A sabedoria lusitana eternizou um ditado popular: “os extremos se encontram”. Pode até parecer contraditório, mas é verdadeiro.
No caso da política brasileira atual, o fanatismo político é um dos pontos de interseções mais visível desse infeliz encontro, sempre marcado pelo desprezo à democracia e à ciência.
Se não bastasse a terra deixada arrasada pelos sucessivos e vergonhosos escândalos de corrupção, o PT abriu o caminho para um deputado medíocre, do subterrâneo do Congresso Nacional, emergir como o salvador da pátria e o pai de todas as virtudes.
Em verdade, esses extremos sempre se valeram do fanatismo de seus seguidores alienados para insultar desafetos.
No Acre, não é necessário dar muitos passos para trás para relembrar como o PT se referia aos seus adoradores e como rotulava e perseguia seus opositores.
O estrato social formado pelas “pessoas de bem” era composto exclusivamente pelos que não discordavam em nada da receita companheira.
Até cair em desgraça, se o comando partidário dissesse que pau era pedra não adiantava contrapor-se ao bando fanáticos: pau era pedra e pronto.
Quem estivesse fora desse radar era crucificado politicamente e considerado do time que “‘remava para trás”, “inimigo do projeto” e “desagregador”.
Em nível nacional, o adversário invisível do projeto petista era a tal “elite”, embora a história brasileira não contemple outro período no qual os banqueiros tenham auferido exorbitantes lucros.
O sujeito poderia ser até um “Zé Ninguém”, mas se fosse contra o PT, imediata e automaticamente, passava a ser considerado um integrante do alto clero da elite brasileira.
Em tempos de Bolsonaro nada mudou. O fanatismo não apenas prosseguiu como se aprofundou com o agravante do componente religioso.
Nunca se usou tanto em vão o santo nome de Deus.
Conhecidos “pastores”, especialistas e hábeis em tomar dinheiro de fiéis em troca de salvação, são influentes e assíduos frequentadores do palácio do planalto.
As milícias digitais atuam freneticamente nas redes sociais para espalhar notícias falsas.
Politicamente, até nas sombras os bolsonaristas enxergam a ameaça do comunismo. E é perda de tempo tentar lembrar-lhes que o Partido Comunista não atingiu sequer o número de votos necessários para superar a cláusula de barreira para existir, de fato, como partido político.
Se há um perigo que o Brasil não corre é o de ser dominado por comunistas e socialistas.
O fanatismo transformou gente que vive na fila do SUS e faz parte do Cadastro Social Único em ardoroso defensor das teses de “direita”.
Na travessia dessa pandemia de coronavírus, Bolsonaro insiste em contrariar as recomendações de seu próprio ministério ao “ tocar” a população para o matadouro e, mesmo assim, ainda tem razoável apoio popular.
Na falta de argumentos consistentes e inteligentes, qualquer um que se posicionar contra as maluquices de Bolsonaro é considerado comunista ou petista.
Isso faz parte da estratégia: pelo legado que deixaram é fácil combater o petismo.
Aliás, nem são necessários muitos argumentos para sair vencedor dessa peleja.
No entanto, o tempo se encarregará de mostrar que no Brasil há mais gente sem viseira do que fanáticos petistas e bolsonaristas.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas.
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