Um dos efeitos mais rapidamente sentidos pela população durante a ocorrência de desastres é a subida dos preços, especialmente dos gêneros de maior necessidade, como alimentos e produtos de limpeza. No Acre, foi assim, quando ocorreu a última grande enchente do Rio Madeira, em 2014, que isolou o estado, por via terrestre, do restante do país.
Naquela ocasião, a escassez gerada no estado pelo fenômeno natural provocou uma alta nos preços que, segundo a opinião do maior entendido no assunto – o consumidor -, mesmo depois da crise temporária jamais retornaram ao patamar em que estavam antes da enchente histórica. Com a pandemia de coronavírus, há o temor de que a mesma coisa aconteça, o que já aparenta ser fato.
Com a gigantesca crise que assola o planeta na atualidade, além do medo de contrair a covid-19, a população receia ficar desabastecida de itens essenciais e promove uma correria frenética aos mercados em busca de estocar alimentos e materiais de limpeza e higiene pessoal, principalmente. O fenômeno pode ser responsável por outros dois: a carência dos produtos mais essenciais e a majoração dos preços nas gôndolas dos supermercados.
Em Xapuri, onde os consumidores, a exemplo do restante do Acre, não encontram produtos que se tornaram “virais”, como o álcool em gel e as máscaras descartáveis, têm se denunciado, via redes sociais, o aumento exorbitante no preço de alguns produtos, como, por exemplo, o ovo, cuja cartela com 30 unidades tem sido vendida entre R$ 16 e R$ 20, onde pode ser encontrado.
Mas onde é que se origina a alta de preços? No oportunismo dos comerciantes e fornecedores ou existem razões maiores, ligadas ou não à crise pandêmica, para o encarecimento dos produtos? O ac24horas conversou com dois empresários do ramo de mercados em Xapuri e ouviu deles explicações parecidas para a elevação de alguns preços. Ambos descartam que haja qualquer alteração abusiva de preços em seus estabelecimentos.
Com relação ao aumento no preço do ovo, os comerciantes afirmam que têm feito as últimas compras com reajustes que, segundo explicação dos fornecedores, se deram em razão da escassez e alta de preços nos insumos, fator que teria afetado também o frango. O crescimento da procura pelo ovo na segunda quinzena de março, um provável efeito da pandemia, também é apontado como motivo para a valorização do produto.
Página na internet dedicada ao mercado de ovos diz que, em março, o produto teve uma elevação de 15,8%, índice motivado de um lado, pelo forte incremento no giro do produto no comércio varejista e, de outro, por uma dificuldade dos avicultores em atender a demanda existente no atual momento. No entanto, o índice atual não tem nada de extraordinário já que em março de 2011, 2014 e 2017 houve evolução de 25,6%, 21,3% e 17,5%, respectivamente.
Um dos comerciantes com quem o ac24horas conversou – eles optaram por não ser identificados para evitar polêmicas nas redes sociais em torno do tema – afirmou que falta “senso ético” dos consumidores quando criticam os supermercados por supostas alterações abusivas de preços ao mesmo tempo em que buscam comprar mais do que necessitam, o que, segundo ele, tanto contribui para inflacionar os preços quanto para que outras pessoas não tenham acesso a produtos em escassez, como ocorre, por exemplo, com o álcool em gel.
“Existe a tendência de se protestar contra aquilo o que as pessoas entendem que lhes prejudica, mas não se pensa no próximo, que pode estar sentindo a necessidade de algo que essas pessoas compraram em demasia e estocaram. O comércio não tem o objetivo apenas de lucrar, mas também o de manter as pessoas abastecidas e garantir que os produtos possam estar disponíveis para todos. É por isso que nos mantemos de portas abertas, com funcionários se expondo a riscos para atender os clientes”, disse.
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