A morte de um jovem de 22 anos, morador da pequena Itatiaiuçu, na região Central de Minas Gerais, acende um alerta sobre a possibilidade de reinfecção. Ele, que já tinha sido infectado pela Covid-19 em abril, voltou a testar positivo no fim de junho e faleceu na última segunda-feira por complicações da doença. O caso está sendo investigado e pode entrar para os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), que ainda não descarta o risco de uma pessoa ter a doença mais de uma vez.
“Atualmente, não há evidências de que as pessoas que se recuperaram da Covid-19 e tenham anticorpos estejam protegidas contra uma segunda infecção. É esperado que a maioria dos infectados desenvolva uma resposta de anticorpos que forneça algum nível de proteção. O que ainda não se sabe é o nível de proteção ou quanto tempo vai durar”, explica a OMS, que aguarda comunicado oficial do Ministério da Saúde sobre o caso em Minas.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que, até a presente data, não há registro oficial sobre reinfecção no Estado e que, na eventual apuração dessas situações, presta apoio técnico ao município. Já o Ministério da Saúde diz que está em contato com a pasta, que investiga o caso de reinfecção.
O técnico em enfermagem Libério Tadeu Fonseca Pereira faleceu nesta semana, no Hospital Manoel Gonçalves, em Itaúna. “Ele teve sintomas pela primeira vez no dia 17 de abril. Recolhemos o PCR dele, e o resultado deu positivo para Covid. O paciente ficou isolado. Depois, para voltar ao trabalho, fez um novo (teste) PCR, em meados de maio. Ele já tinha melhorado os sintomas, e o PCR deu negativo. Agora, no dia 26 de junho, voltou a ser sintomático, fizemos a coleta de novo do material, um novo PCR, e veio o resultado positivo. No dia 27, ele foi internado em Itaúna; no dia 28, precisou ser intubado e, infelizmente, veio a falecer ontem (dia 6)”, explicou a enfermeira responsável por epidemiologia da Policlínica de Itatiaiuçu, Gláucia de Souza Vilela.
Gláucia diz ainda que a reinfecção que vitimou Libério pode ter relação com um raro fator genético apresentado pela mãe, Edriana de Fátima Pereira Fonseca, de 44 anos, também morta pelo novo coronavírus dois dias antes do filho, no mesmo hospital.
“A mãe tinha uma alteração genética, uma síndrome muito rara, e um dos sintomas era a baixa imunidade. Chegamos a esse diagnóstico no início do ano, pois ela sofria várias infecções de repetição, adoecia com frequência e ficava mais grave, era uma pessoa mais frágil. Mas, infelizmente, não teve tempo de voltar ao geneticista ou testar outros membros da família. Ela precisava de um transplante de medula. Por esse fator, a gente suspeita que ele possa ter herdado essa condição, mas não podemos afirmar nada”, continuou a enfermeira.
“Não há relatos na medicina que falem sobre isso, mas acredito que seja pouco provável uma reinfecção. O que ocorre são pacientes que não se curam, mas passam a ser assintomáticos e depois voltam a apresentar sintomas. Há ainda casos de falso-positivo ou negativo em alguns testes”, afirmou o médico infectologista Unaí Tupinambás, professor da UFMG e um dos integrantes do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte.
O médico e secretário de Saúde de Itaúna, onde Libério foi atendido, Fernando Meira, segue linha semelhante à de Tupinambás. “Na verdade, não tem como nada ser dito de forma mais concreta, porque realmente não há a confirmação da cura completa, que seria um exame de RT-PCR negativo ou um teste rápido mostrando IgG. Então, pode ser considerada essa hipótese de não ter havido cura completa, apesar de a possibilidade de reinfecção também não poder ser descartada por completo”, explicou Meira.
Por meio de nota, o Ministério da Saúde disse que, de acordo com a literatura médica, existem casos de pacientes curados de Covid-19 que voltam a apresentar um novo episódio da doença, mas não existem certezas se esses quadros representam uma nova infecção ou uma recidiva.
Questionado se esse seria o primeiro caso de suspeita de reinfecção a ser investigado no Brasil, o Ministério da Saúde não tinha respondido até o fechamento desta edição.
Já a Secretaria de Estado de Saúde disse que nenhuma situação parecida foi registrada pelo Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes), que faz a gestão da Covid-19 em Minas Gerais.
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