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O fascismo que não ousa dizer o nome

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Valterlucio Campelo

Nas últimas semanas, desde que nos EUA uma nova onda de protestos antirracistas tomou as ruas, detonada pelo horrendo assassinato de um homem negro em 25/05 por um policial branco (não importa que ele tivesse uma ficha criminal relevante para os padrões americanos), saíram de seus buracos em todo o mundo vários movimentos que se acotovelam sob o manto da denominação genérica “antifascistas” ou “antifas” (pra facilitar). No Brasil, a correia de transmissão gerou algumas ações cujo conteúdo e forma vão no mesmo sentido. 


Importa levar em conta que o prefixo anti, de origem grega, é utilizado para indicar oposição a algo sem que necessariamente identifique, defina ou qualifique o agente. Sua utilização busca apenas a bipolarização, a dicotomia, a divisão do todo em dois grupos antagônicos. Tomemos como exemplo, o campeonato brasileiro, que inicia com cerca de 80% (chute meu) de antiflamenguistas. Este torcedor não precisa ser identificado entre os outros 19 clubes, tanto pode ser um corintiano quanto um atleticano ou um tricolor, portanto, o anti qualquer coisa diz do adversário mas muito pouco de si mesmo, ele não precisa mostrar a cara, esconde-se no rebanho. Neste sentido, o “antifascismo”, assim como seus membros mascarados é, antes de tudo, covarde e oportunista. 


Outro exemplo desse truque calhorda foi dado recentemente por um grupo que, a pretexto de combater o governo atual, declarou, publicou, expandiu como pode através de agentes culturais e midiáticos sempre prontos a lamber as mãos de quem serve uma dose do politicamente correto, o slogan “somos 70%”. Daí, a conclusão infantil de que sendo maioria contra o governo, “nós, os 70%, podemos derrubá-lo”. Nós quem, cara pálida? Quem lhe deu o direito de juntar a população eventualmente insatisfeita em um ente monolítico de oposição querente um golpe? Qual o nome disso? 


É necessário compreender o que é o fascismo e, consequentemente, o fascista ao qual dizem se opor esses movimentos indefinidos. Um pouco de História. O fascismo iniciou-se na Itália logo após a Primeira Guerra Mundial, quando Benito Mussolini, ex-integrante do Partido Socialista Italiano, resolveu criar em 1919 uma nova organização política, de viés paramilitar com a atração de ex-combatentes, a que deu o nome de Fascio de Combate. Já em 1920 transformou-se no Partido Nacional Fascista e no ano seguinte conquistou 20 vagas no parlamento. Em 1922 promoveu a “Marcha sobre Roma” e conseguiu do Rei Vitor Emannuel III a nomeação para Primeiro-Ministro e as condições para formar ele próprio o novo governo. Em seguida, recuperou a economia italiana e proclamou “A Carta Del Lavoro”, que disciplinava as relações de trabalho, do capital e do governo sob orientação política corporativista. Esta é a sua origem.


Mas, o que é o fascismo? Indico para leitura rápida o texto (aqui), de Lew Rockwell, chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Alburn, Alabama-EUA, editor do website LewRockwell.com e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, The Right, and the State, onde o autor sintetiza “O fascismo é o sistema de governo que opera em conluio com grandes empresas (as quais são favorecidas economicamente pelo governo), que carteliza o setor privado, planeja centralizadamente a economia subsidiando grandes empresários com boas conexões políticas, exalta o poder estatal como sendo a fonte de toda a ordem, nega direitos e liberdades fundamentais aos indivíduos (como a liberdade de empreender em qualquer mercado que queira) e torna o poder executivo o senhor irrestrito da sociedade”. Como síntese, o próprio Mussolini estabeleceu como lema em 1920 “Tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”. Como se vê, os fascistas estão bem visíveis no espectro político e, obviamente, não são os liberais que à muito custo tentam executar sua agenda de reformas no Brasil.


É a partir daí que se pode entender um pouco da contradição teórica e da empulhação orgânica que leva o nome de “antifas”, estes que, vez por outra, aproveitando-se das oportunidades que a democracia liberal oferece, surgem para questioná-la e, tanto quanto possível, solapá-la. Em muito, os “antifas” são escarrados e cuspidos os comunistas de carteirinha, defensores da concentração da política econômica, dos meios de comunicação, educacional, agrícola, industrial e de investimentos nas mãos do Estado. Não por acaso, seus fundadores, inclusive Mussolini, vieram do Partido Socialista Italiano. 


De outra banda, mais modernosa, os “antifas” se misturam ou travestem de progressistas até outro dia chamados de black blocs, sempre dados ao vandalismo e à violência como reconheceu um de seus líderes em recente reportagem na CNN (aqui). Sua pauta, que não dispensa agressões, vandalismo, saques e roubos, compreende liberação do aborto, liberação das drogas, ideologia de gênero, questão racial, feminismo, ambientalismo, supressão da propriedade privada e qualquer grupo que se sinta sob opressão, ou, como no exemplo futebolístico anterior, qualquer time que dispute o campeonato sem ser o Flamengo. Aparentemente, defendem a diversidade, mas o que querem é o Estado realizando suas utopias, sejam novas ou mofadas. 


Enfim, o que essa gente toda tem em comum, além da empulhação de estabelecer perante a sociedade uma falsa divisão, é o verdadeiro ódio à liberdade do indivíduo. Querem, a pretexto da defesa da diversidade, concentrar no Estado o controle da vida social. Nada mais fascista! Só pra lembrar, em 1919 eles já vestiam camisas pretas. 



 Valterlucio Bessa Campelo escreve às sextas-feiras no ac24horas


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