Maio está quase terminando e já começam a aparecer notícias sobre o aumento no desmatamento aqui pela Amazônia. Tanto o monitoramento DETER, realizado pelo INPE, oficial, quanto o SAD, do Imazon, uma entidade não governamental, mostram crescimento das áreas onde a floresta foi suprimida recentemente.
A base desses trabalhos é praticamente a mesma: uma constelação de satélites ‘fotografa’ a Terra continuamente e as imagens obtidas em cada passagem são comparadas com a da passagem anterior, verificando se houve alguma modificação. Dependendo da ‘resolução espacial’ dessas imagens, eles conseguem identificar desmatamentos entre um e três hectares com uma boa precisão. No período de seca, quando não há nuvens para perturbar as comparações, é possível acompanhar a evolução semanal ou quinzenalmente, dependendo da origem das imagens usadas.
Além disso, há excelentes indicadores dados por outros sensores dos satélites que não sofrem interferência das nuvens, como os radares e as detecções de focos de calor, cujos dados são diários.
A automatização dessas informações é muito útil para quantificar e localizar o problema, mas para que seja enfrentado não basta esse conhecimento. É preciso que a fiscalização caia em campo, preferencialmente quando as ações irregulares estiverem em curso, bloqueando as queimadas e os cortes, apreendendo equipamentos e autuando os infratores.
Tecnologia é fundamental, mas a ação de campo exige uma infraestrutura que está a cada dia mais debilitada. Ibama, ICMBio, com apoio de Exército, polícias ambientais etc eventualmente realizam operações pontuais que mal são suficientes para enxugar gelo. Chegar a cada um desses locais exige uma logística enorme, com estrutura de apoio em campo, veículos que enfrentem estradas em péssimas condições, navegar por rios e igarapés na época seca, sobrevoar regiões com baixa visibilidade e muita fumaça.
Além do que, a Amazônia é um continente de cinco milhões de quilômetros quadrados onde a irregularidade fundiária faz sobrepor terras públicas, áreas de proteção, assentamentos de reforma agrária e posseiros de toda sorte.
No Acre, voltamos ao problema que, até aqui contribuiu este ano com apenas 1% do total medido na região. A seca está só começando e as queimadas idem. Em agosto e setembro, quando as queimadas estiverem no pico, teremos um enorme agravante sobre as doenças respiratórias que já são preocupantes pela ação do Covid19.
A pressão para a conversão das florestas em pasto é cada vez maior nas áreas extrativistas como a Chico Mendes e Antimary e em pequenas propriedades ao longo dos principais rios e estradas. Por trás disso há uma discussão econômica e política que não pode ser ignorada.
Há pouquíssima eficácia em se autuar um posseiro ou um pequeno extrativista. Embargar determinados imóveis dá muito trabalho, mobiliza uma equipe enorme de fiscais em campo, entope os sistemas com dados, e surte nenhum efeito prático. É necessária também alguma outra estratégia que enfrente os mecanismos econômicos que alimentam a irregularidade.
Não dá mais para tratar apenas criminalmente o que é regulado por um mercado para o qual fazemos questão de fechar os olhos.
Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.