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Tempo perdido

Por
Roberto Feres

Nunca endeusei Sergio Moro quando era o juiz da Lava Jato. Sempre me pareceu que aquela imagem de onisciência e onipotência sobre a operação foi construída na estratégia de defesa dos acusados. Juízes decidem sobre pedidos das partes, fundamentadas nas provas. Sua projeção se deveu ao teatro produzido para desviar a atenção sobre os crimes e tratar a questão jurídica como mais uma disputa meramente política, e encampado pela mídia sempre à busca de um herói nacional.


Tenho minha convicção pessoal, formada por conhecer um pouquinho do funcionamento das operações policiais, do relacionamento entre a investigação e o Ministério Público e de ambos com os juízes, que a Lava-Jato estabeleceu sim um marco na forma de perseguir o crime no Brasil. Muitos dos procedimentos e atitudes que permitiram isso, entretanto, têm pouquíssimo a ver com pessoas e foram determinadas por condições locais apropriadas.


Os juízes, procuradores e policiais são, antes de mais nada, servidores federais que passaram em concursos públicos e tomaram posse inicialmente onde havia vaga, geralmente em Estados do Norte, nas regiões de fronteira, em cidades do interior. Com o tempo e a experiência, esses profissionais se removem, naturalmente, para seus locais de origem. Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre estão entre os destinos mais desejados. Por isso, a quarta região do Tribunal Regional Federal – TRF-4 se destaca em efetividade. Alí foram desenvolvidos sistemas que tornam o trâmite dos processos muito mais ágil e a comunicação entre os órgãos muito mais eficiente.


Enquanto as pilhas de documentos em papel sabotam o trabalho de investigação dos crimes em geral pelo país, os sistemas informatizados e o uso racional da tecnologia são eficientemente empregados pelas diversas equipes da Operação. Somente assim foi possível colecionar e analisar a imensa quantidade de dados e documentos arrecadados nas diversas fases.
Quando surgiu a notícia de que Bolsonaro convidou Moro para o Ministério da Justiça eu torci que não fosse. Me lembrei de quando Lula convidou Marina para o Meio Ambiente e eu dizia que ela, como senadora e tendo a projeção internacional que havia conquistado, servia melhor ao país continuando no Legislativo.


Aqui no Acre a gente costuma dizer que de dentro da clareira não se tem a visão da floresta. De Curitiba, Moro certamente enxergava a possibilidade de oferecer sua experiência para que a legislação penal fosse melhorada em diversos aspectos. Atuando num ambiente de excelência, não devia fazer ideia das mazelas das demais regiões do país. Fora da clareira, deve ter notado que o que lhe parecia floresta na verdade é um pântano gigantesco.


Por ora, perdemos um bom juiz e o governo perdeu um importante elo de credibilidade. No jogo para a platéia, a tentativa da comunicação oficial é de reverter o descrédito imputando-lhe adjetivos como desleal e ingrato. Francamente, nada do que ele disse e mostrou ao sair me surpreendeu. Fez foi ficar muito tempo protegendo a pasta de interferências desastrosas. No mais, muito do que seria necessário para que a segurança pública do Brasil saia do modelo arcaico que conserva há 200 anos ficará para outro governo.




 


 


Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas.


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