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Os primeiros números dos impactos da Covid-19 na economia acreana 

Por
Orlando Sabino

Nosso objetivo hoje é destacar os impactos de alguns indicadores econômicos frente às medidas governamentais tomadas no enfrentamento ao novo coronavírus que, desde meados de março, circula pelo território acreano. Foram medidas voltadas para redução dos efeitos colaterais do avanço da doença e redução de contágio. Medidas que se baseiam em determinações da Organização Mundial de Saúde – OMS com o objetivo é frear a cadeia de transmissão, evitando a saturação da nossa débil estrutura de saúde como leitos e UTI’s. O isolamento social minimizaria o número de infectados, permitindo ao sistema de saúde tratar os doentes mais graves. Vamos trazer os últimos números dos setores da indústria, do comércio, dos serviços e da agropecuária. Reflexos também sobre o comércio exterior, sobre o emprego e sobre a inflação. Utilizaremos sempre as últimas informações disponibilizadas pelas instituições responsáveis pelas publicações. Vamos dar um crédito especial aos dados publicados pelo Observatório do Fórum Permanente de Desenvolvimento do Acre, que disponibiliza mensalmente boletins e informativos sobre a conjuntura econômica do Acre, através do seguinte endereço eletrônico: http://observatoriodoacre.org.br/.


INDÚSTRIA


Embora o estado do Acre não faça parte da Pesquisa Industrial Mensal Regional realizada pelo IBGE, sugere-se que fatalmente a indústria acreana não fugiu à tendência do cenário nacional, realizado em 15 localidades do país. Conforme a pesquisa, a pandemia de Covid-19 interferiu diretamente para a queda da atividade industrial do país na passagem de fevereiro para março. Foi a primeira vez em oito anos que todas as localidades recuaram. A queda do setor no país em março foi de 9,1%. Na Região Norte, os únicos estados pesquisados foram, o Pará que caiu 12,8% e o Amazonas que apresentou queda de 11%. Recuos mais intensos do que a média nacional. Em entrevista concedida ao Ac24horas no dia 30/3/2020, o Presidente da FIEAC estimou uma queda em 20% da atividade industrial no estado.


 COMÉRCIO


Conforme o IBGE, enquanto o volume das vendas no comércio varejista no Brasil caiu 2,5%, em relação a fevereiro, no Acre, recuou 15,7%, variação superada somente por Rondônia (-23,2%) e o Amazonas (-16,5%). Já no varejo ampliado, que inclui as atividades de Veículos, motos, partes e peças e de Material de construção, o Acre apresentou a terceira maior queda dentre os estados, com 19,4%, ficando à frente apenas de Rondônia (-23,8%) e Sergipe (-20,0%).


SERVIÇOS


O volume de serviços no Brasil caiu 6,9% em março, em comparação com fevereiro, alcançando o pior resultado do setor na série histórica da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, iniciada em janeiro de 2011. No Acre, a queda foi de 7,9%, a décima maior queda dentre os estados federados. Segundo o IBGE, essa queda é motivada, em grande parte, pelas paralisações que aconteceram nos estabelecimentos, sobretudo nos restaurantes e hotéis, que fazem parte dos serviços prestados às famílias. Outras empresas também sentiram bastante depois do fechamento parcial ou total, como os segmentos de transporte aéreo e algumas empresas de transporte rodoviário coletivo de passageiros.


AGROPECUÁRIA 


Acompanhando os outros indicadores da economia que acumulam perdas em razão da pandemia de Covid-19, no Acre, a safra de grãos deve apresentar uma queda de 4,2% na comparação com a colheita de 2019, uma diferença de quase 4 mil toneladas, chegando a 86 mil toneladas em 2020, segundo a estimativa de abril do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado no dia 12/5 pelo IBGE. Mesmo o estado apresentando um crescimento estimado de 484% para a soja (quase 7 mil toneladas), essa queda na comparação anual deve-se, principalmente, a queda na produção de milho da segunda safra (-30,9%), arroz ( -29,9%) e do feijão (-16,7%). Ainda não estão disponíveis os dados para o desempenho da pecuária no Acre. Porém, no último dia 14/5, o IBGE publicou uma estimativa para o Brasil. Os dados indicam que o abate de bovinos caiu 9,2% e o de suínos e frangos subiu 5,0% e 4,8%, respectivamente, no primeiro trimestre de 2020, na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo os resultados preliminares da Estatística da Produção Pecuária.


INFLAÇÃO 


A cidade de Rio Branco teve deflação de 0,51% em abril, após ter registrado um leve aumento de 0,01% em março. O resultado é a menor variação mensal do ano, superando a de janeiro que chegou a -0,21%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, divulgado no dia 08/5 pelo IBGE. No acumulado do ano, o IPCA de Rio Branco também registrou deflação de -0,22%. Assim como a nível nacional, o resultado de abril para Rio Branco, foi muito influenciado pela série de reduções nos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina, que caiu bastante e puxou o índice para baixo, como também os artigos de residência.


EMPREGO


A taxa de desocupação no Acre permaneceu estável em 13,5% no primeiro trimestre deste ano, uma baixa de 0,1 ponto percentual (p.p) na comparação com o último trimestre de 2019, segundo a PNAD Contínua divulgada no dia 15/5, pelo IBGE. O Acre soma 46 mil desempregados. Portanto, a pesquisa do IBGE ainda não detectou o desemprego da força de trabalho, cujo impacto deve ser aferido na pesquisa do segundo trimestre de 2020.


COMÉRCIO EXTERIOR


No Acre, em abril, as exportações diminuíram 30,9% em relação ao mês anterior e 16,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Quanto às importações, houve uma queda drástica de 86,6% em relação ao mês anterior e 83,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O Acre exportou em abril US$ 2,4 milhões e importou US$ 25 mil, conforme dados publicados pelo Governo Federal.


Como demonstrado, todos os setores estudados demonstraram uma queda em suas atividades. Conforme dados publicados em 18/5 pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, a expectativa para o desempenho do PIB é de uma contração expressiva no segundo trimestre de 2020, que pode atingir a marca de -10%. O certo é que que a crise econômica está intrinsecamente ligada à crise sanitária, uma vez que as restrições de mobilidade desaceleraram os fluxos de oferta e demanda, dificultando o funcionamento dos mercados e não há outra forma de contenção da propagação do coronavírus sem isolamento social. Contudo, como já abordei em artigos anteriores, as possibilidades de contenção e amortecimento da crise econômica são mais amplas. O Estado possui instrumentos fiscais, monetários e jurídicos para lidar com a desaceleração econômica e seus efeitos sobre a sociedade, esse é um de seus papéis mais importantes. Algumas medidas já foram tomadas, embora suas execuções estão acontecendo num ritmo muito lento, como é o caso do auxílio para a manutenção da renda das famílias, que garantiria a satisfação de suas necessidades e daria uma sobrevida ao mercado. Um outro exemplo que não está acontecendo é uma ampla oferta de crédito, em condições especiais para as empresas, principalmente os micros e pequenos negócios. Reforço também a necessidade da ampliação dos investimentos públicos, principalmente na construção civil, pela sua ampla capacidade de gerar empregos. Portanto é preciso aperfeiçoar, dar uma maior aceleração e ampliação aos instrumentos de políticas públicas para que os efeitos possam acontecer.




 


 


Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.


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