A proposta de hoje é visualizar a situação do Acre em relação ao seu comércio externo, seja com o mercado internacional, como também suas relações entre todos os estados e o Distrito Federal. Acreditamos que a inserção do Acre no contexto nacional pode ser captada através dos fluxos de comércio interestadual e internacional. Vamos focalizar as relações comerciais em dois anos, 2017 e 2018. A escolha desses anos foi em função dos dados disponibilizados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), que publicou em seu site (https://www.confaz.fazenda.gov.br/), em 17/12/2019, o boletim Balança Comercial Interestadual, com informações sobre o comportamento do comércio entre as unidades federativas. O documento permite que sejam feitos estudos comparativos entres estados, o respectivo resultado global e o resultado da balança individualizados. Os dados do comércio internacional são disponibilizados mensalmente pelo Ministério da Economia (http://comexstat.mdic.gov.br/).
Antes, vamos situar a economia acreana, utilizando o Produto Interno Bruto (PIB), que conforme o IBGE, variou positivamente 77,2% no período 2002-2017, obtendo o sexto maior crescimento relativo, dentre os estados da federação, com um crescimento médio de 3,9% ao ano. No mesmo período, o Brasil avançou somente 42,5% com uma média anual de 2,4% ao ano. O PIB do Acre em 2017 (último ano disponibilizado pelo IBGE), era pouco mais de R$ 14,271 bilhões, com um PIB per capita de R$ 17.201,95, valor que corresponde a somente 54,3% do valor do PIB per capita do Brasil que era de R$ 31.702,25.
Como vimos, o PIB do Acre cresceu mais que o nacional entre 2002 e 2017. Porém, quando analisados os dados do seu comércio externo, vemos uma situação de déficit que, em 2017, foi quase 36% do PIB.
ACRE: INDICADORES DO COMÉRCIO INTERESTADUAL E INTERNACIONAL EM 2017 e 2018
Indicadores | 2017 (R$) | 2018 (R$) |
Exportações para o mercado externo | 71.754.236,00 | 154.258.305,00 |
Importações do mercado externo | 6.664.312,00 | 10.709.799,00 |
Saldo/déficit da Balança comercial internacional | 65.089.924,00 | 143.548.506,00 |
Exportações para o mercado interno | 1.405.234.714,00 | 1.647.420.996,00 |
Importações do Mercado Interno | 6.530.926.624,00 | 7.091.017.664,00 |
Saldo/déficit da Balança interestadual | -5.125.691.910,00 | -5.443.596.668,00 |
Saldo/déficit do comércio internacional e interestadual | -5.060.601.986,00 | -5.300.048.162,00 |
Fontes: CONFAZ e ME
As transações interestaduais constituem importante fonte de demanda e oferta de bens e serviços para a população acreana. A balança comercial internacional foi superavitária nos dois anos analisados, mas os valores ainda são inexpressivos e incapazes de atenuar o déficit verificado no mercado interestadual. Os principais parceiros comerciais do Acre nos dois anos analisados (2017 e 2018), estão contidos na tabela abaixo. Pode-se perceber que Rondônia, São Paulo, Mato Grosso e Goiás, juntos, representaram quase 66% de todas as transações nesses dois anos. No período, os únicos estados da federação em que o Acre foi superavitário foram Roraima e Piauí. Com eles, o Acre alcançou um superávit de pouco mais de 5 milhões e 300 mil reais no período.
ACRE: PRINCIPAIS PARCEIROS NO COMÉRCIO INTERESTADUAL EM 2017 E 2018
ESTADOS | IMPORTAÇÕES (R$) | EXPORTAÇÕES (R$) | DÉFICIT/SUPERÁVIT (R$) |
Rondônia (28,2%) | 3.599.449.719,00 | 622.291.661,00 | -2.977.158.058,00 |
São Paulo (22,4%) | 3.077.152.002,00 | 705.642.659,00 | -2.371.509.343,00 |
Goiás (9,0%) | 988.555.068,00 | 34.896.274,00 | -953.658.794,00 |
Mato Grosso (6,3%) | 860.646.805,00 | 194.840.423,00 | -665.806.382,00 |
Demais estados (34,1%) | 5.096.140.694,00 | 1.494.984.693 | -3.601.156.001,00 |
Fonte: CONFAZ
O CONFAZ fica ainda a no dever a discriminação dos valores por produtos para que o empresariado local e os governos possam melhorar os seus planejamentos na busca de melhor equilíbrio da nossa balança comercial. O nosso conhecimento sobre a nossa realidade econômica nos indica que a pauta das exportações acreanas, seja para o mercado internacional, seja para o mercado interestadual é fortemente calcada nos produtos da pecuária, principalmente a carne bovina e nos produtos de origem florestal (madeira e castanha), apesar de já se perceber nas estatísticas as exportações de milho e soja para o mercado externo e os derivados da mandioca para o mercado interno.
No Brasil, dos 27 estados, somente 10 em 2017 e 08 em 2018, conseguiram apresentar superávit no comércio interestadual. Portanto ser deficitário nesse comércio não é privilégio do Acre. Acreditamos que temos capacidade para crescer muito mais. Por fim, por meio das informações apresentadas sobre as especificidades do Acre quanto à dinâmica espacial e o volume do seu comércio externo, entende-se que se possa contribuir para os planejamentos empresarial e governamental, além de melhor avaliar os impactos de políticas de desenvolvimento regional traçadas para melhorar a sua competitividade.
Orlando Sabino escreve às quintas-feiras no ac24horas.