Uma pergunta constrangedora ronda a cabeça de quase todos os atuais profissionais da educação: o que é aprender? É difícil encontrar quem ouse respondê-la de forma consistente porque terá que se formular e responder para si mesmo uma outra, ainda mais dilacerante: os alunos realmente aprendem? Essa segunda questão remonta a uma terceira: o professor sabe para que possa ensinar? A Nova Educação exige profissionais que estejam seguros para responder a essas e outras questões de mesma magnitude. Se o profissional não sabe o que é aprender, como pode ter a garantia de que seus alunos estão aprendendo? E estão aprendendo o quê? Para quê? A Nova Educação tem um caráter teleológico, vale dizer, um fim bem determinado: ser feliz. E não há outra forma de conquistar a felicidade que não seja pela ação. Neste sentido, este ensaio tem como objetivo mostrar que aprender é ter habilidade de ação.
Ainda hoje predomina a ideia de que o professor é aquele indivíduo que ensina a alguém alguma coisa. Essa ideia de transferência fere mortalmente os atuais conhecimentos que se tem sobre o cérebro e seus mecanismos de aprendizagem. No fundo, ninguém é capaz de ensinar praticamente nada a ninguém. A aprendizagem é um fenômeno individual que, no máximo, pode ser estimulada, se os canais de comunicação emocionais com o cérebro não estiverem bloqueados, como é o caso de situações de raiva e perturbações ambientais. A Nova Educação precisa retirar o professor do centro das atenções e colocá-lo em um lugar mais nobre, que é o de facilitador da autoaprendizagem, desde a mais tenra idade até os últimos dias de existência do indivíduo. Aprender é um desafio humano do indivíduo para consigo mesmo. Nada, portanto, de se comparar com os outros, de maneira que as competições não têm sentido.
Aprender é uma atitude emocional, por mais esquisito que isso possa parecer aos olhos de quem não conhece o funcionamento do cérebro. É o que acontece naturalmente com as crianças, que se encantam com o mundo e a vida e direcionam suas atenções no sentido de conhecê-los, torná-los íntimos. Diferentemente da castração feita nos modelos pedagógicos atuais, a Nova Educação provém esses momentos com os entusiasmos e motivações para que o processo de aprendizagem flua naturalmente e que os aprendizes construam suas explicações. Os professores precisam se abster de fornecer as explicações, as suas explicações. O que importa, na Nova Educação, é a habilidade de gerar esquemas lógicos, de produzir explicações, de forma que as explicações que os professores possam ter (e todas são relevantes) precisam ficar à margem do processo de autoaprendizagem. Professor não ensina; professor conduz a autoaprendizagem.
É preciso esquecer também a ideia de tempo. Não é possível ter um tempo igual para todos os indivíduos em uma turma. Cada qual tem o seu tempo de aprendizagem, suas dificuldades, seus desafios, suas facilidades. Aqui, mais importante do que o tempo é a qualidade da explicação que foi gerada, entendida qualidade em forma de simplicidade e capacidade de demonstração. Sim, a nova educação não se contenta com falatório, discurso. Ela é consequente. Não basta falar. É preciso demonstrar. Por essa razão, deve sair de cena a ideia antiquada de disciplinas. O mundo não é dividido em tempo de matemática, tempo de português, tempo de geografia ou rua da química, bairro da física ou esperança de educação física.
A vida é isso: desafio e enfrentamento. A primeira parte para aprender a viver é saber o porquê das coisas, dadas pela construção de esquemas lógicos, explicações sobre os fatos e fenômenos do mundo; a segunda é o teste da solidez das explicações inventadas. “Por que a folha não afunda em um tanque com água?”, alguém poderá se perguntar. Diversas explicações podem ser inventadas. Cada uma precisa ser testada para ver se funciona. Pode acontecer de nenhuma delas funcionar, mas pode ser o caso de várias delas serem demonstradas com sucesso. Em todas as situações, novas e consistentes aprendizagens são produzidas.
A vida é isso: muito provavelmente não haverá uma única solução para um mesmo problema. E isso é fundamental para fazer desmoronar uma série de impedimentos ao avanço da humanidade em direção a um mundo mais feliz, impedimentos que são verdadeiras prisões psíquicas a que os aprendizes são submetidos desde a primeira infância e que teimam em perdurar por toda a vida. Quase todas essas prisões são decorrentes da via única para tudo, mentalizações doentias de indivíduos que imaginam que as formas de pensar e resolver problemas que os outros têm são quase sempre inferiores às suas. A Nova Educação demonstra justamente o contrário: há diversos caminhos que levam ao mesmo destino.
Aprender é ter consciência disso, ser capaz de demonstrar isso: que é agindo que construímos a felicidade para nós. Mas para agir é preciso conhecer, entender o porquê, e, tão importante quanto, ser capaz de demonstrar. A cada demonstração o aprendiz vai confirmar que a felicidade que procuramos advém da nossa capacidade de fazer o bem para os outros. Aprender a agir significa, portanto, ser capaz de fazer o bem para o outro. E isso vai levar à descoberta de que o outro não é o inferno e tampouco opressor ou oprimido, como antigas e infantis lições teimam em perpetuar. O outro é sempre o nosso parceiro na conquista da felicidade, não importando quão difícil seja lidar com ele, fazê-lo feliz.
O modelo educacional predominante hoje provoca uma cisão entre a escola e outras instituições educacionais. É preciso torná-las agentes do desafio de preparar os indivíduos para a conquista de suas felicidades. Todas elas devem dirigir seus esforços para que os aprendizes sejam capazes de perceber desafios e enfrentá-los de forma altiva. Nada de se melindrar ou amedrontar com o que a vida se lhes apresenta. E aprender é fazer justamente isso: saber por que as coisas são como são e agir. É isso o que faz com que o mundo e a vida façam parte da intimidade de cada um. E a intimidade é a componente essencial da felicidade. Ninguém é feliz com o desconhecido. E tornar o desconhecido conhecido para lidar com ele é o foco da Nova Educação.
Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.
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