José Adriano*
Com mais de três meses de pandemia no Brasil e o Acre completando quase 60 dias de registro do primeiro caso do novo Coronavírus, os números nacionais de infectados pela Covid-19 já ultrapassam os 230 mil, com um total de mortes que já se aproxima de 16 mil pessoas.
Nosso Estado, pelo que observamos, se aproxima da média da Região Norte, na casa dos 1,8 mil casos confirmados e, lamentavelmente, 59 óbitos até o momento. Desta forma, podemos atestar que os índices de contaminação da doença, inicialmente em 17% para os primeiros 30 dias, hoje se mantêm em torno de 10,50%, indicando uma tendência de redução e trazendo o Acre para uma média da maioria dos estados brasileiros.
Durante estes 90 dias que a epidemia chegou ao Brasil, temos observado a movimentação dos nossos governantes em implementar ações para coibir a propagação do vírus entre as pessoas, como, por exemplo, o isolamento social, restrições a diversas atividades econômicas, uso obrigatório de máscaras, recomendações de higienização e outras. Tudo para justificar a decretação do estado de calamidade pública e a partir daí receber a atenção e recursos do governo federal, bem como as flexibilizações da legislação.
Entretanto, nota-se que as consequências dessas duras medidas foram devastadoras para o setor empresarial, com perdas de receitas, desemprego, além de queda na arrecadação de tributos por parte dos poderes Executivos. E assim, também verificamos uma certa miopia por parte de nossos governantes, já que essas decisões rígidas não vieram acompanhadas de estratégias que pudessem mitigar um crescimento exponencial da desocupação e perdas de milhares de postos de trabalhos.
São medidas que não produzem efeitos mensuráveis a ponto de aferirmos sua eficácia, porém, induzidos pela desinformação, alguns bajuladores se negam a ver que ao mesmo tempo em que priorizam tais medidas, os governos não agem com efetividade na melhoria e ampliação da capacidade de atendimento em saúde para a população, ou, pelo menos, não tem divulgado quais ações concretas está trabalhando. Por isso, as seguintes perguntas necessitam de respostas:
– Por que os leitos de UTIs ainda estão abaixo da média (10 leitos para cada 100 mil habitantes) estipulada pelo Ministério da Saúde?
– Por que enfrentamos com frequência a falta de medicamentos, EPIs, respiradores, reagentes para exames e outros produtos essenciais para enfrentar a pandemia?
A construção, mesmo que tardiamente, de hospitais de campanha, sinaliza para ações efetivas que respondem em partes estes questionamentos, embora todos os processos de contratações estejam cheirando a oportunismo de alguns espertalhões. Nem precisa ser um especialista em saúde para constatar que estamos longe de ações coordenadas e planejadas que inspirem a confiança da sociedade e o apoio irrestrito de todos os setores da economia.
Agora, sem qualquer discussão com a sociedade, e, ao nosso ver, também “contaminada” pela epidemia de medidas ineficazes contra a Covid-19, a capital acreana cumprirá um decreto que proíbe a circulação de veículos, sem levar em consideração os efeitos catastróficos de aglomerações obrigatórias em transportes coletivos, com resultados quase imperceptíveis de redução de contágios, como temos visto em estados como Maranhão e São Paulo – que adotaram medida semelhante.
Por outro lado, somados às inúmeras obrigações em função da pandemia, trabalhadores e patrões se veem novamente em um conflito de sobrevivência e que desencadeará mais uma vez uma onda de demissões e aflições, ampliando a massa de miseráveis e as mazelas sociais decorrentes.
Esperamos e confiamos que os próximos passos de nossos governantes sejam de coerência, liderança, coragem e sensatez, ao invés de seguir com a multidão para não se desgastar em ano eleitoral. A conta vai chegar e talvez as pesquisas de opinião encomendadas não incluam as perguntas necessárias e sequer conseguirão também mensurar a realidade da economia após a pandemia de decretos ineficazes publicados.
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José Adriano é presidente da Federação das Indústrias do Acre (FIEAC)
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