“Núcleo duro” teme por discurso de “sessentão inconveniente” que fez Bocalom perder sucessivas vezes eleições majoritárias, com ataques fortes a adversários no lugar de projetos e propostas políticas. Partido afirma que pré-candidatura está mantida
Quem procurou por Tião Bocalom nos últimos dias não o encontrou, nem mesmo na sede de seu novo partido, o Progressistas, onde, o Pastor Reginaldo, presidente da executiva municipal é quem está autorizado a falar sobre sucessão municipal.
Isolado, em seu sítio, na cidade de Acrelândia, Bocalom deve voltar a Rio Branco esta semana. Isto porque, longe de ser consenso, as conversas desencontradas sobre sua pré-candidatura ascenderam um alerta. Será que o bom velhinho voltará mesmo à tela no horário eleitoral ou tudo não passou de uma profecia do Pastor Reginaldo?
Católico praticante, Bocalom teve sua pré-candidatura anunciada pelo pastor Reginaldo que lidera o bloco evangélico do Progressistas encabeçado pela senadora Mailza Gomes, presidente estadual do partido no Acre.
O Pastor chegou a anunciar o lançamento da pré-candidatura, mas, alguém do andar mais de cima cancelou a festa. A desculpa foi o pico da pandemia em Rio Branco e o decreto estadual que proíbe aglomerações. Mais estranho nessa história continua sendo o silêncio da senadora Mailza Gomes.
Segundo o que a reportagem apurou, a coisa não é tão simples assim. Se por um lado, o católico Tião Bocalom conseguiu unção no grupo evangélico que toca o partido do Palácio Rio Branco na atualidade, com direito a benção do Pastor Reginaldo, um velho combatente e amigo pessoal do bom velhinho, por outro, a pré-candidatura com apoio do governador Gladson Cameli enfrenta a fúria dos remanescentes do chamado Núcleo Duro.
A Casa Civil, secretário influentes e alguns conselheiros de pé de orelha do governador optaram pela reeleição da prefeita Socorro Neri. A informação passou a ter um fundo de verdade quando, o próprio governador, depois de autorizar Tião Bocalom a se viabilizar como pré-candidato, em entrevista exclusiva ao jornalista e colunista político Luiz Carlos Moreira Jorge, Cameli declarou preferência à reeleição de Socorro Neri, do PSB.
A declaração coincidiu com o cancelamento do ato de lançamento da pré-candidatura de Tião Bocalom no Progressistas e dai pra frente, ninguém tocou mais nesse assunto, pelo menos, publicamente.
A grande dúvida que paira na sede progressistas é se a executiva toca a pré-candidatura de Tião Bocalom com apoio de três deputados estaduais e a senadora Mailza Gomes, sem o apoio do Palácio Rio Branco.
Com raciocínio tão político como matemático, Bocalom tem dito a amigos próximos que aceita o desafio. A executiva tem em mãos, dados de pesquisas internas que colocam o bom velhinho no páreo, isso tem empolgado a ala progressistas.
Eleito prefeito do município de Acrelândia entre 1993 e 1996, depois, elegeu-se novamente prefeito do município em 2000 e se reelegendo em 2004. Ele participou de todas as eleições majoritárias a partir de 2006 disputando o Palácio Rio Branco com Binho Marques e Marcio Bittar.
A maior votação em uma chapa majoritária Bocalom teve em 2010, quando conseguiu 49,18% dos votos válidos na eleição contra Tião Viana, do PT. Com cinco mil votos de diferença entre os candidatos, foi a eleição mais acirrada do país.
Em 2012, na eleição para prefeitura de Rio Branco, Bocalom era disparadamente o candidato de melhor aceitação, chegando a obter mais de 65% das intenções de votos. O desempenho na telinha da TV não foi o esperado. Um discurso raivoso, com ataques e criticas ao adversário, fizeram com que a aceitação popular de Tião Bocalom despencasse. Bocalom ainda foi para o Segundo Turno das Eleições com Marcus Alexandre, mas perdeu com uma diferença ainda menor que 2010, por menos de 3 mil votos.
Em 2014, Bocalom foi pela terceira vez consecutiva candidato ao governo, desta vez, com votação abaixo do esperado, não passando sequer para o Segundo Turno das eleições em disputa com Tião Viana e Marcio Bittar.
O eterno candidato, como passou a ser conhecido a partir de 2018, decidiu por uma candidatura a deputado federal, pelo PSL, partido de Bolsonaro. Foi o terceiro candidato a deputado federal mais votado na cidade de Rio Branco e o mais votado na cidade de Acrelândia, onde foi prefeito. No entanto, mesmo conseguindo ser o quinto mais votado no Estado, não conseguiu ser eleito.
Este ano, no apagar das luzes do prazo eleitoral de filiações, Bocalom decidiu sair do PSL e assinou a ficha de adesão ao partido do Palácio Rio Branco, com a promessa de ser o candidato com apoio de Gladson Cameli.
Remanescentes do Núcleo Duro que aconselham o governador Gladson Cameli sobre o discurso de “sessentão inconveniente” que fez Bocalom perder sucessivas vezes uma eleição majoritária, com ataques fortes a adversários no lugar de projetos e propostas políticas.
O episódio da água mineral e vaca mecânica [defendido por Bocalom na eleição de 2010] ainda não saíram da cabeça do eleitor. O “núcleo duro do palácio Rio Branco” prefere o estilo elegante e o tom de mansidão da prefeita de Rio Branco, Socorro Neri, que parece soar muito bem nos ouvidos até do possível marqueteiro da campanha. O slogan “Força Máxima” na parceria anunciada em Rio Branco seria uma pista de que esse acordo está muito avançado.
As propostas têm rachado o núcleo de convivência mais próxima do governador que, focado no enfrentamento da pandemia da Covid-19, não quer ouvir falar no assunto de sucessão municipal até que a curva de infecção baixe totalmente.
Outro problema é a avaliação da prefeita Socorro Neri perante a população, que pelas pesquisas feitas pelo Palácio Rio Branco, não são animadoras.
Com o Tribunal Superior Eleitoral ditando novas regras para as eleições desse ano, uma delas a autorização para realização de convenções virtuais, os partidos começam a se movimentar em torno de seus pré-candidatos. Afinal, nenhum quer fazer feio visando as eleições de 2020.