Ao homem prudente cumpre observar um provérbio de origem romana, que frequentemente contém meus ímpetos opinativos. Em latim, “Ne sutor ultra crepidam”, em português “Não vá além das sandálias”. A frase teria sido uma reclamação de um pintor a um sapateiro que insistia em criticar seu quadro. Hoje, se poderia atualizar a admoestação para “cada um fique no seu quadrado”. Então, firmo desde logo que, não sendo da área médica, não tenho pretensão de invadir o conhecimento alheio, embora presenciemos como rotina, especialmente nas coisas do governo, uma espécie de chafurdo de competência em que por força das nomeações políticas, os “quadrados” são invadidos, aviltados e distorcidos.
Ouso tratar, pois, da crise sanitária global provocada pelo vírus chinês responsável pela COVID-19 que em cinco meses mudou a história da humanidade, impondo aos governos nacionais um padrão de enfrentamento orientado pela OMS – Organização Mundial da Saúde, órgão vinculado à ONU – Organização das Nações Unidas, que trancafiou em casa a maior parte da população. A bem da verdade, não é exatamente um enfrentamento, mas uma fuga do vírus. O “fique em casa” é um ESCONDA-SE.
Por vir da OMS, ostentando o argumento da autoridade, tal sentença apavorante sem precisar de comprovação científica, foi imediatamente absorvida como tal e dominou os meios médicos e de comunicação com uma frequência e intensidade jamais vista. Pergunto-me até agora o que há de científico em ESCONDA-SE, já que isto serve até pra ameaça do mapinguari.
A rigor, não há nada de científico nisso, o vírus não volta pra China se você se esconder. O que se observa é uma tentativa de organização da fila dos poucos hospitais. Cientificamente, o vírus somente seria enfrentado e efetivamente vencido em seus efeitos com a imunização da maior parte da população, seja natural (quando o indivíduo é infectado e cria anticorpos) ou por vacina (quando os anticorpos são estimulados). Fora disso, o ESCONDA-SE quer dizer aguarde tratamento, sabendo-se que, pelo menos até agora, não há cura cientificamente comprovada nos termos exigidos, nem os sistemas nacionais de saúde oferecem capacidade de resposta imediata e eficiente.
No Brasil, o tratamento da COVID-19 parece ao cidadão comum uma mixórdia de protocolos adotados ao alvedrio do médico ou equipes médicas, dependendo do Estado ou cidade, do estágio da doença e da crença e experiência de cada um. Senão, vejamos no quadro abaixo, extraído da OPAS/OMS (ver AQUI) o que diz a mais recente publicação a respeito da COVID-19.
Em relação à Hidroxicloroquina, insistentemente defendida pelo Presidente da República e demonstrada eficaz em inúmeras experiências, ao ponto de, no Piauí, o Ministério Público cobrar do poder público a adoção de seu uso no tratamento da COVID-19, as Diretrizes (ver AQUI) do Ministério da Saúde informam “As evidências identificadas ainda são incipientes para definir uma recomendação. A literatura apresenta três estudos clínicos com resultados divergentes sobre o uso de Hidroxicloroquina. Esses estudos apresentam um pequeno número de participantes e apresentam vieses importantes”. Vale dizer, prescrições de Hidroxicloroquina em qualquer fase da doença são decisões autônomas, de exclusiva responsabilidade do médico em cada caso. No mesmo documento, a Ivermectina é desaconselhada.
Portanto, continuamos na tentativa e erro aguardando o carimbo de uma revista. Importa é não colapsar o sistema. Se a fila for bem organizada, ou seja, se a curva epidemiológica (jornais adoram essa imagem) for achatada, em alguns meses (quantos?) a população será paulatinamente infectada e os doentes tratados com o que há, sendo que o que há é incerto e variado. Muitos morrerão dentro ou fora de seus esconderijos, COM ou DE COVID-19, o que, aliás, impõe outra abordagem. Os mortos serão dezenas, senão centenas de milhões segundo previsões (já refutadas)das Gretas Tundbergs do vírus chinês, ou centenas de milhares segundo a realidade observada.
Este padrão de “tratamento”, com base no ESCONDA-SE, infelizmente não é sustentável no longo prazo e é aí que por efeito midiático, ou por incompreensão mesma da extensão do problema, surge a afirmação pueril, de serventia demagógica, “vamos primeiro salvar vidas, depois cuidamos da economia”, sugerindo um trade-off inexistente. Vida e economia são indissociáveis, vez que da economia depende a preservação da vida humana e, obviamente, sem ela não existe economia.
Neste sentido, seria somente tolo se não fosse trágico, tentar separar a defesa da vida da economia. Nessa mesma linha, vi com espanto e vergonha alheia uma publicidade na TV, mostrando caixões e imagens fúnebres ameaçando o cidadão comum. Já desnorteado, deprimido, desempregado, faminto e abusado por decisões legais(?) que lhe afrontam a liberdade e a propriedade num verdadeiro pisotear de seus direitos fundamentais, ele é aterrorizado pelo Estado. Querem levá-lo à loucura, sabichões de M*?
Aos paranóicos do ESCONDA-SE, pergunto de onde sairão os recursos que pagarão todos os sistemas que garantem seus esconderijos e seus empregos. Seria da Casa da Moeda? Como pensam em reorganizar os sistemas públicos, todos com demanda ampliada quando gritarem o APAREÇA? Mais saúde pública, mais educação pública, mais transporte público, mais segurança pública, todo “mais” deixará de ser palavra de ordem de sindicalista em manifestação mortadela, para frequentar seriamente as mesas de decisão econômica de todos os governos que, obrigatoriamente, se dedicarão a encontrar saída razoável sem afundar o pé na jaca do Keynesianismo irresponsável defendido por alguns incautos.
Serão milhões de desempregados cujo número em cada país cresce e se solidifica a cada concessão que os governos fazem ao ESCONDA-SE, muitas delas inaceitáveis. A demagogia e o “politicamente correto” suprimem a racionalidade de longo prazo e jogam sobre o futuro um ônus cuja dimensão sequer advinham.
O suprassumo do pânico do ESCONDA-SE foi eleger os serviços essenciais a serem liberados, seguindo modelagem do Imperial College, aquele instituto britânico que ERROU TODAS as previsões. Basicamente, policia, saúde e suprimento alimentar foram liberados, além de algumas outras poucas. Ora, ora. Se a questão é sanitária, essa seleção de atividades não deveria contemplar as de menor risco à saúde? Determinados serviços de baixíssimo risco foram fechados por quê?
Resguardados os trabalhadores idosos, os imunodeprimidos, os portadores de comorbidades, enfim, os mais vulneráveis, e cumpridos os protocolos de proteção básica como desinfecção, distanciamento, máscaras etc., qualquer atividade de baixo risco deveria ser liberada, os empregos preservados e mantida a geração de renda, minimizando o impacto na vida das pessoas e o futuro esforço do retorno à normalidade.
Nessas condições, por que a moça da lojinha não pode me vender uma capinha ou consertar meu telefone quebrado? Por que o lavador de carros da esquina tem que ficar parado? O isolamento social radical experimentado em Nova York, gerou em domicílio e casas de repouso 84% dos explosivos números de óbitos na cidade, enquanto, na outra ponta, na Suécia, que apenas recomendou o distanciamento social das pessoas nas ruas liberadas, os índices de mortalidade são bem inferiores. A respeito do isolamento social, um estudo recente, publicado em preprint pela medRxiv, ligada à Yale University, conclui “As políticas de bloqueio total nos países da Europa Ocidental não têm impactos evidentes na epidemia de COVID-19”. Pois é.
No Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, estados máximos em normatização do isolamento, onde tiranetes de primeira hora experimentam seus instintos, atentando contra os direitos fundamentais sempre que podem, apresentam os piores indicadores. O Estado de Minas Gerais, ali do lado, bem menos coercitivo em relação ao setor privado, exibe índices muito mais aceitáveis.
De fato, muitos mais pessoas verdadeiramente morrerão. Não mais de COVID-19, mas de fome e desnutrição pela escassez de renda, tratados à míngua perante o precário sistema público de saúde ainda mais pressionado pelos que sairão dos planos de saúde, agredidos e assassinados pela violência explosiva, por suicídio face ao desemprego, o empobrecimento e a destruição de sonhos e projetos de vida.
A ONU estima em aumento de 100% no número de vítimas da fome no pós-COVID-19, algo como mais 130 milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo o jornal britânico The Thelegraph, a UNICEF estima em 1,2 milhões as crianças mortas devido ao lockdown. Quantos deles no Brasil? Faça as contas. Para se ter uma ideia, até aqui, segundo a Confederação Nacional da Indústria – CNI, 40% dos trabalhadores perderam 100% da renda, ou seja, caíram literalmente nas costas do Estado, cuja arrecadação de impostos diminuiu drasticamente comprometendo a capacidade de financiamento dos programas de proteção social.
De acordo com a gerente do FMI, mais de 170 países, Brasil no meio, terão crescimento negativo do PIB este ano. A expectativa em relação ao Brasil já é próxima de 6% negativos. Nunca antes, nem na estupidez da Dilma, isto aconteceu. Se considerarmos que havia para 2010 uma previsão de crescimento positivo de 2%, temos um impacto negativo superior a 7%, o que em qualquer circunstâncias é catastrófico, especialmente para quem vinha ainda lentamente se recuperando do desastre petista. Não precisaria que governadores, com a ajuda de seus aliados no Congresso, no STF e na mídia, piorassem o quadro com medidas de viés autoritário de retardo da retomada da economia, por mero interesse político.
Assistimos diariamente a pressão sobre o Presidente da República, entre outros motivos por se preocupar publicamente em não colapsar de vez a economia brasileira. A tática, tão infame quanto antinacional é solapar a economia para em seguida jogar a conta e a culpa do caos no Governo Federal. Governadores chegam a soldar as portas de lojas e prender seus donos, assaltam vendedor de sorvetes na rua, reduzem ao mínimo a própria receita e berram SOCORRO! queremos grana! E a grana está indo, urgentemente, para compras SEM licitação, campo fértil para o desvario com o dinheiro público.
Depois do MENSALÃO e do PETROLÃO, já se anuncia um COVIDÃO dos governos estaduais, resultante de compras superfaturadas, favorecimentos e recebimento de equipamentos imprestáveis, uma verdadeira farra que já chama a atenção e engrossa processos em 11 estados e no DF, segundo o Jornal “O Estado de São Paulo”. Para surpresa de ninguém, os canalhas não ficam em casa na pandemia. Atentemos.
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