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Direito de viver no governo Bolsonaro

Por
Luiz Calixto

Entre outros aspectos, a pandemia do coronavírus tem revelado o lado mais perverso e insensível de muitos que a gente vê como seres humano.


A quantidade desse rebanho é muito superior ao que imaginávamos. Em verdade, essa tragédia sanitária deu origem a um novo estrato social, os abutres humanos.


Volta e meia leio escritos de gente até bem formada a cobrar a divulgação das estatísticas de mortes cujas causas tenham sido patrocinadas por outras doenças.


A impressão deixada é que isso relativiza a situação e, ao que parece, conforta-os: se as pessoas morrem de tuberculose, diabetes descompensadas ou quaisquer outras doenças autoimunes, para eles não têm problemas.


De outro lado, ao ler as notícias obituárias, a pressa é para saber se as vítimas não tinham as tais comorbidades, aliás, um vocábulo fúnebre.


Se eles tinham históricos de riscos ou mais de 60 anos então parece que a gravidade do problema diminui, dado que já estariam condenadas à morte.


Ah! Fulano faleceu, mas tinha diabetes, hipertensão, estava com mais de 60 anos, também tinha problemas renais e cardíacos e já sofria disse tudo há muito tempo.


Os abutres que se acham humanos e racionais esquecem que sem a contaminação pelo maldito e desconhecido vírus as pessoas teriam o direito de viver mais. Desprezam que as famílias deles, e as nossas, também teriam o direito de desfrutar de suas vidas e que a despedida não estaria sendo tão desapartada e dolorosa.


As carpideiras só não admitem que o diagnóstico seja coronavírus, pois isso é motivo de desgaste político do ídolo, o Dr. Morte, cujas atitudes os empurra para a sepultura.


Bolsonaro mantém sua popularidade em alicerces de ignorância, alimentada por frases interpretadas pela metade ou milimetricamente elaboradas por seu gabinete do ódio e espalhadas por seus criminosos robôs nas redes sociais.


Quando o “capitão” da insanidade afirma que 70% ou mais sequer sentirão os sintomas do coronavírus, isso é verdadeiro, mas não é a verdade em toda sua extensão.


Esquecem de acrescentar uma constatação macabra: daquele total, 5% desenvolverão sintomas graves, para os quais serão necessários ventiladores, respiradores e UTIs. É uma multidão suficiente para colapsar qualquer sistema de saúde pública, por mais estruturado que possa ser, no Acre ou Nova Iorque.


Sem falar nos 10 milhões que esse percentual representa no total da população brasileira, fiquemos no exemplo apenas no Acre: 5% da nossa população significa 40 mil pessoas. Não há a menor possibilidade de atendimento para uma quantidade de pacientes dessa ordem.


Se a previsão estatística anunciada pelo próprio Bolsonaro acontecer, muita gente vai morrer em casa, infelizmente.


Em suas bazófias populistas Bolsonaro gaba-se dizendo que, se ele sobreviveu a uma facada por que não resistiria a uma gripezinha?


Não restam dúvidas de que ele foi um ponto fora da reta, mas não se pode olvidar da seguinte reflexão: se naquela gigantesca manifestação de apoio ao candidato Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), 1% das pessoas presentes tivessem sido esfaqueadas por outros Adélios, não haveria UTIs e cirurgiões para atender a todos. A maioria delas não estaria contando a história.


Portanto, essa alegação de resistência atlética do presidente não se sustenta ante qualquer consciência sã.


Ora, se o presidente, que deveria ser o exemplo de cumprimento das regras sanitárias, é o primeiro a incitar a desobediência, o que se esperar, então, de quem precisa sair de casa para ganhar o pão de cada dia?


Aqui na nossa aldeia, o governador Gladson Cameli e a prefeita Socorro Neri, em que pese o esforço e dedicação de ambos nesta causa, não estão imunes ao bombardeio da artilharia de “ bolsominions”, que nem em suas administrações deveriam estar.




 


 


Luiz Calixto escreve às quartas-feiras no ac24horas.


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