguirá pelo sertão do Nordeste? Apesar do apoio público demonstrado pelo presidente ontem às demandas do ministro da Economia, nos bastidores a aposta é de que Bolsonaro não está disposto a largar o volante do jipe no ‘Rally dos Sertões’. Por isso, a forte sensação de que ele terá de ir além da retórica.” (Estadão)


Zena Latif, economista: “Paulo Guedes pode até decepcionar em termos de reformas, mas acho que tem compromisso de preservar a regra do teto. O risco aumentou muito de não termos isso. A crise agora é o fato de o presidente Bolsonaro ter sentido o gostinho da popularidade trazida pelo auxílio emergencial, acho que o risco aumentou. Não acredito que vai ser algo radical, do tipo revogar. Vai ser nessa linha de ir criando exceções, mantendo mais ou menos as aparências, mas fazendo isenções aqui e ali. Esse risco aumentou bastante. Essas agendas de ajuste fiscal dependem muito de ter um grande consenso. Com a Previdência foi assim. A regra do teto não tem esse consenso. Entre os economistas, há muita divisão também. O problema é que abrir um precedente nesse momento é muito perigoso.” (Globo)


José Paulo Kupfer: “A saída dos secretários especiais de desestatização e desburocratização está provocando uma ‘comoção’ em grupos que apoiam o governo Bolsonaro por suas supostas tendências liberais na economia. O ministro Paulo Guedes, fiel ao seu estilo estridente, bateu bumbo classificando os pedidos de demissão como ‘debandada’. Apesar da importância dos dois demissionários, num ministério com 10 secretarias especiais e outras 24 secretarias ou assessorias de nível superior, debandada pode ocorrer, mas ainda não houve. Com debandada ou não, o mercado, como se diz no seu próprio jargão, se um dia esteve comprado nas inclinações liberais de Bolsonaro, já se havia desfeito dessa posição. Na carteira de apoio político montada com vistas a garantir a continuidade dos esforços para reduzir o tamanho do Estado, iniciada no governo Temer, restaram apostas numa política fiscal de austeridade. Aconteceu que a pandemia veio embaralhar esse meio de campo e acabou revelando a Bolsonaro a oportunidade de se despir da fantasia de liberal que vestiu para ganhar apoios eleitorais.” (UOL)


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