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Operação Buracos 2

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Esta semana o trabalho me fez ir de Rio Branco a Cruzeiro do Sul de carro e eu imaginava que a estrada estivesse bem melhor do que o estado que encontrei. Embora o processo de pavimentação já tenha sido concluído há algum tempo e diversos trechos ruins tenham sido recuperados e até refeitos, os defeitos originais da má construção insistem em reaparecer e proporcionam situações bastante perigosas ainda.


Por todo o percurso existem equipes consertando buracos e deslizamentos que não param de ocorrer. Parece que quando chegam no final de um trecho recuperado, o início já está todo danificado novamente. Dirigindo, por alguns momentos a gente consegue se empolgar com um estirão de tapete, mas os buracos ressurgem parece que do nada.

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Um defeito que ocorre em quase todo o percurso é o deslizamento dos aterros, deixando a estrada, às vezes, com menos de meia pista. Alguns mais antigos são melhor sinalizados e protegidos, porém os mais recentes nos pegam de surpresa, assim como muitas valetas e locais onde o pavimento afunda ou rompe.


Percorrer esses seiscentos e poucos quilômetros observando a estrada com olhos de engenheiro chega a ser uma sessão de tortura. Ver que uma extensão recém pavimentada, que nem teve a sinalização pintada novamente, já está toda esburacada dá tristeza e até um certo constrangimento. Estradas são feitas para não terem manutenção por muitos anos e não para viver de tapa-buracos constantes.


O senso comum associa os problemas que encontramos na BR-364 à qualidade e à espessura do asfalto aplicado. Não é raro quando alguém me diz coisas como “os buracos abrem porque fizeram um asfalto muito fino”. Mas isso não é necessariamente uma verdade. O problema, geralmente, está muito mais embaixo, nos aterros mal compactados e nas camadas de base, feitas com materiais inadequados ou sem os cuidados básicos de compactação e controle da umidade correta do solo.


O asfalto é como o ladrilho cerâmico que colocamos no piso. Vai afundar ou quebrar todo se o terreno embaixo não tiver sido bem compactado ou o contrapiso for mal feito. Para isso há técnicas de execução e controles de laboratório que precisam ser seguidos, mas que parecem terem sido bastante negligenciados alí.


Diz-se também que o solo em nossa região é muito ruim e inadequado para as estradas e isso é uma realidade. Materiais argilosos e muito expansivos são mesmo comuns. Um amigo certa vez definiu a tabatinga branca, comum nas proximidades de Manoel Urbano, como uma mistura de sabão com durepoxi. Mas há regiões de solos tão ruins ou muito piores mundo afora onde as estradas são de excelente qualidade e recebem tráfego muito mais pesado e intenso que a nossa.


Não é por acaso que o custo de construção da BR-364 foi orçado em valores muito superiores à média brasileira. Solos locais teriam que ser substituídos em grande quantidade por materiais de jazidas distantes, elevando o custo de transporte, ou misturados a aditivos para melhorar sua qualidade, como o cimento, por exemplo, usado em trechos próximos a Tarauacá.


Os buracos que aparecem o tempo todo são consequência dos problemas que ocorrem muito abaixo deles, deixados pelas obras mal feitas. Para acabar com eles é preciso substituir os materiais ruins em grande profundidade, construir drenagens e proteger os taludes e bueiros que provocam os deslizamentos laterais. O preço disso é enorme.


Enquanto isso, a recomendação que deixo é de que você redobre a atenção quando estiver na BR-364, modere na velocidade e não olhe a estrada como um engenheiro. Isso evita acidentes e a vergonha por ter pago, nos impostos, por tanto dinheiro fora.




 

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Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.


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