A história da aviação no Acre começou no dia 5 maio de 1936, quando o lendário hidroavião Taquary “aquatissou” nas águas no rio Acre, no estirão do Bagé, em Rio Branco, onde hoje se localiza o bairro que foi batizado com o nome da aeronave, segundo registro do historiador acreano Marcos Vinicius Neves em publicação do jornal A Gazeta, em 2015.
A época era de desencanto com a crise da borracha, causada pelas plantações de seringa traficadas da Amazônia para a Malásia havia cerca de 20 anos. Nesse contexto, o então interventor federal do Acre, Manoel Martiniano Prado, proclamou que o Acre deveria entrar para a modernidade nas asas dos aviões, num tempo em que o isolamento dos acreanos era quase absoluto.
Da “ousadia” do interventor, e pela mão de obra de famílias acreanas, nasceu, então, o primeiro “Campo de Aviação” do Acre, onde passaram a pousar os aviões da Panair, da Cruzeiro e do Correio Aéreo Nacional (CAN). Era o início da história da aviação no Acre. Em pouco tempo, João Donato Filho se tornaria o primeiro piloto acreano, razão pela qual batiza um dos helicópteros do estado na atualidade.
Antes que as estradas por aqui se tornassem uma realidade, a aviação se tornou uma opção de integração entre as cidades acreanas quando apenas o lento transporte pelos rios e o telégrafo serviam de contato com o resto do mundo. A partir de 1946, a atividade se consolidou no estado com a compra de diversos aviões pelo governo, na gestão de José Guiomard dos Santos.
Com a efetivação dos voos pelo interior do estado não demoraram, porém, a ocorrer os acidentes, alguns deles de grande repercussão histórica. O primeiro registro encontrado nas pesquisas feitas pela reportagem do ac24horas foi de um desastre aéreo ocorrido em Xapuri, no dia 30 de abril de 1951, segundo o jornal oficial da época O Acre.
No acidente, morreram duas autoridades do território federal do Acre, José Raimundo de Melo e Miguel Gomes Bezerra, junto com o piloto, o tenente Manoel de Souza Fortes. Segundo informou O Acre no dia seguinte à tragédia, o avião Beachcraft-Bonanza, PP HTI “Tarauacá”, do Serviço Aéreo do Governo do Acre, caiu ao chegar a Xapuri após sobrevoar a cidade e bater em uma castanheira.
Segundo o radialista e professor Nader Sarkis, neto de José Raimundo de Melo, com base em relatos da família, o seu avô viria de barco para Xapuri, onde assumiria temporariamente o cargo de prefeito ou de delegado, quando foi avisado de que um avião sairia para a cidade. Como a viagem de subida pelo rio durava cerca de quatro dias, ele teria optado pelo voo fatal.
“Pela história que ouço desde criança, o avião caiu após o piloto fazer um voo rasante sobre a cidade, como maneira de avisar a sua noiva de sua chegada, como era habitual fazer. Após a queda, meu pai, Elias Sarkis, junto com o Afonso Zaire, se deslocou rumo ao lugar do acidente e avistou, a fumaça do avião, na região do igarapé Santa Rosa”, explica.
No dia 9 de julho de 1956, o Acre registrou um novo acidente: um avião C-47 do Correio Aéreo Nacional, da Força Aérea Brasileira, caiu após a decolagem do aeroporto de Rio Branco, matando 4 dos 20 ocupantes. Em publicação do blog Alma Acreana, assinado por Isaac Melo, é possível encontrar uma imagem dessa aeronave que pertencia ao Serviço Postal Militar Brasileiro, iniciado em 1931.
Um dos acidentes aéreos mais lembrados da história da aviação no Acre e o maior em número de vítimas fatais foi a queda do avião DC3, da empresa Cruzeiro do Sul, que viajava de Sena Madureira com destino a Rio Branco quando apresentou problemas no motor, bateu em uma árvore e caiu em um matagal na comunidade Boca do Caeté, dia 28 de setembro de 1971, deixando um trágico saldo de 33 mortos entre passageiros e tripulação.
Entre as vítimas estava o bispo Dom Giocondo Maria Grotti, que à época chefiava a Diocese da Igreja Católica no Acre. Italiano, Grotti havia feito uma visita a Sena Madureira, que havia completado 67 anos de fundação 3 dias antes. No local do episódio, algumas peças do avião ainda podem ser encontradas, como o motor e outros artefatos, onde foi erguida uma capela em homenagem ao religioso.
Na tarde do dia 23 de fevereiro de 1997, quando o avião monomotor de prefixo PT- RAG decolou do aeroporto de Sena Madureira, quando bate na Torre da Rádio Difusora e caiu. Na ocasião estava a bordo a ex-prefeita de Sena Madureira Toinha Vieira, os ex-deputados Zé Vieira e Márcio Bittar e os militares Sargentos Amorim, Major Rocha, Coronel Costa do Corpo de Bombeiros. O piloto, conhecido como Barbinha. não resistiu aos ferimentos e morreu no local(igarapé Cafezal). O acidente ocorreu durante um sobrevoo para registrar a alagação de 1997, que afetou mais de 70% da população.
Em 2002, o Acre registrou mais um grande acidente aéreo, quando o voo 4823 da Rico Linhas Aéreas, que fazia o trecho Cruzeiro do Sul – Tarauacá – Rio Branco, caiu no começo da noite do dia 30 de agosto, sob forte chuva, no momento em que se aproximava do aeroporto da capital acreana. Das 31 pessoas a bordo, 23 morreram, incluindo os 3 tripulantes. Entre as vítimas, estavam políticos, empresários, funcionários públicos.
De acordo com detalhes da Infraero, o EMB 120 Brasilia da Rico estava em aproximação a Rio Branco, quando os controladores terrestres permitiram o pouso do voo. A aeronave, em seguida, entrou em uma tempestade e logo depois impactou com a cauda do solo em primeiro lugar, a cerca de 1500 m do aeroporto. A fuselagem quebrou em três seções e um incêndio começou, danificando o avião.
Mais recentemente, no dia 18 de junho de 2006, por pouco o Acre não foi cenário de mais um desastre aéreo de grandes proporções, quando um Boeing 737 da Gol (voo 1938), que havia saído de Cruzeiro do Sul com 180 passageiros, quase se choca em pleno ar com um avião turbo hélice Tucano da Força Aérea Brasileira, a cerca de 15 quilômetros do aeroporto internacional de Rio Branco.
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O historiador Sérgio Roberto Gomes de Souza, professor da Universidade Federal do Acre (Ufac) explica que a aviação foi muito restrita, no primeiro momento de sua presença do Acre, permitindo que apenas a elite e os homens de negócios se movimentassem, passando a ter mais facilidade de chegar à capital federal. Segundo ele, “os nossos varadouros continuaram a ser os rios”.
– Eu não sei se ela representa um grande impacto na modernização porque as relações comerciais, as movimentações de mercadorias, elas eram fluviais. Então, o avião termina sendo algo que a elite lança mão, que diminui distâncias para essa elite, mas que talvez não tenha tido grande impacto nas relações socioeconômicas do Acre. No mais, nós continuamos a vagar pelos rios – afirmou.
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