Medo do impeachment e postura do governador do Acre em favor do isolamento social corrobora para que Paulo Roberto Correia da Silva deixe o cargo nos próximos meses
O atual superintendente da Sudam, Paulo Roberto Correia da Silva, cunhado do governador Gladson Cameli, pode estar com os dias contados no cargo responsável por gerir recursos para o desenvolvimento da Amazônia. É o que indica uma série de reportagens de jornais de circulação nacional que informam neste mês de maio sobre o esforço anti-impeachment do presidente Jair Bolsonaro que estaria disposto a negociar cargos com políticos e partidos do centrão.
Segundo as publicações da Exame, Estadão e Folha de São Paulo, uma das joias mais cobiçadas pelos partidos do centrão neste ano de eleições municipais seria o Ministério do Desenvolvimento Regional. A pasta comandada por Rogério Marinho tem orçamento de R$ 33,2 bilhões para pequenas obras nos grotões.
O Palácio do Planalto ofereceu ao Progressistas, sigla presidida pelo senador Ciro Nogueira (PI) – uma das estrelas do Centrão citadas na Lava Jato -, cargos no Departamento Nacional de Obras contra as Secas, o Dnocs.
Subordinado ao ministério, o Dnocs já é controlado pelo grupo do deputado Genecias Noronha (SD-CE), que indicou o diretor-geral, José Rosilônio Araújo. O Progressistas, antigo PP, ainda recebeu oferta de diretorias na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De acordo com o apurado, o governo decidiu negociar cargos em outros setores da pasta, como a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que tem orçamento previsto de R$ 1,6 bilhão neste ano, a Agência Nacional de Águas (ANA) e os órgãos de desenvolvimento regional Sudene, Sudeco e Sudam, gerenciada pelo cunhado de Cameli.
Uma parte desses cargos foi oferecida ao PL de Valdemar Costa Neto. Condenado no mensalão e investigado pela Lava Jato, o ex-deputado deverá ter, ainda, postos no Banco do Nordeste, na Saúde, nas agências reguladoras e conselhos de estatais.
Em julho de 2019, Paulo Roberto estava ameaçado de perder o cargo, mas foi salvo após intervenção de Cameli, que naquele período estava em “lua de mel política” com Bolsonaro. Cameli teria pedido ao presidente, na frente dos parlamentares da bancada acreana. O ac24horas apurou na época que o presidente já estava com o decreto de exoneração de Paulo Roberto assinado sob a argumentação de que ele “era comunista”.
“Presidente, antes de mais nada, quero aqui, diante da minha bancada, lhe pedir um grande favor. O meu cunhado – Paulo Roberto Correia – não é comunista; é um profissional capacitado, que está sendo vítima de interesses de políticos que querem o seu cargo de superintendente. Por favor, mantenha ele na sua equipe que saberei lhe agradecer”, disse o governador ao se referir aos votos dos deputados e senadores em favor da reforma da previdência.
Bolsonaro, de fato, de acordo com os presentes na reunião demonstrou saber do que se trata e sorrindo falou que o governador salvou o cunhado da degola aos 45 minutos do segundo tempo e de imediato pediu a um assessor que estava na reunião que fizesse uma ligação para ele. E no telefone – não se sabe com quem falou -, determinou ordem expressa. “Olha, a demissão do comunista da Sudam eu quero que cancele. O cunhado dele está me garantindo que ele não é comunista e sim simpatizante do nosso modelo de governo”, teria afirmado o Chefe do Palácio da Alvorada.
Mas passado quase um ano após o episódio, o cenário mudou com a pandemia do Covid-19 e por diversos momentos Cameli e Bolsonaro ficaram em lados opostos. Enquanto o governador do Acre defendia o isolamento social, o presidente queria o retorno ao trabalho da população. Essa postura de Cameli reforçou ainda mais a possibilidade do cargo do cunhado ser negociado como barganha com o centrão.
Segundo o ac24horas apurou, o governador já estaria ciente desse processo de “fritura” do cunhado, tanto que ainda não teria escolhido o novo chefe da Secretaria de Fazenda, esperando o desenrolar desse caso na esfera federal. Ele espera que seu partido, o Progressista, amenize a situação junto a Bolsonaro e teria pedido apoio dos senadores Sérgio Petecão (PSD), Mailza Gomes (Progressistas) e Márcio Bittar (MDB).
Atualmente o cargo de secretário de fazenda é ocupado pelo servidora Wanessa Brandão, que era adjunta de Semírames Dias, que deixou o cargo recentemente para voltar a trabalhar no Tribunal de Contas do Estado do Acre, seu órgão de origem.
Segundo fontes de Brasília, Paulo Roberto também contaria com apoios importantes para continuar no cargo, como o próprio ministro da pasta e também do vice-presidente, general Hamilton Mourão, que reconhecem o trabalho realizado por ele na Sudam.
Procurado pelo ac24horas para comentar sobre as supostas articulações, Paulo Roberto afirmou que teoricamente o cargo poderia estar sendo cogitado na Sudam não seria a superintendência, mas sim uma vaga de diretor de planejamento que está vago.
“Independente disso, entendo que é uma função de confiança, onde dormimos no cargo e acordamos fora, mas de qualquer forma conto com apoio de parlamentares da bancada do Acre, Roraima e Tocantins em apoio ao nosso trabalho. A priori, a superintendência não seria o foco, mas estamos falando de política, onde tudo é possível”, enfatizou.
Correia ressaltou ainda a importância de sua continuação na Sudam. “Existem mais de R$ 100 milhões de projetos da Sudam sendo executados no Acre. É interessante a continuidade disso, mas caso eu não fique, tenho certeza que esses projetos não irão parar”, frisou.
O governador Gladson Cameli foi procurado pela reportagem, mas não deu retorno.
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