O clima tenso entre o governador Gladson Cameli e o comandante da Polícia Militar, coronel Ulysses Araújo, ganha mais um capítulo nesta segunda-feira, 29, após o militar emitir uma segunda nota esclarecendo o primeiro comunicado que supostamente criticava indiretamente o governador Gladson Cameli e a prefeita de Rio Branco, Socorro Neri, responsáveis por expedir decretos de isolamento social em combate a pandemia de covid-19.
O posicionamento de Ulysses ocorreu após o episódio em que policiais militares estariam fechando comércios e camelôs. De acordo com o Coronel, no início da crise pandêmica o isolamento social foi justificado para evitar que o sistema de saúde entrasse em colapso, caso a medida de interrupção das atividades não fosse adotada. “Passaram-se três meses e o discurso permanece o mesmo. Não sabemos até quando essa situação vai perdurar, todavia essa indefinição está causando instabilidade na sociedade e essa conta não pertence à Polícia Militar, pois nossa corporação não parou um segundo as suas atividades ostensivas e operacionais nas ruas”, argumentou o comandante, sem citar os nomes das autoridades.
A mensagem foi vista pelo Palácio Rio Branco como uma afronta a autoridade do governador, que afirmou ainda no sábado que tomaria providências. Logo em seguida o comandante emitiu uma segunda nota colocando “panos quentes”.
“O Comando da Polícia Militar do Estado do Acre vem a público tornar sem efeito a nota anterior sobre a ação da Polícia Militar no camelódromo, uma vez que tomou repercussão com viés político, não sendo esta a sua intenção. Em nenhum momento a nota foi feita com o intuito de criticar as medidas de isolamento adotadas pelo governo do Estado e da Prefeitura de Rio Branco, pois sabemos que são medidas necessárias e com fundamento técnico-científico da área da saúde pública e que não está na esfera de avaliação da Polícia Militar”, aponta trecho do novo comunicado.
Questionado nesta segunda-feira, 29, se a segunda nota emitida por Ulysses resolvia a pendência, o governador, por meio de sua porta-voz, a jornalista Mirla Miranda, disse que mantém o discurso que está avaliando o caso para tomar as “devidas providências”.
Ao ac24horas, o coronel afirmou desconhecer qualquer tipo de descontentamento por parte do governador.
SUPOSTO ATRITO JÁ VEM DE ANTES
Em maio passado, Ulysses já havia criado um desconforto no Palácio Rio Branco quando confirmou que seria candidato em 2022 ao governo. Na época, Cameli cogitou em substituí-lo, mas após o militar recuar de que não seria mais candidato ficou no cargo.
Em abril deste ano, Ulysses completou 30 anos de serviço na PM, já tendo o direito de ir para a reserva. O governador teria inclusive perguntado isso para ele na época e o coronel disse que essa não era a sua intenção “pois estamos fazendo um bom trabalho”.