“Carioquização” do território de fronteira confirma que o Acre está entre a maior rota de tráfico de drogas do mundo. Luz vermelha volta a ser acesa, repressão não é o único remédio. Com média acima da nacional, 897 presos para cada 100 mil habitantes, dois são executados por dia. A disputa é pelo controle do mercado Colombiano.
O que o coronel Paulo Cézar, secretário de estado de Segurança Pública se negou a revelar na Biblioteca Pública durante o lançamento do programa Acre pela Vida e a assinatura de uma Carta de Intenções entre instituições do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, diz respeito a uma zona sem fronteira, no Rio Solimões, que se consolidou o principal corredor de entrada de drogas no Brasil. “As facções estão no Acre e se consolidaram nos muitos caminhos da fronteira”, disse o secretário de estado antes de se negar a apresentar mais dados.
Observando o clima de constrangimento – parece que esqueceram de combinar o enredo com Paulo Cézar – o governador Gladson Cameli tomou o microfone do secretário e convocou uma reunião secreta, à portas fechadas, no Palácio Rio Branco.
Segundo trecho da carta assinada ainda na Biblioteca Pública, onde todos posaram para foto oficial, o Estado Acre possui a maior média carcerária do país, com 897 presos por cada 100 mil habitantes, com uma população desempregada que ultrapassa 10% da economicamente ativa. Entre o dia 1 de janeiro e 5 de fevereiro, mais de 200 pessoas foram presas, a maioria jovens entre 15 e 29 anos. Os números confirmam que somente a repressão não é capaz de vencer o crime organizado.
O que o comando da Segurança Pública revelou no primeiro andar do Palácio Rio Branco é que mesmo com todos os investimentos realizados nas forças policiais, as facções se consolidaram em território acreano, na chamada “carioquização”, entrada do Acre na rota internacional do tráfico de drogas.
Na guerra travada diariamente em todo o Estado, seis municípios liderados por Rio Branco são responsáveis por 80% das execuções entre jovens, um total de 56 entre o dia 1 de janeiro e 5 de fevereiro somente este ano. Uma média de duas mortes violentas por dia.
A localização estratégica do Acre, que se posiciona em uma extensa fronteira com o Peru e a Bolívia, outros grandes produtores de cocaína no mundo e rota de acesso internacional de armas e outras atividades ilícitas, torna a somatória de todos esses fatores, uma fonte de crescimento rápido da Organização denominada Bonde dos 13 e alvo de cobiça e disputa das maiores organizações criminosas nacionais, a facção paulista, Primeiro Comando da Capital (PCC) e a carioca, Comando Vermelho (CV).
O Acre divide espaços com Rondônia, Amazonas e o Ceará. Na fronteira com Brasil e Bolívia, o PCC dá as cartas, controla a faixa que se estende para o sul, até o Paraguai. A grande novidade é a Rota Solimões. Maiores produtores mundiais de drogas, Peru e Colômbia, formam a tríplice fronteira nas cidades de Santa Rosa (Peru), Letícia (Colômbia) e Tabatinga (Amazonas), que se transformou no maior corredor de drogas. Pelos chamados “furos”, caminhos por dentro dos rios e igarapés, os traficantes saem do corredor principal, por esconderijos, no período noturno, e comercializam toneladas de entorpecentes.
É de olho neste corredor que as facções enraizadas no Acre travam diariamente, uma guerra pelo controle de territórios. As informações são da Polícia Federal, apontam que em vilarejos como Santa Rosa (Peru), com apenas 2 mil habitantes, estão os grandes centros de negociações do tráfico internacional. O que está em jogo é a compra de droga da Colômbia.
O governador Gladson Cameli volta para Brasília amanhã (10) com a Carta de Intenções na mala, ele tenta convencer o ministro Sérgio Moro (da Justiça e Segurança Pública) e o vice-presidente Hamilton Mourão, que o governo federal der mais atenção para as fronteiras do estado com a presença das forças federais, entre elas, o Exército. Um grupo de trabalho deve ser montado na próxima terça-feira (11).
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