Alegando que a pandemia do coronavírus é uma “gripezinha de nada” a ser enfrentadas “como homem” e, ainda, que pessoas com histórico atlético como o próprio não seriam afetadas, o presidente Jair Bolsonaro tem embalado os seguidores de sua seita a desobedecer as recomendações de seu próprio Ministério da Saúde.
Na ausência de vacinas e remédios para imunizar e curar os pacientes contaminados, renomados médicos e cientistas têm recomendado o isolamento social como a única fórmula conhecida e eficiente para conter a expansão geométrica do vírus.
Aqui no Acre, o infectologista Thor Dantas tem emprestado seus conhecimentos também na divulgação de vídeos informativos. Em alguns deles o médico quase pede “pelo amor de Deus” que o povo fique em casa, pois o avanço exponencial congestionará o sistema de saúde e muitos internados não terão direito a sequer a misericórdia de um ventilador para não morrer sufocado.
Não há outra saída senão parar a sociedade e suas atividades econômicas, deixando em movimento apenas o estritamente essencial e sob severas restrições.
Bolsonaro e seus seguidores amestrados se apegam a dados sem nenhum rigor científico para desobedecer e desafiar à ciência e ao bom senso.
Como é possível enfrentar “como homem” um vírus invisível a olho nu, que se propaga até a partir de um cordial aperto de mãos ou de um singelo beijo no rosto? Qual o controle que se pode ter numa feira livre frequentada diariamente por milhares de pessoas?
Óbvio que a recessão decorrente dessa brusca freada na economia causará desemprego e perde renda. Todavia, é exatamente nesse momento que o governo deve intervir com seu “airbag” de medidas protetoras para evitar que o choque destroce os agentes econômicos. O estado brasileiro, alimentado pelos impostos recolhidos do povo, existe para isso.
Nessas crises os instrumentos de política fiscal e monetária tem de sair dos compêndios e pranchetas de teorias.
Mas o Brasil não estará só nessa situação. As grandes potências mundiais também estão no mesmo barco. O capital mundial se encarregará de arranjar as saídas.
No caso brasileiro, a situação se agrava. Além da pandemia virótica, temos de enfrentar outra tão mais grave: a pandemia de ignorância legitimada pelo voto.
Ainda que seja o óbvio, é inconcebível a um presidente abrir a boca para cuspir que “um dia vai morrer de qualquer jeito”.
E como dizia minha querida vozinha: “duvi de ó dó” que você que conseguiu chegar ao final deste texto considere a morte algo banal se o velório for de um parente seu.
Luiz Calixto escreve todas às quartas-feiras no ac24horas