Em abril de 2020, o comércio varejista acreano caiu 25,9% por causa do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus. A derrocada do comércio não é exatamente uma novidade, tendo em vista que grande parte estará fechada até pelo menos o próximo dia 16 de junho, quando o governo promete flexibilizar as medidas restritivas e autorizar a reabertura de alguns segmentos.
O percentual foi divulgado na manhã desta terça-feira (16) pelo IBGE através da Pesquisa Mensal do Comércio. Frente a março, a queda em abril foi de 14,4% e o acumulado no ano de 2020 é de 5,8%. O saldo é positivo no período de doze meses, quando se leva em conta abril de 2019 e abril de 2020. O resultado é aumento de 2,6%.
A situação crítica do varejo mobiliza diferentes setores da sociedade -ou seja, o comércio não está sozinho. Levantamento do ac24horas mostra que a grande parte dos deputados estaduais, por exemplo, tem se manifestado por medidas em defesa dos pequenos negócios. O deputado Edvaldo Magalhães trata da questão em praticamente todas as sessões -e nesta terça-feira (16) voltou a falar “daqueles que estão vivendo a angústia da quebradeira”.
“O apelo que faço é que olhando a um calendário curto, de oito sessões legislativas até o recesso, e nós precisamos priorizar nossa produção”, completou o deputado do PCdoB ao pedir agilidade no debate sobre o socorro à economia do Acre.
Não há dados locais, mas segundo o IBGE, lojas de departamentos, óticas, joalherias, artigos esportivos e brinquedos fazem parte do grupo que recuou 45,6% em relação a abril de 2019, intensificando trajetória negativa iniciada em março (-18,0%). Foi a segunda maior contribuição negativa ao resultado geral do varejo (-5,6%). O acumulado no ano registrou -12,3%, ante -0,7% em março. No acumulado nos últimos 12 meses, variou 0,4%, seguindo redução de ritmo já apresentada no mês anterior (5,0%).
O varejo de combustíveis e lubrificantes, com recuo de 25,3% em relação a abril de 2019, foi a quarta maior contribuição negativa, refletindo a diminuição de pessoas e veículos, com consequente queda nas vendas de combustíveis.
Nesse cenário, muitas empresários só vão retomar o mercado com novo CNPJ, se conseguirem.
Acisa sobre pós-pandemia: algumas empresas não vão voltar
Mas, apesar da grita dos que estão fora, quem sente na pele são realmente os que vivem do varejo. “O comércio no geral perdeu. Confecção está vendendo 10% do que vendia”, exemplificou o presidente da Associação Comercial do Acre, Celestino Bento, não apenas confirmando como potencializando a pesquisa do IBGE. “Algumas empresas não vão voltar”, completou o líder classista, antevendo o mesmo que o deputado Edvaldo Magalhães: para muitos do varejo, o futuro é sombrio.
O auxílio emergencial do governo federal, dizem outros comerciantes consultados, é o que tem contido uma onda mais desesperadora de desempregados no Acre. A Federação do Comércio (Fecomércio) levantou os números do auxílio: foram injetados R$180 milhões na economia acreana no mês de abril por esse benefício. Apenas em Rio Branco, a economia local incorporou R$ 69,9 milhões no mês de abril. Em maio, são R$ 7,5 milhões até o período em que os dados foram disponibilizados pelos órgãos federais.
Mesmo os segmentos que conseguiram se manter abertos sofrem com a pandemia. Relatos revelam aumento de custo com mão-de-obra e devido aos afastamentos de pessoas do grupo de risco, foi necessário aumentar o quadro de funcionários, dizem alguns. Outros “percalços” também estão relatados.
Uns choram outros vendem lenço: supermercados se deram bem mas governo está em lágrimas
Dirigente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) do Acre o empresário Aden Araújo diz que alguns segmentos realmente tiveram queda significante mas o varejo de alimentos manteve a média dos últimos seis meses.
“Tivemos crescimento de 3% em reação ao mesmo período do ano passado”, disse Araújo, sócio de uma rede varejista que emprega milhares de trabalhadores no Acre e em outros Estados.
Acisa diz que alguns ramos, como as academias de ginástica, zeraram o faturamento
Se o comércio em geral não vende, a receita do governo cai. Em maio de 2020 a queda de todas as receitas de impostos foi de 22,57%, conforme os dados obtidos com exclusividade junto à Secretaria de Estado da Fazenda.
Em maio do ano passado, a arrecadação total passou dos R$138,4 milhões mas em maio de 2020 o valor caiu para pouco mais de R$107,1 milhões. Surpreendentemente, um único imposto conseguiu crescer no período: O Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação, ITCMD, teve sua receita acrescida em 54% em maio 2020 frente a igual período do ano passado.
No entanto, a principal fonte de receita -e é exatamente essa que tem o varejo como canalizador – o ICMS derrocou 21,46% na média de suas duas variáveis.