Na história da humanidade, a ignorância já levou muita gente que acreditava na ciência a arder na fogueira. Não é à toa que existem provérbios como “santa ignorância”.
No caso específico do Brasil, se há registros, eu “passei batido”, e quem souber por favor me informe.
Não lembro e nem li, acerca de quaisquer momentos da nossa história nos quais a ignorância tenha disputado em pé de igualdade com a ciência, como agora, na travessia dessa infeliz pandemia de coronavírus.
Sem vacinas ou remédios comprovadamente eficientes, navegamos sem norte. Os versos da belíssima poesia cantada por Simone nunca foram tão atuais: “Como será amanhã? Responda quem puder/ O que irá me acontecer?/ O meu destino será/ Como Deus quiser/ Como será?”
Eu, sinceramente, tenho medo. Não sei se meu organismo estaria dentro da estatística dos que resistem.
Nos lugares onde os governos e o povo não trombam com a ciência não se tem notícias de realização de passeatas, carreatas, tampouco da ideologização política do coronavírus em favor do afrouxamento das barreiras sanitárias.
O que assistimos são governantes preocupados, radicalizando na adoção de medidas de isolamento e distanciamento das pessoas como a única maneira de evitar que o vírus se alastre descontroladamente e atinja um número muito superior à capacidade de atendimento das estruturas de saúde.
Aliás, as teorias econômicas terão de se atualizar, pois no berço do liberalismo econômico, o primeiro-ministro inglês, Boris Jhonson, se derreteu em elogios à saúde pública depois de sair de uma UTI.
Espero que os coveiros do SUS, a partir do exemplo bretão, revejam seus conceitos sobre saúde universal.
Ainda que a ciência desconheça a natureza do vírus e não disponha de armas para enfrentá-lo tête-à-tête, os cálculos elementares de progressão geométrica da matemática são suficientes e confiáveis para calcular que quanto mais gente em filas, em cinemas, nas ruas; quanto mais apertos de mãos, mais gente espirrando e expelindo gotículas de salivas na cara uns dos outros, maiores serão as possibilidades de transmissão.
Mesmo sendo redundante, é preciso relembrar que a suspensão do funcionamento de atividades não essenciais não é um capricho de governos e infectologistas competentes e preocupados com a população. É uma providência disponível para salvar os consumidores delas da catástrofe anunciada.
Do lado do bom senso, os leitos, as UTIs e máquinas de respiração são unidades constantes diante de uma variável desconhecida, que são os pacientes possíveis de serem afetados.
Do lado dos cuidadosos está o apreço pela vida; do lado da ignorância, a teoria do “achismo”.
Uma frase perfeita copiada de uma rede social: “As pessoas vão se dar conta da gravidade quando os números de transformarem em nomes. Vizinho, pai, irmã, amigo, colega de trabalho”.
Sem nenhum constrangimento e sem qualquer ensaio científico, turma do “achismo” fala que o vírus já circulou e está nos dando tchau, posto que a população já adquiriu os anticorpos para combatê-los.
Paradoxalmente, nosso presidente se anula, ao tempo que se pronuncia em rede nacional de rádio e TV apoiando as recomendações do Ministério da Saúde e da OMS e depois comparece em locais públicos como se isso não representasse uma perigosa correia de transmissão. Coisa de doido, mesmo.
No Acre, o governador Gladson Cameli tem se mostrado firme e até da oposição arrancou aplausos.
Evidente que a comparação desses eventos com a pandemia é desproporcional, mas os únicos momentos onde a ignorância prevaleceu em grupos sociais localizados foi com o “investidores” da Telexfree, que ainda duvidam da pirâmide financeira, e dos saquinhos anti-mofo contidos nos colchões vendidos pelas rede de lojas Gazin, cujos boatos se espalharam como aquilo fosse “terra de cemitério”, resultado de um “pacto” do dono com o “capeta” para impulsionar as vendas.
Luiz Calixto escreve todas às quarta-feiras no ac24horas.
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